Croácia, o pequeno país que mescla talento e orgulho nacional para desafiar gigantes nas Copas

Terceiro país menos populoso no Catar 2022, a Croácia chega pela terceira vez a uma semifinal de Copa do Mundo. Como uma espécie de “Uruguai dos Balcãs”, os croatas possuem uma bonita história em Mundiais e terão pela frente um conhecido rival da América do Sul, no caso, a Argentina.

Com cerca de quatro milhões de habitantes, a Croácia possui mais habitantes somente do que País de Gales e o bicampeão do mundo Uruguai entre os participantes desta Copa. Dessa “inferioridade numérica” o país, no entanto, parece encontrar a sua força.

“O Brasil possui 200 milhões de pessoas, nós somos apenas quatro milhões. Então nós somos praticamente o subúrbio de uma grande cidade do Brasil”, disse o técnico Zlatko Dalić antes de sua equipe eliminar a nossa seleção. 

De acordo com a BBC, a Croácia possui 120 mil futebolistas registrados, entre crianças, jovens e profissionais, o que representa 3% da população total do país. A título de comparação, o Brasil tem 1% da população cadastrada.

A construção do país

A Croácia fazia parte da antiga Iugoslávia, que contava também com Eslovênia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro e Macedônia, além das regiões independentes de Kosovo e Voivodina. Em junho de 1991, depois de um plebiscito, Eslovênia e Croácia, através de seus parlamentos, declaram a independência unilateral.

O presidente eleito da Sérvia, Slobodan Milosevic, não aceitou a autonomia das repúblicas e teve início uma longa e sangrenta guerra civil. Ao término do longo conflito, a Croácia foi reconhecida internacionalmente quatro anos depois, em 1995.

“Nunca subestime a Croácia. Nós somos uma pequena nação, mas nós somos corajosos, desafiadores e leais. Sempre daremos tudo que temos, especialmente essa geração de jogadores. Uma coisa é jogar pelos clubes – é uma questão de contratos e prestígio. Mas é algo totalmente diferente representar o seu país, porque isso é patriotismo – é orgulho, é emoção, então é diferente”, explicou Dalić.

A geração de 1998

Como foi reconhecida como nação somente em 1995, a primeira oportunidade da Croácia disputar uma Copa do Mundo aconteceria em 1998, na França. Depois de ficar em segundo lugar no seu grupo nas Eliminatórias europeias, os croatas bateram a Ucrânia no playoff para disputarem seu primeiro mundial.

E a Croácia ficou longe de entrar apenas para participar. Em uma das histórias mais bonitas das Copas, a seleção do Leste Europeu avançou à fase de oitavas de final e não parou mais… Aliás, parou nas semifinais daquela disputa. Depois de eliminar a Alemanha, nas quartas, e sair na frente da anfitriã França nas semis, os croatas sofreram a virada no talvez grande jogo da carreira de Lilian Thuram, autor de dois gols.

Na decisão do terceiro lugar, a Croácia levou a melhor com direito a gol do artilheiro daquela edição da Copa do Mundo. Davor Suker, que atuava no Real Madrid, balançou as redes seis vezes na disputa.

Mas não só do artilheiro vivia aquele time croata. Na defesa, destaque para um ainda jovem Dario Simic, Slaven Bilic e Igor Tudor. O meio-campo era repleto de talento, com jogadores como Prosinecki, Stanic, Jardi e, principalmente, um certo camisa 10 do Milan – Zvonimir Boban.

“É uma grande honra estar aqui. O troféu não é só meu. Quero falar sobre meu ídolo no futebol, capitão da Croácia (Boban), da geração de 1998. Ele foi minha grande inspiração. Aquele time nos fez acreditar que podemos alcançar coisas muito grandes na Copa. Espero que possamos ser o mesmo para outras gerações”, disse Modric quando foi eleito o melhor jogador do mundo.

Um orgulhoso vice

Nas três Copas do Mundo seguintes, a Croácia não teve o mesmo brilho. Em nove partidas de fase de grupos, a seleção venceu apenas três duelos, somou dois empates e ainda totalizou cinco derrotas. A trinca de eliminações, no entanto, era o prelúdio de uma geração tão talentosa quanto a de 1998.

Novamente com o meio-campo como terra fértil, a Croácia de Brozovic, Rakitic e Modric espantou o mundo do futebol pela segunda vez. 20 anos depois, os croatas fizeram ainda melhor. Com desempenho de 100% na fase de grupos, a seleção desbancou Dinamarca e Rússia, nos pênaltis, e na semifinal passou pela campeã do mundo Inglaterra com gol de Mandzucic, outro centroavante histórico da equipe.

Na final, havia uma pedra no meio do caminho. A França, algoz de 1998, não deu qualquer chance à Croácia e, com triunfo por 4 a 2, conquistou o bicampeonato do mundo. Tristeza para a Croácia? Pelo contrário. Após a derrota, os jogadores exibiram orgulhosos a medalha de prata. 

Hermanos no caminho

O rival desta terça-feira (13), a Argentina, é bem conhecido da Croácia. Não só pela imensa maioria dos jogadores atuarem em grandes equipes da Europa, mas sim, pelos encontros das duas seleções em amistosos e até nas Copas.

Até aqui, o retrospecto entre as duas seleções é igual. Duas vitórias para cada lado e um empate. Argentina e Croácia vão se enfrentar pela primeira vez em uma fase de mata-mata e a memória recente é mais feliz para os europeus.

Na Copa do Mundo de 2018, os croatas despacharam os hermanos com facilidade, pelo placar 3 a 0, com direito a um dos mais belos gols daquele Mundial. Luka Modric recebeu próximo a meia-lua, tirou Otamendi para dançar um tango, e fuzilou.

Agora é o duelo que conta, um verdadeiro tira-teima. O embate de quatro anos depois vale mais uma vaga na decisão. Como o Uruguai, terá chegado a vez de outra “pequena grande nação” levantar um troféu de campeão da Copa do Mundo? Como diria Zlatko Dalić, nunca subestime a Croácia.

Fonte: Ogol

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