Acadêmicos e pesquisadores de diversas instituições analisaram restos mortais de uma carpa de 2 metros de comprimento, em Israel, e descobriram sinais de técnicas de cozimento feitas por humanos pré-históricos há cerca de 780 mil anos. Neste caso, o cozimento é definido como a capacidade de processar alimentos, a partir do controle da temperatura.

Até agora, a evidência mais antiga de cocção data de aproximadamente 170 mil anos atrás. O debate sobre o início da aplicação dessa técnica tem sido alvo de muita discussão científica por mais de um século. O Dr. Zohar e o Dr. Prevost, que participaram do estudo, apontaram que essa descoberta diz muito sobre a importância dos peixes na dieta do seres humanos e na estabilidade econômica de sua organização.

Além disso, a equipe de pesquisa foi capaz de reconstruir, pela primeira vez, a população de peixes do antigo Lago Hula, em Israel, e mostrar que o lago tinha espécies de peixes que se extinguiram ao longo do tempo. Esses peixes de água doce foram encontrados em grande quantidade e demonstram a importância desses animais para o sustento do homem pré-histórico, bem como ilustram a capacidade dos humanos pré-históricos de controlar o fogo para cozinhar alimentos e sua compreensão dos benefícios de cozinhar peixe antes de comê-lo.

No estudo, após a análise do esmalte dos dentes desses peixes, os pesquisadores conseguiram provar que esses animais, capturados no antigo Lago Hula, foram expostos a temperaturas adequadas de cozimento, e não simplesmente expostos ao fogo à revelia. Até agora, as evidências do uso do fogo para cozinhar tinham sido limitadas a determinados locais associados ao surgimento do homo sapiens.

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Imagem: Um prato com dois peixes inteiros, maçãs e cenouras. Créditos: Lunov Mykola/Shutterstock

Segundo o Professor Goren-Inbar, “o cozimento de peixes é evidente durante um período tão longo e ininterrupto, o que indica uma tradição contínua de cozinhar alimentos e pode estar até mesmo relacionada com altas capacidades cognitivas dos caçadores-coletores da região”. O professor alegou que provavelmente esses grupos estavam profundamente familiarizados com seu ambiente e com os recursos disponíveis. “Ganhar a habilidade necessária para cozinhar alimentos marca um avanço evolutivo significativo, pois forneceu um meio adicional para fazer o uso ideal dos recursos alimentares disponíveis”, acrescentou Goren-Inbar.

A cocção de alimentos pode ter favorecido o desenvolvimento cerebral de humanos

A equipe observou que cozinhar os alimentos (reduzir o consumo de alimentos crus e aumentar o consumo de alimentos cozidos) teve implicações importantes para o desenvolvimento e o comportamento humano. Cabe destacar que comer alimentos cozidos reduziu a energia corporal empenhada na digestão, o que permitiu o desenvolvimento de outros sistemas. Além disso, mudanças visuais foram percebidas, como as alterações estruturais da mandíbula e do crânio. Alguns cientistas acreditam no desenvolvimento cerebral humano à cocção e ao consumo de peixes.

É provável que o consumo e a busca por peixes foi o primeiro passo na rota dos humanos pré-históricos para fora da África e aponta como era a relação entre o homem, o meio ambiente, o clima e a migração. O uso do fogo também foi determinante para apontar os caminhos dessas relações. Agora, os cientistas esperam encontrar mais locais e instrumentos que corroborem com essa descoberta.

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