A China está realizando testes de lançamento de mísseis a partir de aeronaves hipersônicas situadas em um poderoso túnel de vento; tudo isso enquanto são auxiliadas por braços robóticos. 

Este projeto futurista foi criado pelo Centro de Desenvolvimento e Pesquisa Aerodinâmica da China. Batizado de ‘sistema de trajetória cativa’ (CTS, na sigla em inglês), ele consiste em um equipamento que sustenta e mantém uma aeronave no lugar fazendo uso de braços robóticos, assim permitindo aos pesquisadores testar as possibilidades de inclinação da aeronave em todas as direções possíveis e em altíssimas velocidades, além de analisar como essa a alta velocidade afeta o lançamento de projéteis como mísseis. 

Segundo o jornal South China Morning Post, o sistema abre caminho para o desenvolvimento de um drone bombardeiro hipersônico, ou seja, capaz de exceder os 6190 km/h, ou cinco vezes a velocidade do som. Essa tecnologia faria parte da atual corrida de armas hipersônicas travadas entre a China, a Rússia e os EUA. 

A tecnologia da China 

O túnel, por sua vez, quebra recordes ao gerar ventos com velocidades superiores a 40 mil km/h, ou 33 vezes a velocidade do som. As tecnologias convencionais de túneis de vento usam gás de hidrogênio aquecido, uma substância cara e perigosa em razão de seu potencial explosivo. 

O túnel chinês, contudo, usa o mais seguro e barato gás de nitrogênio em alta pressão para impulsionar um pistão a centenas de quilômetros por hora, comprimindo o ar a fim de gerar ondas de choque quentes e velozes, simulando as condições enfrentadas por aeronaves em velocidades hipersônicas. 

O sistema de trajetória cativa existe desde os anos 1960, usando um pequeno guindaste para afastar objetos de aeronaves em um túnel de vento para simular o desacoplamento de dois objetos em alta velocidade. Contudo, o CTS desenvolvido pela China usa dois braços robóticos, o que proporciona mais flexibilidade e mobilidade. 

“Até agora, os testes de CTS realizados por outros países ofereciam suporte para o movimento de um único corpo, e não havia nenhum exemplo desta tecnologia sendo utilizada na faixa hipersônica”, afirma Lin Jinzhou, membro da equipe responsável pelo projeto. 

As ondas de choque produzidas pelos ventos são muito poderosas, o que significa que os braços robóticos teriam não apenas de suportar a força desses choques, como manter uma margem de erro mínima nos movimentos.

Segundo um artigo publicado na revista chinesa Acta Aerodynamica Sinica, este novo CTS com dois braços permitiu que os pesquisadores simulassem uma descarga a 7428 km/h (seis vezes a velocidade do som) em um túnel estreito, assim analisando como o item liberado se comportou a velocidades extremas.

Ilustração em 3D de um míssil hipersônico | Crédito: Esteban De Armas, via Shutterstock.

Os desafios do projeto

“A questão que se impõe é: o qual difícil é separar a carga da aeronave?”, conta Lin.

Segundo o pesquisador, ondas de choque são formadas entre a aeronave hipersônica e a carga que dela se separa. Essas ondas de choque oscilam entre os dois objetos e podem fazer com que a carga perca velocidade, mude de curso ou até colida contra a aeronave.

Esta pesquisa é crucial para aprimorar a capacidade da China de desenvolver um sistema de transporte em dois estágios que conseguiria chegar a qualquer ponto do planeta em até uma hora por meio de uma grande aeronave hipersônica que carregaria uma arma – ou passageiros – a velocidades extremas, em seguida liberando o objeto a altitudes próximas do espaço.