Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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Com poucos votos livres para Lula conquistar, possibilidade de vitória no primeiro turno é improvável

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Pesquisas apontam possibilidade de eleição presidencial ser decidida em apenas uma etapa, mas a história joga contra a ambição dos petistas

O candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, 22, lidera a disputa eleitoral com 47% das intenções de votos — 14 pontos à frente do segundo colocado, o presidente Jair Bolsonaro (PL) —, já declarou estar confiante que pode vencer o pleito no primeiro turno, no próximo domingo, 2. A afirmação é baseada em algumas pesquisas eleitorais já divulgadas, que chegaram a apontar a possibilidade de, ao considerar apenas os votos válidos, com o descarte de brancos e nulos, Lula alcançar mais de 50% do total já nesta primeira etapa, tornando-se próximo presidente do Brasil. Entretanto, a façanha de vencer a eleição presidencial sem ir ao segundo turno não é comum na história do país, tendo ocorrido pela última vez há mais de 20 anos. Ouvidos pelo site da Jovem Pan, alguns analistas não acreditam que eleição de 2022 será liquidada no começo de outubro, mesmo sem desacreditar da possibilidade apontada pelas pesquisas. “A eleição do ex-presidente Lula no primeiro turno ainda é o cenário mais improvável. A gente tem pesquisas que apontam essa possibilidade, mas todas elas na margem de erro. Lula teria que ter o melhor desempenho registrado nas pesquisas, e Bolsonaro, o pior, para que esse cenário pudesse acontecer. A forma mais segura de fazer uma avaliação não é cravar um resultado, mas entender em que intervalo de percentagem os resultados podem aparecer. Estamos trabalhando com Lula em um patamar perto de 45%, e Bolsonaro no piso de 35%. Provavelmente, o resultado estará nesse intervalo de 10 pontos. Possivelmente, a gente vai, sim, para um segundo turno”, comenta o cientista político Leonardo Barreto.

A última eleição presidencial decidida no primeiro turno foi a de 1998, quando Fernando Henque Cardoso se reelegeu. “Eu acho muito difícil vencer uma eleição em primeiro turno quando dois personagens políticos são tão fortes. Eu custo a crer que isso possa acontecer porque os dois candidatos têm um corpo social muito forte, que deve forçar a última data limite para que o seu representante seja eleito. Acho muito difícil os eleitores do Bolsonaro não se manifestarem, não votarem em massa para que a eleição vá para o segundo turno. Mas, se a gente olha para as pesquisas, os maiores indicativo de intenção de voto quantitativo, a possibilidade existe e está por uma linha muito tênue”, afirma a cientista política Deysi Cioccari.

Ambos especialistas concordam que, para Lula se eleger em primeiro turno, ele precisaria conquistar votos dos outros dois candidatos mais expressivos, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), além de considerar as abstenções e indecisos. “Trinta e cinco por cento dos eleitores do Ciro e 30% da Tebet dizem que podem mudar de voto. Isso é uma quantidade que pode fazer o Lula vencer no primeiro turno, além das abstenções, das pessoas que, na hora da pesquisa, têm vergonha de dizer em quem votar, mas, na verdade, querem votar no Lula ou no Bolsonaro. O voto envergonhado. Existe um percentual muito pequeno de voto que pode variar, e é esse percentual que pode levar o Lula a vencer no primeiro turno”, aponta Cioccari. Já para Barreto, a possibilidade é frágil: “Me parece, especialmente no caso de Ciro Gomes, que uma boa parte dos votos migráveis, que poderiam ir para o Lula, já foram. Isso explica um pouco o baixo desempenho do Ciro nessa eleição. Acredito que tem pouco voto livre para o Lula conquistar. O ex-presidente pode cruzar a linha do primeiro turno na frente, mas dificilmente ele vai vencer no primeiro turno”.

Na história eleitoral do Brasil, desde que as eleições diretas para presidente foram reestabelecidas, há um cenário em que vencedores de primeiro turno também vencem em segundo turno. Se olharmos para as pesquisas do Datafolha divulgadas a aproximadamente dez dias antes do primeiro turno nas cinco eleições dos últimos 20 anos, todos os candidatos que lideravam a essa altura ficaram na frente no primeiro turno e foram eleitos depois. A essa distância da votação, em 2002, Lula liderava o Datafolha com 44% das intenções de votos; em 2006, ele foi a 50%; em 2010, foi a vez de Dilma Rousseff com 49%; em 2014, ela tinha 40%; e em 2018, Bolsonaro tinha 28%, na frente de todos os oponentes daquele ano. Por outro lado, há também na história eleitoral brasileira um quadro em que todos os presidentes que tentaram a reeleição foram vitoriosos. “A gente não pode utilizar o passado como uma regra determinista. Presidentes que tentaram reeleição sempre venceram. Alguma parte da história vai ser quebrada agora”, enfatiza Leonardo Barreto.

“Em um mês, há a possibilidade de que muita coisa aconteça. Não apenas que novas ideias possam ser apresentadas como também situações inusitadas. Então, sim, existe uma maior probabilidade, maior chance, do ex-presidente Lula vencer esta eleição, mas é probabilidade. Isso significa que há outra possibilidade, que é Bolsonaro conseguir uma reação que ainda não existe. É possível falar hoje que Lula é favorito, especialmente porque, em todas as séries de pesquisas, há pouca dúvida de que ele habita esse patamar de 40% dos votos. Em um eventual segundo turno, Bolsonaro teria que apresentar um fato novo para virar a eleição. E provavelmente não seria um fato novo sobre o Lula. Ele teria que apresentar algum evento, algum programa, alguma ideia nova que mobilizasse as pessoas e virasse, inclusive, votos que hoje estão com Lula. Existe espaço de disputa ainda, que é mais favorável a Lula, mas é nesse espaço que a competição eleitoral ocorre”, completou o cientista.

Sobre esse fato novo, necessário para o crescimento de Bolsonaro a ponto de virar a eleição a seu favor, a pesquisadora Deysi Cioccari diz acreditar que, necessariamente, teria que ser de outra ordem, que não das propostas. “Em primeiro turno, o Bolsonaro não ganha mais. O que ele precisa fazer, se quiser ter alguma chance de reeleição, é conquistar o voto do Sudeste e das mulheres, que são coisas que, naturalmente, ele não consegue fazer, principalmente o voto das mulheres. Toda vez que tenta fazer um aceno a essa base de eleitores, ele derrapa, e derrapa feio. Segundo turno é uma eleição nova, é uma campanha nova. E, se não houver nenhum fato significativo, por exemplo o que está acontecendo agora com o ACM Neto na Bahia, que está perdendo votos porque se declarou pardo. Sem nenhum fato extraordinário — a gente percebe que as duas campanhas estão evitando ao máximo isso —, pelos números, a gente pode presumir que Lula vence, mesmo que vá para o segundo turno. Mas aqui é Brasil: segundo turno é uma nova campanha”, declara a cientista política.

Fonte: Jovem Pan News

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