Um dos marcos mais importantes de 2022 em relação à exploração espacial foi, sem dúvida, o impacto da espaçonave DART (sigla em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo) com um sistema binário de asteroides. Vamos relembrar essa grande missão da NASA?

Ilustração 3D mostra como a missão DART colidiu com o asteroide Dimorphos para desviar sua órbita em um teste de redirecionamento. Imagem: Alejo Miranda – Shutterstock

Resumo:

Missão de proteção planetária contra impacto de asteroides

Embora nem Dimorphos (de 163 metros de largura) nem seu companheiro maior (medindo 780 metros), Didymos, estivessem em rota de colisão com a Terra, o procedimento foi um teste de defesa planetária de um método que poderá, eventualmente, nos proteger do ataque de outro asteroide que possa oferecer algum risco em potencial. 

Como a DART era um “cubo” com cerca de 1,3 metros de largura, pesando apenas 550 kg, para o asteroide a colisão foi mais equivalente a um “peteleco” do que a um chute do famoso ex-jogador de futebol Roberto Carlos. Ainda assim, o simples “empurrão” já foi suficiente para influenciar sua trajetória.

Uma semana depois da bem-sucedida ação, identificou-se que Dimorphos soltou nuvem de poeiras e partículas. Telescópios em solo detectaram que os detritos expelidos pelo objeto após a colisão criaram uma espécie de cauda, “transformando” a rocha espacial em um cometa.

Hubble e James Webb registram colisão

Não foram apenas equipamentos terrestres que captaram a colisão entre a DART e o asteroide Dimorphos. O evento também foi registrado pelos telescópios espaciais queridinhos da NASA: o lendário Hubble e o tão aclamado James Webb.

A própria espaçonave contava com uma câmera que fotografou os instantes que antecederam o choque. Além disso, um pequeno satélite italiano denominado LICIACube, disparado pela DART minutos antes do impacto, também fez imagens do acontecimento, por meio de suas duas câmeras, chamadas LUKE (LICIACube Unit Key Explorer) e LEIA (LICIACube Explorer Imaging for Asteroid). 

Impacto espalhou toneladas de detritos no espaço

Após três meses do sucesso da missão DART, os cientistas seguem obtendo dados sobre a colisão, que causou uma espécie de “explosão”.

Com o impacto, a sonda da NASA espalhou cerca de mil toneladas de detritos da rocha no espaço. Segundo a agência, o material ejetado é apenas uma pequena fração da massa de Dimorphos, estimada em cinco milhões de toneladas.

A força transferida para Dimorphos foi 3,6 vezes acima do que seria se a sonda tivesse sido absorvida pelo asteroide, sem ejeção de material. “Se você explodir o material um pouco fora do alvo, haverá força de recuo”, explicou Andy Cheng, cientista da missão e do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (JHU-APL). “O resultado dessa força de recuo é que você coloca mais impulso no alvo e acaba com deflexão maior”.

Cheng completa dizendo que “se você está tentando salvar a Terra, isso faz uma grande diferença, pois aumentaria o tempo disponível para montar defesa ou reduziria o tamanho do projétil necessário”.

Asteroide desviado será investigado pelo menor radar já lançado ao espaço

Dentro de dois a quatro anos, a missão Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), vai conduzir pesquisas detalhadas in loco em Dimorphos e Didymos, com foco especial na cratera deixada pela colisão da missão DART e uma medição precisa da massa do asteroide atingido.

Na ocasião, uma pequena caixa de 10 cm entrará para a história como o menor instrumento de radar a ser pilotado no espaço – e o primeiro do tipo a sondar o interior de um asteroide. 

Instrumento JuRa, da missão HERA, projetada pela Agência Espacial Europeia (ESA) para examinar as consequências da deflexão do asteroide Dimorphos pela missão DART, da NASA. Imagem: Equipe JuRA / UGA

Este instrumento de radar, conectado a um quarteto de antenas de 1,5 m de comprimento, fará parte do CubeSat Juventas, que será lançado para Dimorphos a bordo da espaçonave Hera.

Segundo comunicado da ESA, os dados da missão Hera ajudarão a compreender o experimento de deflexão DART, para que a técnica possa ser repetida se um dia for realmente necessário.