O evento mais esperado do ano finalmente chegou: a Copa do Mundo 2022. Neste domingo (20) acontece a abertura oficial do campeonato, que nesta edição acontece no Catar, marcando a realização da primeira disputa do tipo conduzida no Oriente Médio. E a pergunta de milhões que paira na cabeça do brasileiro agora é: será que o Hexa vem? Seu coração está preparado para tanta emoção após quatro anos da última eliminação?
Embora a preocupação com o Hexa seja válida, ainda mais depois do anúncio da convocação da seleção (confira aqui), há um tópico muito importante atrelado ao tema futebol: saúde, e não estamos falando somente do quadro clínico dos jogadores, mas dos torcedores.
Não há nada mais original no Brasil que a paixão pelo futebol, sendo algo cultural, verdadeiro e histórico. Um estudo realizado em 2017 por pesquisadores da Universidade de Coimbra comprovou que o sentimento entre torcedor e time é o mesmo entre casais apaixonados, mensurarando a realidade e profundidade da sensação. A pesquisa foi publicada na Social Cognitive and Affective Neuroscience.
Por outro lado, assim como nos relacionamentos, conjugais ou não, torcedores também estão sujeitos a conflitos e emoções tão fortes a ponto de desencadear níveis extremos de estresse e ansiedade.
Futebol e ataques cardíacos
Para quem não se lembra, em 2019, após o título do Flamengo na Libertadores, dois torcedores morreram em decorrência de problemas cardíacos após grande estresse emocional, considerado um gatilho, principalmente para pessoas com doenças do coração ou com pressão alta. De acordo com estudo realizado pela American Heart Association, a combinação de hipertensão e estresse (também chamada de hipertensão emocional) é responsável por 15% dos casos de infarto.
Na Copa do Mundo de 2014 — essa é quase impossível um brasileiro não lembrar —, onde disputaram a final a Alemanha e Argentina (Brasil foi eliminado com o famoso 7 × 1 para a Alemanha), um estudo observou que, a taxa de internações por ataques cardíacos, bem como a mortalidade devido ao problema, foi consideravelmente alta durante o evento futebolístico — na época ocorreu entre junho e julho e a Alemanha levou o título por 1 × 0.
Entre os jogadores, o caso também não é tão raro e, embora não ocorra por questões emocionais, também merece atenção. Em uma entrevista ao Olhar Digital, a cardiologista Natasha Caldas explicou que um coração forte não quer dizer que ele seja saudável. Sobre ataques cardíacos em jogadores, a médica fez um alerta a respeito do exagero de exercícios físicos e como funciona a vida de atletas que, mesmo tendo bons hábitos, acabam sofrendo mortes súbitas.
A seguir, conheça jogadores que sofreram infarto: Serginho, zagueiro do São Caetano teve um ataque cardíaco em campo, em 2004, e morreu no hospital.
Marc-Vivien-Foé, volante camaronês, teve um mal súbito e morreu durante uma partida, em 2003 — sua autopsia revelou que ele tinha um problema hereditário chamado cardiomiopatia hipertrófica, que aumenta o risco de ataques cardíacos durante a prática esportiva.
Outro caso foi o de Miklos Fehér, atacante do Benfica, de Portugal, ele era uma das maiores promessas do futebol húngaro, mas morreu após um ataque cardíaco também em campo.
Na relação de jogadores brasileiros há ainda o Washington, ídolo do Fluminense e Athletico-PR, que ficou conhecido como ‘Coração Valente’ devido aos problemas cardíacos. Ele precisou passar por um cateterismo e uma angioplastia, foi aconselhado a abandonar o futebol aos 27 anos, segundo reportagem do Lance, mas insistiu nos gramados e ainda quebrou o recorde de gols em uma edição do Brasileirão pelo clube paranaense.
Tivemos ainda Éverton Costa, ex-Vasco e Santos, que teve uma arritmia cardíaca em 2014 durante a Copa do Brasil. Com 28 anos, ele precisou implantar um marca-passo e, infelizmente, não conseguiu mais voltar à vida esportista. Muitos também se lembrarão do Doni, ex-goleiro que atuou pela seleção brasileira em 2010. O ex-futebolista chegou a ficar no ranking dos melhores goleiros do mundo, mas se aposentou em 2013, com 34 anos, após sofrer uma parada cardiorrespiratória e descobrir ter arritmia.
“Coração é um músculo, igual o braço, se você o trabalha muito, ele vai crescer, ele vai hipertrofiar e, aí, eu posso não ter o fluxo adequado de sangue para o resto do corpo porque esse coração está muito forte”, disse a especialista, ressaltando que problemas do coração não se restringem apenas ao infarto.
“Tem pressão, rede elétrica e estrutura. Podemos ter um coração muito bem formado, mas por algum problema genético me faz ter maior tendência a desenvolver arritmia [por exemplo].”
Segundo a cardiologista, atletas são submetidos a exames para rastrear todo tipo de problema, principalmente os que possam interferir no desempenho ou prejudicar o esportista. Entretanto, isso não significa que ele não desenvolva doenças cardíacas ao decorrer da carreira.
