Um recente estudo liderado pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, descobriu um grande número de genes associados à dislexia, transtorno hereditário de origem neurobiológica que dificulta a aprendizagem da leitura e escrita. Ao total, 42 variantes genéticas foram identificadas durante a pesquisa, considerada a maior já feita sobre a condição. 

A dislexia é conhecida por ocorrer em famílias, sendo caracterizada como uma condição genética, ou seja, o estudo reforça a hereditariedade. Contudo, pouco se sabia sobre a relação dos genes — ou quais as células específicas do DNA — se ligavam ao distúrbio. De acordo com os pesquisadores, as descobertas irão ajudar a compreender a parte biológica de algumas crianças diante de dificuldades no âmbito educacional, colaborando com o diagnóstico.

O estudo envolveu mais de 50 mil adultos com dislexia; mais de um milhão sem o diagnóstico também foi incluído como grupo de controle — para fins de comparação. Os cientistas testaram a associação entre milhões de variantes genéticas com status de dislexia e, das 42 encontradas, 15 já haviam sido associadas em pesquisas anteriores a condições de neurodesenvolvimento, como o atraso na linguagem, habilidades de pensamento e desempenho acadêmico.

As outras 27, consideradas inéditas, foram ligadas especialmente à capacidade de ler e escrever. Muitas mostraram associação também com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), o que reforçou a relação entre os dois diagnósticos. Uma quantidade pequena paralela a condições psiquiátricas também foi observada. 

dislexia
Imagem: shutterstock/Robert Kneschke

“Nossas descobertas mostram que diferenças genéticas comuns têm efeitos muito semelhantes em meninos e meninas, e que existe uma ligação genética entre dislexia e ambidestria [pessoa igualmente habilidosa com ambas as partes do corpo]”, acrescentou a pesquisadora principal, Michelle Luciano, da Escola de Filosofia, Psicologia e Ciências da Linguagem da Universidade de Edimburgo. 

 “Trabalhos anteriores sugeriram que algumas estruturas cerebrais podem ser alteradas em pessoas com dislexia, mas não encontramos evidências de que os genes expliquem isso. Nossos resultados também sugerem que a dislexia está intimamente relacionada geneticamente ao desempenho em testes de leitura e ortografia, reforçando a importância de testes padronizados na identificação da dislexia.” 

Segundo a Associação Brasileira de Dislexia (ABD), o distúrbio tem maior incidência nas salas de aula e atinge entre 5% e 17% da população mundial. No Brasil, mais de 80% dos casos são hereditários. Não há uma causa clara ou específica para as diferenças no sistema cerebral dos portadores do distúrbio. 

Coincidentemente, ou não, o atual estudo foi publicado na revista científica Nature Genetics e divulgado pelo Medical Xpress agora em outubro, mês de conscientização sobre a dislexia. 

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