Considerada o ponto de partida para uma nova era da exploração lunar e do espaço profundo, a missão Artemis 1 foi concluída com sucesso no domingo (11), com um mergulho às 14h40 (pelo horário de Brasília) na costa da Baixa Califórnia, estado mexicano que faz fronteira com a Califórnia dos EUA.
A espaçonave reentrou na atmosfera terrestre a uma velocidade de 40 mil km/h, cerca de 32 vezes a velocidade do som, exatos 25 depois de decolar no topo do foguete Space Launch System (SLS) a partir do Centro Espacial Kennedy, da NASA, na Flórida, com o intuito de abrir caminho para a instalação da presença humana na Lua de forma sustentável.
O principal objetivo desse voo não tripulado era circundar nosso satélite natural para testar tecnologias essenciais para todas as outras missões do Programa Artemis, como o megacomplexo veicular formado pelo SLS e a cápsula Orion, além dos sistemas de comunicação e de suporte de vida.
Depois deste, o próximo voo é esperado para 2024, com tripulantes a bordo da missão Artemis 2, que foi projetada para repetir o mesmo circuito, também sem chegar a pousar em solo lunar.
Isso, de fato, só deve acontecer entre 2025 e 2026, com a missão Artemis 3, que finalmente levará a humanidade a pisar de novo na Lua, mais de meio século depois da nossa última visita, feita em 1972, com a missão Apollo 17.
Apollo 17 pousou na Lua exatamente 50 anos antes do retorno da missão Artemis 1 à Terra
Em 7 de dezembro daquele ano, três astronautas foram lançados a bordo do foguete Saturno V: Eugene (Gene) A. Cernan, como comandante, Harrison H. Schmitt, como piloto do módulo lunar Challenger, e Ronald E. Evans, como piloto do módulo de comando América.
No dia 11 (exatamente 50 anos antes do retorno da cápsula Orion à Terra), enquanto Evans permaneceu em órbita, Cernan e Schmitt entraram para a história como os últimos dos 12 homens que colocaram os pés na Lua.
O “ato final” do primeiro programa de exploração lunar da NASA foi digno de aplausos. A área de pouso do módulo Challenger, em um vale cercado de montanhas no limite do Mare Serenitatis (Mar da Serenidade), prometia ser um paraíso geológico a sudoeste das Montanhas Taurus e ao sul da Cratera Littrow. Conhecido como Taurus-Littrow, o local era um vale de piso plano em uma cadeia de montanhas quebrada, repleto de pedras roladas dos planaltos circundantes e inúmeras crateras escuras, provavelmente originadas de material vulcânico.
Apollo 17 tem alguns marcos que merecem destaque. Aquela foi a primeira vez que um cientista pisou na Lua. Geólogo profissional, Schmitt teve a oportunidade de investigar as características locais de perto. Outro fato importante é que essa missão foi a que mais tempo permaneceu na superfície lunar (75 horas). Além disso, foi o primeiro lançamento noturno de uma missão tripulada norte-americana e a última viagem espacial tripulada realizada por qualquer país para além da órbita terrestre.
Entre as amostras coletadas e trazidas para a Terra estava a mais antiga rocha conhecida sem choque (inalterada pelo impacto de meteoritos), chamada Troctolite 76535, que o Compêndio de Amostras Lunares da NASA considera “sem dúvida a amostra mais interessante retornada da Lua”. Com estimados 4,2 bilhões de anos, o exemplar oferece evidências de que, ao mesmo tempo, a Lua, como a Terra, teve um campo magnético gerado por um dínamo em seu núcleo.
Com a ajuda de seu rover, os astronautas registraram 22 horas de tempo de atividade extra-veicular (EVA) durante as quais viajaram mais 36 km, afastando-se até 7,4 km do Challenger, quase no limite do que era considerada a distância máxima para retorno em caso de possível falha do veículo de exploração sobre rodas.
Eles implantaram ou conduziram 10 experimentos científicos, tiraram mais de duas mil fotografias e coletaram cerca de 110 kg de amostras de solo e rocha em 22 locais diferentes.
Foi também por meio desta missão que a imagem mais famosa do planeta Terra foi registrada: a Blue Marble (algo como “bolinha de gude azul”). Saiba mais sobre ela neste link.
“Aqui o homem completou sua primeira exploração da Lua”
Em 14 de dezembro, no final da terceira e última excursão sobre o rover, a dupla televisionou o descerramento de uma placa com a mensagem de despedida: “Aqui, o homem completou sua primeira exploração da Lua, dezembro de 1972. Que o espírito de paz em que ele veio se reflita na vida de toda a humanidade”.
Naquela mesma noite, Cernan deu o último passo da humanidade na Lua (até o momento), às 2h40 da madrugada (pelo horário de Brasília).
