Um surto de tuberculose em meados de 2000 na Carolina do Norte chamou atenção de pesquisadores: uma pessoa que havia contraído a doença durante uma viagem ao Vietnã a transmitiu para mais seis pessoas no trabalho. Dessas, o exame de quatro apontou um tipo de tuberculose rara, registrada há milhões de anos, e que consegue afetar, além dos pulmões, os ossos.
Chamada de tuberculose esquelética ou doença de Pott (ou mal de Pott), é um tipo de condição extrapulmonar que atinge especificamente a coluna vertebral, podendo deixar sequelas para o resto da vida. O tipo de tuberculose óssea já havia sido identificado em múmias egípcias de 9.000 anos, e em algumas regiões bem afastadas, mas até então não estava claro se ela já teria cruzado barreiras geográficas.
No caso dos infectados na Carolina do Norte, “isso [era] muito mais do que 2%. Sou epidemiologista e especialista em ensaios clínicos e fiquei coçando a cabeça [para entender]”, disse o médico e um dos autores do estudo, Jason Stout, da Duke University.
Segundo o artigo, publicado na revista científica Cell, as chances de o tipo da doença voltar aleatoriamente eram muito poucas e, só após anos do surto, Scout e equipe decidiram estudar o caso e o patógeno, a fim de buscar uma explicação sobre o que torna alguns tipos de tuberculose mais móveis dentro do corpo humano do que outros. Os resultados da pesquisa foram divulgados este mês.
Os cientistas compararam a cepa da tuberculose esquelética com outras 225 tipos de bactérias que podem levar ao desenvolvimento da doença. Eles descobriram que o surto foi causado por uma cepa da linhagem 1, que foi uma das primeiras formas de tuberculose a surgir. Ao decodificar o gene, a equipe constatou que ele possui, na íntegra, a variante EsxM, a qual é a responsável por viabilizar que a doença viaje pelo corpo e alcance a coluna; em testes realizados com peixes, os pesquisadores observaram que as cepas da tuberculose comum se deslocam no organismo duas vezes menos que a bactéria da linhagem 1.
Conforme divulgado pelo Science Alert, a cepa da linhagem 1 é responsável por uma grande carga de doenças, mas está geograficamente restrita a países que fazem fronteira com o Oceano Índico — por isso a surpresa quando o tipo de doença chegou aos EUA. Hoje, apenas 2% dos casos de tuberculose são do tipo vertebral.
Com o estudo, que permitiu ainda sequenciar 3.236 linhagens diferentes de tuberculose, foi possível determinar que a evolução da doença (com o passar dos anos e mutações) trouxe vantagens, já que em todas as linhagens mais modernas o gene EsxM está silenciado. Por outro lado, as mutações deram às variantes outros “poderes”, como o alto índice de contágio, resistência nos pulmões e níveis elevados de concentração no ar.
Fonte: Olhar Digital
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