Um estudo de 2021 revelou que a misokinesia (ou misocinesia) é um fenômeno psicológico incrivelmente comum, afetando uma em cada três pessoas da população geral. Liderada pelo autor e psicólogo Sumeet Jaswal, da University of British Columbia (UBC), no Canadá, a pesquisa foi a “primeira exploração científica aprofundada” sobre a condição. 

“[Misokinesia] é definida como uma forte resposta afetiva ou emocional negativa à visão de movimentos pequenos e repetitivos de outra pessoa, como ver alguém mexendo sem pensar com uma mão ou pé”, explicou a equipe ao Scientific Reports, onde o estudo foi publicado

O que é misokinesia? 

Misokinesia, também chamada de misocinesia, é o incomodo aos movimentos repetitivos de outras pessoas. A condição, considerada psicológica e emocional, é paralela a misofonia: distúrbio onde as pessoas ficam irritadas ao ouvir certos sons repetitivos. Ou seja, enquanto a misofonia é a aversão a certos sons, a misocinesia é a aversão a certas movimentações — como aquela pessoa que fica balançando a perna ou o pé sem parar ao seu lado. Segundo a pesquisa, ambas reações podem, inclusive, coexistir em um mesmo indivíduo. 

misokinesia
Imagem: shutterstock/Antonio Guillem

De acordo com o grupo de estudos, embora “faltem pesquisas científicas sobre o assunto”, a atual análise apontou que a condição é muito comum. Conforme divulgado pela Science Alert, o experimento com 4.100 participantes mediu a prevalência de misocinesia em um grupo de universitários e em pessoas da população em geral. O intuito era avaliar os impactos no comportamento e o motivo da manifestação.

“Descobrimos que aproximadamente um terço relatou algum grau de sensibilidade à misocinesia para os comportamentos repetitivos e inquietos de outras pessoas, conforme visto diariamente em suas vidas. Esses resultados apoiam a conclusão de que a sensibilidade à misocinesia não é um fenômeno restrito a populações clínicas, mas sim um desafio social básico e, até então, pouco reconhecido, porém, compartilhado por muitos na população em geral.” 

Para o psicólogo Todd Handy, coautor do artigo, pacientes com misokinesia experimentam sensações de raiva, ansiedade e frustração, bem como a redução do prazer em situações sociais, como no trabalho e ambientes de aprendizado. “Como neurocientista cognitivo visual, isso realmente despertou meu interesse em descobrir o que acontece no cérebro”, contou o especialista, sendo essa a questão de milhões!

E o que acontece no cérebro de quem tem misocinesia? 

Inicialmente, o estudo checou se o distúrbio poderia se originar em sensibilidades atencionais visuais aumentadas, resultando em uma incapacidade de bloquear eventos de distração que ocorrem em sua periferia visual. Mas os resultados foram inconclusivos, ou seja, as evidências não comprovaram que os mecanismos reflexivos visuais contribuem para a misokinesia. 

Por outro lado, os especialistas concordam que a origem deve ser em um nível cognitivo. “Uma possibilidade que queremos explorar é se seus neurônios-espelho estão em jogo. Esses neurônios são ativados quando nos movemos, mas também quando vemos os outros se moverem… Por exemplo, quando você vê alguém se machucar, você também pode estremecer, pois a dor é refletida em seu próprio cérebro”, explicou Jaswal. 

Outra teoria, é que a reação também pode ser resultado de uma extensão; pessoas propensas à misocinesia empatizando de forma negativa e inconsciente com a ansiedade dos inquietos. 

“Uma razão pela qual as pessoas ficam inquietas é porque estão ansiosas ou nervosas, então, quando indivíduos que sofrem de misocinesia veem alguém se inquietando, eles podem espelhar isso e se sentirem ansiosos ou nervosos também”, acrescentou o autor. 

Em suma, a equipe pontuou que, é claro, mais estudos precisam ser feitos, tanto para aprofundamento quanto para checar as possibilidades. Por ora, a pesquisa comprovou que o distúrbio reativo é real, e que é bem mais comum do que pensavam. 

“Para aqueles que sofrem de misocinesia, vocês não estão sozinhos. Seu desafio é comum e é real”, concluiu Handy. 

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