Entre quatro marcadores, Embolo recebe livre dentro da área. O passe que vem rasteiro, da direita, é de Xherdan Shaqiri. Embolo não hesita e, num gesto automático para o centroavante, finaliza. A bola está no fundo da rede. Os quatro marcadores camaroneses ficam atônitos, os suíços comemoram, e Embolo parece sem lugar. O autor do gol levanta as mãos, num gesto de respeito e desculpas, e é abraçado por seus companheiros. O gol é contra o país que nasceu, mas pelo país que o acolheu.
Breel-Donald Embolo, de 25 anos, é nascido em Iaundê, capital de Camarões. O atacante, porém, só viveu em sua terra natal até os 5 anos de idade e depois acabou se mudando para a Europa. Primeiro para a França, depois para a Suíça, onde cresceu, fincou raízes e se identificou.
“Acho que sou provavelmente 60% ou 70% suíço, mais do que sou africano. Eu me sinto muito bem recebido e fiz vários amigos. Tive uma infância muito feliz”. A declaração de Embolo não é desta quinta-feira, é de um ano atrás, mas caberia perfeitamente neste dia, apesar de não ser de agora que o atacante é uma figura controversa e de perfil concorrido pelos periódicos.
“Nós conhecemos a história dele. Eu disse para ele antes do jogo ‘Breel, amizade até o início do jogo, depois eles são seus adversários’. Futebol tem dessas histórias e ele cumpriu sua missão. Estou muito feliz por seu desempenho”, declarou Murat Yakin, técnico da Suíça, desta vez sim, logo após o jogo desta quinta-feira.
O Balotelli dos alpes
As semelhanças não são poucas e, talvez, nem uma mera coincidência. Mas, a incorrência de Embolo não celebrar um gol como Mario Balotelli pregava, afinal um carteiro não celebra a entrega de suas encomendas, é um capricho do destino.
Quando ainda era uma jovem promessa, em seu segundo ano como profissional, Embolo anunciou Balotelli como ídolo. Embolo ainda jogava pelo Basel e fazia uma temporada assombrosa para um jovem de 18 anos, com 17 gols marcados e os primeiros chamados para a seleção suíça. O início meteórico na carreira foi como o do atacante italiano, que é de fato nascido no país, mas vem de origem ganesa.
À imagem e semelhança de Balotelli, Embolo tem até aqui uma carreira cercada de polêmicas. Os problemas são a cada dia variados, desde a perda da carteira de motorista por diferentes indisciplinas, até a participação em uma festa clandestina em plena pandemia. O resultado, assim como Balotelli, é que as polêmicas acabaram muitas vezes refletidas no campo, com a jovem promessa já não tão mais jovem, e sem entregar tudo o que se esperava dela lá quando tudo iniciou.
Ainda, como Balotelli, Embolo exibe os traços da genliadade. Entre o gênio dentro de campo e o gênio fora de campo. Na última Eurocopa já havia sido herói para a Suíça, e voltou a ser na Copa do Mundo. E se fora de campo para alguns é problema, pode também ser solução, como de fato é, para quem ajuda com uma instituição de caridade em Camarões.
A história de Embolo não é, simplesmente, errática ou embolada. É apenas real como a própria vida.
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Fonte: Ogol




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