Um estudo de mais de duas décadas analisou o comportamento de 229 lobos e mostrou que a infecção causada pelo parasitaToxoplasma gondii torna esses animais 46 vezes mais propensos a se tornarem líderes de matilha. Os efeitos que esse parasita causa na natureza ainda são pouco estudados.

Geralmente associado aos gatos, esse parasita microscópico só consegue se reproduzir nos corpos dos felinos, mas pode infectar e prosperar em praticamente todos os animais de sangue quente, o que inclui os seres humanos. Quando esse organismo se aloja em pessoas causa uma doença assintomática – mas potencialmente fatal – chamada toxoplasmose.

Os lobos cinzentos (Canis lupus) do Parque Nacional de Yellowstone podem, às vezes, conviver no mesmo território que os pumas (Puma concolor), portadores do parasita causador da toxoplasmose. É possível que os lobos sejam infectados ocasionalmente ao consumir a carne de pumas mortos ou até mesmo as fezes desses animais.

Durante a pesquisa, ao analisar o sangue desses animais, os pesquisadores descobriram que lobos que compartilhavam território com pumas eram mais propensos a serem infectados com T.gondii. Uma das consequências da infecção era a propensão a se dispersar de sua matilha para um novo território que os lobos infectados adquiriam.

Imagem: Matilha de lobo cinza na floresta. Créditos: Pat-s pictures/Shutterstock

Os machos infectados apresentaram uma probabilidade de 50% de deixar sua matilha em seis meses. Geralmente, os lobos não infectados deixam a matilha com 21 meses. As fêmeas infectadas tinham 25% de chance de deixar sua matilha dentro de 30 meses, em comparação com 48 meses para aquelas que não estavam infectadas.

Os lobos infectados também ficaram muito mais propensos a se tornarem líderes de matilha, já que a toxoplasmose eleva os níveis de testosterona, o que por sua vez poderia levar a uma maior agressividade e dominância, características de um líder de matilha.

Transmissão da toxoplasmose entre gerações de lobos

Cabe destacar que os líderes de matilha são os que se reproduzem, a transmissão do T. gondii pode ser congênita, ou seja, passada de mãe para filho. Além disso, a dinâmica do grupo também pode ser alterada de outras formas. No artigo, os autores destacam que “se os lobos líderes estão infectados com T. gondii e mostram mudanças comportamentais … isso pode criar uma dinâmica em que o comportamento, desencadeado pelo parasita em um lobo, influencia o resto dos lobos da matilha”.

Os pesquisadores destacam que “este estudo demonstra como as interações em nível de comunidade podem afetar o comportamento individual e podem potencialmente aumentar para a tomada de decisões em nível de grupo, biologia populacional e ecologia da comunidade”. Talvez, para os próximos estudos sobre a vida selvagem, seja necessário incorporar as implicações ligadas às infecções parasitárias.