Torcedores podem sofrer infarto durante a Copa do Mundo?
Estudos como o realizado com os torcedores da Alemanha corroboram que as fortes emoções causadas por uma partida de futebol podem, sim, desencadear uma reação prejudicial ao corpo: como arritmias e infartos. Dentro disso, há também as crises de ansiedade, angústia, tristeza, explosões de alegria, excitação, raiva e tudo mais que afete o emocional e o cérebro — consequentemente transbordando ao físico.
Segundo o Dr. André Gasparoto, médico cardiologista da BP — A Beneficência Portuguesa de São Paulo, em entrevista ao Olhar Digital, as emoções geradas pelo esporte são extremamente válidas, sejam elas boas ou ruins, já que ambas aumentam a frequência cardíaca, a pressão arterial e o número de respirações por minuto. Contudo, as alterações são fisiológicas, ou seja, não geram mal à saúde a ponto de causar um infarto em pessoas saudáveis e sem problemas prévios.
“Podemos infartar, sim, mas não é frequente. Especialmente se estiver com a saúde em dia, com exames preventivos adequados para sua idade e comorbidades.”
Para o cardiologista Carlos Rassi, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, também em conversa com nosso site, infartos enquanto assistimos a um jogo de futebol estão ligados a altas doses de adrenalina, que o corpo libera devido às emoções. E claro que, pessoas com problemas cardíacos prévios são mais suscetíveis, “como pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica, que já possuem stents coronários ou que já infartaram”.
“Emoções fortes podem fazer com que as glândulas adrenais liberem grande quantidade de adrenalina na circulação sanguínea. Isto faz com que o coração aumente sua força de contração e o número de batimentos. Essas mudanças fisiológicas aumentam a necessidade de sangue para o músculo cardíaco e, caso o paciente tenha coronárias com obstrução parcial, podemos ter um evento isquêmico. Outra possibilidade é a instabilização das placas ateroscleróticas coronárias, que podem se romper e formar trombos”, explicou o médico.
66% dos brasileiros irão triplicar o consumo de bebidas durante a Copa
Uma recente pesquisa do sitedeapostasonline.net com torcedores do Brasil revelou que 66% dos brasileiros pretendem triplicar as doses de álcool durante os jogos da Copa do Mundo 2022, com destaque para a região sudeste. A pesquisa questionou 1.000 torcedores de todas as regiões do país e também perguntou se todos estariam dispostos a gastar mais durante o evento esportivo; a maioria disse que sim, com destaque novamente para o sudeste, com um gasto de bebidas acima da média nacional.
Em números, o estudo calculou que o consumo de bebidas passe de 152 por mês para 461 durante os jogos da Copa. Entre homens e mulheres, o grupo das meninas parece estar mais disposto a beber (34% a mais), mas os homens pretendem gastar mais, totalizando R$ 701,4 para eles durante toda a competição (só com bebidas), contra R$ 589 para as mulheres.
Não é novidade para ninguém as consequências do consumo de álcool, seja pelo consumo a longo prazo ou pelo excesso. Gasparoto destacou que as bebidas também têm relação com a saúde do coração, sendo mais responsáveis por casos de arritmias, mas também contribuindo com o aumento de chances de infarto em pessoas com maior risco cardiovascular. “Quando as bebidas alcoólicas são ingeridas junto a energéticos, os riscos aumentam”, pontuou.
Com a intenção de um consumo maior de álcool, principalmente no que diz respeito aos jovens, vem também o consumo de energéticos, como lembrou o médico. Aqui, vale destacar um caso que alvoroçou a internet em 2014 e acendeu um alerta aos consumidores: o irmão do MC Gui, Gustavo Castanheira, de 17 anos, morreu após sofrer uma arritmia cardíaca que resultou em uma parada cardiorrespiratória após um grande consumo de álcool e energético. O jovem não sabia que tinha problemas no coração, já que algumas condições podem ser bem silenciosas.
“Os cuidados que todos devemos ter com o coração para a Copa e para a vida são: praticar atividades físicas regulares, controlar obesidade, cessar tabagismo, dormir bem e realizar seu check-up e acompanhamento médico com regularidade a fim de ter um diagnóstico e tratamento precoce de possíveis comorbidades”, orientou o Dr. Rassi.
Já Gasparoto acrescentou que também é importante se manter hidratado e ter uma alimentação adequada, além de “não deixar de fazer o uso de suas medicações contínuas”, algo “fundamental para aproveitar a Copa da forma mais saudável possível”.
O primeiro jogo do Brasil deve ocorrer no dia 24 (quinta-feira), às 16h. Para a alegria do brasileiro que gosta de manter os rituais de tradição, embora o locutor esportivo mais famoso do Brasil, Galvão Bueno, tenha sido diagnosticado com covid-19 e, por este motivo, não faça a abertura da Copa do Mundo 2022 na Rede Globo como ocorria há anos, ele já passa bem (ufa!) e estará no Catar para narrar a estreia da seleção brasileira e soltar o famoso: “Haja coração!” (reparem, duplo sentido).
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Fonte: Olhar Digital
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