“E o técnico, não vem?”. Se existe uma frase que marcou o começo da minha trajetória na Tecnologia da Informação (TI) foi essa. Ela mostra tudo que eu teria que encarar dali para frente na área de atuação profissional que escolhi. Eu era uma mulher no meio de vários homens.  

Ainda somos minoria, continuamos fortes e lutando para mudar o cenário predominantemente masculino. Quando iniciei os estudos na área, no curso de informática, na minha sala havia apenas seis mulheres e enfrentávamos o julgamento de superioridade da maioria sexista. Ali começamos a mostrar que estávamos dispostas a ocupar aquele espaço e que nada pode ser minimizado pelo gênero de uma pessoa. Isso tudo lá por volta do ano 2.000.

Precisamos de referências femininas na nossa área que só costuma destacar Steve Jobs e Bill Gates, os fundadores da Apple e da Microsoft, respectivamente. Temos, por exemplo, Ada Lovelace, considerada a primeira programadora da história; Hedy Lamarr, inventora de uma técnica que evita a interceptação de mensagens (salto de frequência); Grace Hopper, programou o primeiro computador digital de larga escala e criou o primeiro compilador; Jean Sammet, criou uma das primeiras linguagens computadorizadas, que entrou em uso pelas mãos da IBM e Radia Perlman, considerada mãe da internet, que desenvolveu protocolo e auxiliou no problema de compartilhamento de arquivos entre computadores. Posso garantir que existem outras mais e, por que não reverenciar todos e todas que contribuíram para o avanço da tecnologia no mundo?

O mundo evolui em uma velocidade impressionante e não existe argumento que possa justificar que tal profissão tem que ser preenchida por esse ou aquele gênero. As pessoas têm que estar e ocupar os empregos e áreas que elas tenham interesse em suas vidas. A negativa não se sustenta mais. O mercado profissional tem reagido de alguma forma contra o machismo e o preconceito, incluída também a questão salarial, porém isso ainda está distante do ponto de equilíbrio.

A competência e destreza dependem de cada pessoa, não do sexo. Não se pode generalizar e dizer que pelo fato de ser mulher, alguém não terá condições de fazer algumas coisas, biologicamente falando, que o homem pode fazer. Se nós conseguimos trabalhar com cólica, ser mãe e fazer uma infinidade de tarefas, por que não ser CEO de uma empresa de tecnologia? São muitas inovações que ocorrem neste mundo e é preciso manter a constante atualização quanto as questões de gênero, que migram para participação igualitária de homens e mulheres na sociedade como um todo.

Depois de atuar na gerência de um grande banco, criei a Itl.tech, que hoje é um dos maiores Canais de Vendas Dell Technologies. Desbravando o empreendedorismo na tecnologia, participei da chegada no Brasil de fabricantes como a DotHill Systems de armazenamento FC; EqualLogic armazenamento ISCSI; Force10 de networking; Compellent de armazenamento FC|ISCI. 

Sou a única mulher a compor o conselho das empresas parceiras da Dell Technologies no Brasil. Participei das últimas edições do  DWEN Dell Women’s Entrepreneur Network, evento que reúne mulheres do mundo todo, trata de empreendedorismo e incentiva e desafia as novas gerações de mulheres a ingressarem na área. E pude perceber que em outros países também é desafiador para as mulheres se posicionarem no setor.

Mesmo sendo ainda um ambiente masculino, precisamos seguir quebrando os estereótipos para engrandecer e fortalecer nossa luta por mais espaço e reconhecimento. Foi desse ideal que nasceu a iniciativa de escrever o livro TI de Salto (Volume I e II). Eu já era autora dos livros “Simplificando TI” e “Impressões Digitais”, quando percebi que podia exaltar a trajetória de mulheres que fazem a diferença no nosso mercado. Desde entusiastas da área, professoras, até CEOs. Elas contam como venceram os obstáculos e criaram uma carreira de sucesso nesse mercado, onde os homens ainda predominam, principalmente nos cargos mais elevados. Mulheres que estão construindo uma história de igualdade entre gêneros e o futuro da Tecnologia. Os dois volumes já contabilizam mais de 40 autoras.

O sucesso foi tanto que o “TI de Salto” está sendo traduzido para outras línguas e vai ajudar ainda mais a dar visibilidade ao importante e grandioso trabalho das mulheres dentro da TI mundo afora. E o volume III já está a caminho, porque não faltam histórias de mulheres inovadoras e competentes no universo da Tecnologia.

A frase inicial desse texto aconteceu em uma reunião com um cliente da minha empresa. Ele ficou bastante incomodado pelo fato de eu ser mulher e CEO, com foco na área comercial, e questionou a ausência de um técnico do sexo masculino na reunião. Eu reagi à discriminação apresentando meu trabalho, conhecimento e competência. O negócio foi fechado! Tenho certeza de que gerei credibilidade e mostrei que um bom profissional não aceita nenhum tipo de rótulo ou preconceito. Afinal a TI é para todos!

*Sylvia Bellio é fundadora de uma empresa de infraestrutura de TI e única mulher no país a fazer parte do conselho de empresas parceiras da Dell. Ela é autora também dos livros “Simplificando TI”, “Impressões Digitais”, “Mulheres Além do Óbvio” e “TI de Salto”

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