Setor se tornou autossuficiente por sua contribuição na economia e conta com expressiva representação política para barrar pautas contra o avanço das operações
A pouco mais de uma semana antes do segundo turno das eleições de 2022, os candidatos à Presidência Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscam aumentar suas margens de voto ao conquistar apoiadores em diversos setores. Dentro do Congresso Nacional, a Bancada do Agro é uma das mais expressivas e deve se fortalecer na nova legislatura. Apesar de apoios declarados por algumas organizações e indivíduos, economistas e associações observam que empresas agro buscam mais um projeto de governo que ofereça liberdade para atuar dentro do mercado do que endossar personalidades políticas específicas. O agronegócio brasileiro é um setor muito importante ao PIB e politicamente bem representado, de acordo com co-head de investimentos da Arton Advisors, Raphael Vieira. Isso traz uma dificuldade de implementação de qualquer política ou medida que vá contra os interesses do setor. “É um peso para qualquer novo governo que eventualmente venha atrapalhar o setor. O agronegócio só vem crescendo nos últimos anos. Mesmo tendo mudança brusca de política, é um setor que é muito representativo em inclusão social e é o motor de crescimento do Brasil. Nossa balança comercial positiva se deve ao agro. Um governante teria mais a perder mexendo no setor. Olhamos o mercado há mais de dez anos e ele é muito resiliente. Não vemos a possibilidade de mudanças políticas terem interferência tão grande por ser um braço econômico tão desenvolvido e relevante”, observa.
“O agro é um setor que está acima de qualquer gestor”, afirma Ricardo Nicodemos, presidente da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA). Para ele, independente do candidato que seja eleito, o novo presidente deve dar atenção para ajudar a manter o segmento nos trilhos. “Nós vivemos um momento delicado e cada um tem dito o que quer. Qualquer mudança radical que tire essa locomotiva do caminho certamente refletirá na economia. O agronegócio se tornou autossuficiente tendo em vista a contribuição na economia. Haja o que houver, o governo deve observar”, pontua. Otto Schumacher, diretor da MCassab Nutrição, complementa que, independentemente de quem ganhar, o setor não vai mudar a velocidade e os investimentos para conquistar mercado. “Quando a gente olha para o agro, olha no viés do liberalismo econômico. Quando o mercado tem a liberdade de operar é muito saudável. Nenhuma medida social é mais impactante do que a economia crescendo, o que tem um grande papel do agro, e isso leva a inclusão social”, afirma.
Mestre em economia e professor de macroeconomia aplicada ao agronegócio, José Wandemberg Almeida afirma que os últimos quatro anos indicam uma crescente atenção ao setor do agronegócio e seu impacto na política econômica e que há um desafio grande a ser vencido, a despeito do resultado das eleições. “A perspectiva é de que, em caso de reeleição, o setor possa agregar ainda mais com a mão do governo federal ajudando. A continuidade viria a ajudar a manter o agronegócio em um patamar de destaque internacional. O presidente vai ter uma responsabilidade ainda maior de manter o agronegócio competitivo. Em relação a um novo governo entrando, vai ser necessário rediscutir essas questões, o setor vai ter que demonstrar novamente sua importância, e o novo governante deve entender o peso que o agro tem no cenário internacional. Isso é necessário para poder aumentar e melhorar os mercados, levando o país a manter sua competitividade. De qualquer forma, mesmo com o agronegócio mais robusto e competitivo, o governo vai ter que estender a mão para ajudar no crescimento”, observa.
O posicionamento político do atual presidente Jair Bolsonaro é atrativo para o setor. Presidente da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon), Mauricio Velloso acredita que estas eleições colocam em jogo a possibilidade de um futuro pujante ou trágico. “Existem dois caminhos: um que joga no buraco os avanços que tivemos até agora e outro que construtivo. Bolsonaro anuncia com muita transparência suas intenções de governo e como as ações positivas tomadas serão melhoradas, sempre buscando o equilíbrio da economia interna e dando mais equidade para a distribuição interna de renda. O outro candidato promete aventuras trágicas e irresponsáveis. O setor vê tudo isso com apreensão por causa da insegurança jurídica criada pela possibilidade de eleição do Lula. O agro é inovador nas atividades, mas tradicionalista. O trabalho precisa de um horizonte longo em que é possível fazer planejamentos de forma crível, sem instabilidade politica e econômica. Não temos possibilidade de pensar em algo diferente do Bolsonaro, independentemente de gostar ou não do presidente. Eu não acredito que fosse possível dar continuidade a esse desempenho positivo no setor agropecuário em caso de eleição de Lula. Teríamos um efeito cascata devastador que afetaria todo o sistema econômico e social”, argumenta.
Em seu plano para o novo mandato, Jair Bolsonaro indica mais possibilidades de atuação para o setor privado, em parcerias público-privadas, mantendo a política de mercado livre. Já o projeto de Lula prevê uma maior presença do Estado, sem explicitar possibilidades de ação para a iniciativa privada, e propõe a regulação do setor. No âmbito político, pautas de direita tendem a setor favoráveis aos projetos do agro, o que indica uma preferência à reeleição do atual presidente. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manteve sua representatividade no Congresso Nacional, com a reeleição da maior parte dos deputados e senadores, e endossou a continuidade de Bolsonaro. Já Lula conquistou um importante apoio do ex-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Marcello Brito.
Fonte: Jovem Pan News
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