Cientistas descobriram marcadores de Alzheimer nos cérebros de três espécies diferentes de golfinhos encontrados mortos, encalhados em terra. Segundo informações do Science Alert, o motivo para o encalhamento em massa de cetáceos ainda é um mistério, mas o caso parece corroborar com a teoria da “síndrome do líder doente”, que acredita que o grupo sempre segue a fêmea mais velha e geralmente enferma. 

“Sempre me interessei em responder à pergunta: só os humanos sofrem de demência?”, disse o neurobiólogo Frank Gunn-Moore, da Universidade de St Andrews, na Escócia. “Nossas descobertas respondem a essa pergunta, pois mostram que a potencial patologia associada à demência não é observada apenas em pacientes humanos.” 

O Alzheimer é a causa mais comum de incapacidade cognitiva em humanos idosos, prejudicando gradualmente a memória, o aprendizado e a comunicação. Conforme a bióloga da Universidade de Leiden, Marissa Vacher, ao total, 22 golfinhos encalharam, todos tiveram seus cérebros examinados a fim de encontrar marcadores bioquímicos presentes em humanos com Alzheimer: placas de beta-amiloide e aglomerados de proteínas de tau com hiperfosforilação. 

Eles encontraram os sinais em três golfinhos, cada um de uma espécie diferente: a baleia-piloto de nadadeiras longas (Globicephala melas), o golfinho-de-bico-branco (Lagenorhynchus albirostris) e o golfinho-nariz-de-garrafa comum (Tursiops truncatus). Eles também tinham sinais de envelhecimento, com dentes desgastados ou perdidos e o aumento de matéria cinzenta nos tecidos cerebrais, além de as localizações das lesões cerebrais encontradas combinarem com áreas observadas em humanos com Alzheimer. 

Representação gráfica de doenças degenerativas cerebrais
Representação gráfica de doenças degenerativas cerebrais (Imagem: Naeblys/Shutterstock)

“Ficamos fascinados ao ver mudanças cerebrais em golfinhos idosos semelhantes às do envelhecimento humano e da doença de Alzheimer”, comentou a neurocientista da Universidade de Edimburgo, Tara Spires-Jones. 

Há também uma chance de, no caso do Alzheimer, a desorientação, perda de memória e senso de direção prejudicado ser o responsável por colocar todo o grupo em uma rota mortal até as águas mais rasas.  

“Em humanos, os primeiros sintomas do declínio cognitivo associado à doença de Alzheimer incluem confusão de tempo e lugar, e um senso de direção ruim. Se o líder de um grupo de G. melas sofresse de um declínio cognitivo neurodegenerativo semelhante, isso poderia levar à desorientação, resultando em levar o grupo para águas rasas e subsequente encalhe”, explicaram os cientistas. 

Imagem: Andrea Izzotti/Shutterstock

Contudo, a equipe de estudo destacou que não foi possível comprovar o diagnóstico de Alzheimer, pois não foi viável testar os níveis de comprometimento cognitivo nos animais já mortos.  

Por outro lado, os especialistas também mencionaram que a personalidade sociável dos golfinhos, que interagem inclusive com outras espécies, pode explicar o motivo de a doença conseguir avançar nos animais, dando suporte e chances para que eles sobrevivam muito tempo mesmo doentes, o que não acontece em espécies mais solitárias ou que excluem os mais fracos e suscetíveis a caça. 

“Se essas alterações patológicas contribuem para o encalhe desses animais é uma questão interessante e importante para trabalhos futuros”, concluiu Spires-Jones. A pesquisa foi publicada no European Journal of Neuroscience.