Montanhas localizadas na atual Cidade do México eram usadas pelos astecas (uma civilização pré-colombiana que se desenvolveu na Mesoamérica entre os séculos 14 e 16) como observatório solar.

De acordo com um estudo publicado semana passada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, ao acompanhar o nascer do Sol contra os picos das montanhas de Sierra Nevada, eles alcançavam uma precisão incrível no monitoramento de variações sazonais no clima, como primaveras secas e monções de verão, e até mesmo contabilizando anos bissextos. 

O horizonte oriental da Bacia do México, visto de (A) Monte Tepeyac, (B) Templo Mayor e (C) a pirâmide de Cuicuilco. As identificações destacam todos os principais marcos horizontais: Tlamacas (Tm), Monte Tlaloc (Tl), Telapon (Te), Papayo (Pa), Iztaccihuatl (Iz) e Popocatepetl (Po). Os discos solares simulados indicam a posição do Sol ao amanhecer durante o solstício de verão (esquerda), equinócio (centro) e solstício de inverno (direita). Créditos: E. Ezcurra, P. Ezcurra e B. Meissner, com base em imagens do Google Earth©.

Tal precisão era fundamental, haja vista que plantar colheitas muito cedo ou tarde demais poderia ser desastroso para as cerca de 3 milhões de pessoas que viviam na então Bacia do México antes da chegada dos espanhóis, em 1519.

“Concluímos que eles devem ter ficado em um único ponto, olhando para o leste de um dia para outro, para dizer a época do ano observando o sol nascente”, disse Exequiel Ezcurra, ecologista da Universidade da Califórnia em Riverside, principal autor da nova pesquisa.

Ezcurra e sua equipe começaram a descobrir esse local único ao analisarem manuscritos mexicas (a civilização que originou os astecas). Os pesquisadores descobriram que esses textos se referiam ao Monte Tlaloc, que fica a leste da Bacia.

Explorando as altas montanhas ao redor da Cidade do México e um templo no cume do Monte Tlaloc, e usando modelos astronômicos computacionais, os cientistas identificaram uma longa calçada no templo que se alinha com o Sol nascente em 24 de fevereiro, que marcava o início do ano novo mexica.

“Nossa hipótese é que eles usaram todo o Vale do México. Seu instrumento de trabalho era a própria Bacia”, disse Ezcurra. “Quando o Sol nascia em um ponto atrás das Serras, eles sabiam que era hora de começar a plantar”.

Esse é o primeiro estudo a sugerir que os mexicas monitoravam o tempo tendo as montanhas como pontos de referência, enquanto usavam o fato de que o Sol, quando visto de um ponto fixo na Terra, não segue a mesma trajetória todos os dias.

A pesquisa revelou que esse era o verdadeiro método de verificação do tempo usado no México antigo – e não era a Pedra do Sol, que muitas vezes é incorretamente descrita como o “calendário asteca”. Ela era usada apenas para fins rituais e cerimoniais e “não tinha nenhum uso prático como um observatório celeste”, disse Ezcurra. 

O estudo também demonstra como uma variedade de métodos pode ser usada para entender o mundo natural. “Os astecas eram tão bons ou melhores quanto os europeus em calcular o tempo, usando seus próprios métodos”, disse o investigador. “Os mesmos objetivos podem ser alcançados de maneiras diferentes. Pode ser difícil ver isso às vezes”.

Segundo o site Space.com, o antigo observatório solar asteca pode ter uma nova função na era moderna, segundo Ezcurra. Embora o Monte Tlaloc não seja mais necessário para a cronometragem, a comparação de imagens ao longo dos anos mostra como a floresta está avançando gradualmente pelas encostas da montanha, possivelmente como resultado de um aumento nas temperaturas médias em altitudes mais baixas.

“Na década de 1940, a linha das árvores estava muito abaixo do cume. Agora, há árvores crescendo no próprio cume”, disse Ezcurra, concluindo que “o que era um observatório para os antigos também poderia ser um observatório para o século 21, para entender as mudanças climáticas globais”.