No início deste mês, a astrônoma amadora brasileira Lorrane Olivlet, a Lolivlet, que já descobriu mais de 50 asteroides em potencial, participou do Space Camp (Acampamento Espacial), nos EUA, uma experiência única e prática para pessoas treinarem como astronautas.

O curso acontece na One Tranquility Base (Uma Base de Tranquilidade, em português), que fica em Huntsville, no estado do Alabama, e abrange diversas áreas científicas, como engenharia, astronáutica e astrofísica

Segundo o site da organização, os participantes “experimentam o futuro das viagens espaciais e treinam para resolver anomalias tecnicamente desafiadoras, a fim de completar sua missão espacial”. Em resumo, o projeto se traduz em um breve treinamento de astronautas, que inclui:

Poucos dias antes de embarcar, Lorrane deu uma entrevista exclusiva para o Olhar Digital, na qual se dizia extremamente entusiasmada para viver essa aventura. “Eles focam bastante em engenharia, principalmente. Tem a parte que é bem parecida com os treinamentos de astronautas, uma outra parte mais voltada para STEAM (sigla em inglês para ciência, tecnologia, engenharia, arte e matemática), com palestras, além de práticas que estou bem empolgada, em que vamos precisar fazer um escudo térmico e construir um minifoguete”.

Já de volta ao Brasil, na sexta-feira (16), Lorrane, que além de astrônoma amadora (apaixonada pelo espaço desde que tinha apenas três anos) é engenheira biomédica, natural de Belo Horizonte (MG), esteve na última edição de 2022 do programa Olhar Espacial para falar tudo sobre essa incrível experiência.

Pessoas de diversos países e idades participar do Space Camp

Lorrane já havia participado do Habitat Marte, única estação análoga ao Planeta Vermelho de todo o Hemisfério Sul, que fica aqui no Brasil, no Rio Grande do Norte. Trata-se de um lugar que simula exatamente todas as condições marcianas, onde os visitantes podem viver experiências similares às de uma verdadeira viagem extraterrestre.

Embora tenha adorado a experiência, assim como outras das quais participou no Brasil, ela diz que nenhuma delas se compara ao Space Camp.

“O Space Camp é muito diferente de tudo o que eu já vi aqui no Brasil. Eles têm uma estrutura que eu acho que vai demorar muito para a gente alcançar”, disse ela. “E é aberto para pessoas de todas as idades. Foi algo que eu fiquei muito surpresa, porque tudo o que eu participo aqui no Brasil, nesta área, geralmente é voltado para um público muito jovem. Lá, não. Só para se ter uma ideia, na minha equipe, eu era a terceira mais nova. As outras pessoas todas eram mais velhas do que eu. E havia pessoas de tudo quanto é país: Nepal, China, Alemanha… E é muito bem feito, eu diria. Tudo funciona numa harmonia muito grande”.

Equipe “Pioneer”, que contou com a presença da brasileira Lorrane Olivlet e mais 11 membros das mais variadas idades e nacionalidades, junto a um dos monitores do curso. Imagem: Space Camp

Treinamento de astronauta tem missões simuladas e microgravidade

Segundo Lorrane, as atividades duravam o dia inteiro, começando às 8h da manhã e terminando às 21h, horário em que eles tinham que dormir. 

Na entrevista, nossa mais famosa caçadora de asteroides contou que participou de duas missões simuladas: uma para a Estação Espacial Internacional (ISS) e a outra para Marte.

“Eles têm uma área semelhante a um Habitat Marte, que é muito bem feita. É tudo como se fosse Marte mesmo. Todo pintado, um design muito legal, os trajes extraveiculares, enfim, não consigo nem explicar”.

Em cada missão simulada, Lorrane assumiu uma função diferente. “Na da ISS, fui Diretora de Missão, ou seja, eu era a pessoa que ‘batia o martelo’ nas decisões. E na outra, eu fui Comandante de Missão. Nas duas, a simulação era completa, com a parte das naves de chegada e tudo mais”.

Ela também revelou que existe uma dinâmica de microgravidade. “A simulação de gravidade reduzida funciona por um sistema parecido com um guindaste, que nos segura a determinada altitude e nós sentimos o corpo mais leve”. 

Uma parte da experiência que merece destaque é o treinamento no giroscópio – dispositivo composto de um disco rígido ou um volante que gira em grande velocidade ao redor de um eixo de revolução e é suspenso de modo a ter liberdade de movimentos. 

Nos treinamentos de astronautas, a pessoa que está no giroscópio utiliza o peso como motor e tem a sensação de “driblar a gravidade”, o que pode provocar náuseas e até perda momentânea de consciência. Não foi o caso de Lorrane.

“Foi engraçado. É algo que dura pouco mais de um minuto. Eu estava achando a experiência tão legal, tão máxima, que não prestava atenção nas perguntas que estavam me fazendo ao mesmo tempo. O bom é que eu não me senti mal, não fiquei enjoada, apenas achei bastante divertido”.

Principal desafio: o idioma

Entre os preparativos para a aventura, enquanto estava no Brasil, Lorrane resolveu começar a correr, para garantir o condicionamento físico, e aprimorar o inglês, para conseguir se comunicar sem problemas.

Esse, segundo ela, foi o maior desafio. “É muito diferente você conversar com brasileiros em inglês e conversar com pessoas de outras nacionalidades. Eu, que achava que estava preparada nesta parte, confesso que passei um pouquinho de vergonha na conversação. Mas, as pessoas todas são muito solícitas e gentis”.

Isso foi fundamental, por exemplo, para uma das dinâmicas que mais encantaram a participante brasileira: o Café da Manhã com Cientista. Trata-se de um encontro com algum profissional da área, durante o café da manhã, para um bate papo descontraído e, ao mesmo tempo, enriquecedor e informativo.

Ela conversou com um militar da reserva das Forças Armadas dos EUA especializado em astrofísica que, de forma muito atenciosa, tirou suas dúvidas e deu dicas preciosas para sua formação e carreira.

Apresentado por Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia — APA; membro da SAB — Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da BRAMON — Rede Brasileira de Observação de Meteoros — e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day Brasil, o programa Olhar Espacial é transmitido ao vivo, todas às sextas-feiras, às 21h, pelos canais oficiais do veículo no YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, LinkedIn e TikTok.

Conforme dito anteriormente, a edição que contou com a participação da Lolivlet foi a última deste ano. O Olhar Espacial volta em 2023, com convidados sempre incríveis e assuntos cada vez mais interessantes no mundo da astronomia.