O módulo Challenger atracou com o módulo de comando às 22h10. Cerca de quatro horas depois, ele foi descartado, colidindo com a superfície lunar a cerca de 1,7 km/s. Depois de um dia e meio em órbita lunar, período durante o qual os astronautas lançaram um subsatélite, eles acionaram seu motor para retornar à Terra.
A cápsula Apollo 17 caiu no Oceano Pacífico em 19 de dezembro de 1972, às 16h24, após um tempo decorrido da missão de 301 horas, 51 minutos e 59 segundos.
Aquele foi o segundo voo espacial para Cernan e o primeiro para Evans e Schmitt. A tripulação de apoio contava com John Young, Stuart Roosa e Charles Duke. A cápsula do módulo de comando América está em exibição no Centro Espacial Johnson, em Houston, Texas.
Por que não voltamos mais desde então?
Mesmo não tendo levado mais astronautas ao nosso satélite natural, diversos equipamentos já foram mandados para explorar o local sem a necessidade da presença humana. Então, embora não tenhamos, de fato, pisado novamente na Lua, a tecnologia em missões espaciais evoluiu – e muito (a ponto de nem precisarmos estar lá pessoalmente, o que envolve custos muito mais altos).
Os computadores atuais são infinitamente mais poderosos do que os que foram usados na Apollo 11, missão que levou seres humanos para a Lua pela primeira vez. Os equipamentos da espaçonave tinham pouco mais de 4 MB de memória RAM para leitura de dados e uma capacidade de processamento que, atualmente, vemos em laptops para crianças. No entanto, apesar da gigantesca evolução no ramo computacional, ir à Lua continua sendo uma viagem extremamente cara.
Esse é um dos principais motivos de não termos voltado para lá: os custos.
Primeiro, é preciso analisar o contexto do projeto Apollo, no auge da corrida espacial, quando os EUA precisavam provar sua superioridade em relação à então União Soviética, que saiu na frente com o Sputnik (o primeiro satélite em órbita) e Yuri Gagarin (primeiro homem a ir ao espaço).
Com isso, para os norte-americanos, chegar à Lua não era apenas uma experiência científica, mas, principalmente, uma forma de superar seu principal rival naquele momento. Ou seja, pôr os pés em solo lunar era uma questão de honra para os EUA, o que deu à missão um caráter militar – mesmo sendo um investimento financeiro extremamente alto.
Em 1972, com o fim do programa Apollo, o país já havia conquistado seu objetivo, e, para os soviéticos, também não valia mais a pena investir tanto nessa empreitada após a derrota para os rivais americanos.
Assim, outros investimentos espaciais importantes foram feitos, como sondas, telescópios e satélites, e o retorno humano à Lua foi ficando de escanteio, sendo mais barato e menos arriscado enviar missões não tripuladas em vez de colocar astronautas em risco.
E por que, então, estamos voltando à Lua agora? O Programa Artemis foi pensado depois de um momento de baixa para as missões tripuladas da NASA. No governo de Barack Obama, o programa Constellation, iniciado na era George W. Bush, foi encerrado, bem como os ônibus espaciais foram aposentados, devido, principalmente, aos atrasos e ao alto custo do projeto.
Após a aposentadoria do programa dos ônibus espaciais, o congresso dos EUA aprovou que a NASA desenvolvesse um novo foguete para transportar a cápsula Orion (projetada inicialmente para o programa Constellation). Assim, foi concebido o SLS, e o programa Artemis começou a se estabelecer.
Até 2025, é estimado que o programa Artemis vai ter custado US$93 bilhões aos cofres públicos americanos, o que gerou polêmicas e causou atrasos nos planos. Mas, por enquanto, o congresso segue mantendo o financiamento do projeto.
O principal motivo é que as missões da era Apollo não exploraram de maneira profunda o nosso satélite natural, ainda restando diversas áreas pouco analisadas, como os polos, que devem ser o foco inicial das missões Artemis. Outra razão é que, desta vez, diferentemente de 50 anos atrás, o objetivo é consolidar uma “segunda morada” para a espécie humana, com uma base fixa de exploração do espaço profundo.
Isso significa estabelecer uma presença humana sustentável na Lua e ao redor dela, desenvolvendo a infraestrutura que nos permitirá avançar ainda mais no Sistema Solar. Se tudo correr como o planejado, essa instalação que se pretende assentar em solo lunar fará da Lua um verdadeiro trampolim para outros ambientes celestes. E o primeiro alvo é Marte.
A ideia é ousada e envolve também a construção de uma estação espacial na órbita lunar, a Gateway, que vai permitir retornos muito mais simples à Lua. No programa Apollo, a cada nova missão tudo precisava ser feito do zero, o que impactava significativamente os custos.
Vamos acompanhar tudo o que virá a acontecer nos próximos anos com o programa Artemis, que vai nos levar muito mais longe do que jamais estivemos antes e trazer muito mais conhecimento sobre a imensidão do nosso Sistema Solar.
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Fonte: Olhar Digital
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