Atualmente, os brasileiros já têm algum grau de acesso ao Open Banking, pelo qual o cliente autoriza o compartilhamento dos seus dados pessoais entre as instituições financeiras. Embora ainda não esteja totalmente difundido, a expectativa é que a medida traga benefícios aos cidadãos, por meio do incentivo à concorrência entre os bancos, que podem oferecer serviços com melhores condições de acordo com o perfil da pessoa.
Nem todos sabem, mas, em outros países, o sistema foi inspirado no Open Health, um modelo em que as informações dos pacientes são compartilhadas com o objetivo de melhorar a prestação de serviço na área da saúde. A pessoa autoriza o uso dos seus dados para aprimorar o atendimento dos estabelecimentos. Aqui no Brasil, o Open Health deve se tornar realidade em breve e unir o SUS (Sistema Único de Saúde) com a rede privada.
Isso significa, por exemplo, que o paciente não precisa repetir exames ou lembrar prontamente de seu histórico caso troque de profissional. Ainda, em caso de acidentes ou emergências, o hospital não terá dificuldade para saber as condições de saúde ou eventuais alergias a medicamentos do paciente, melhorando a qualidade e a agilidade do atendimento.
Esse novo sistema será realidade em médio prazo, a exemplo de outros países. O Brasil precisará se integrar à comunidade internacional. Isso significará uma transformação na cultura organizacional das empresas de saúde, porque as decisões das equipes deverão ser cada vez mais pautadas em grandes volumes de dados, transformados em informações estratégicas. O termo mais utilizado para isso, em inglês, é data-driven culture.
Por exemplo, uma prefeitura ou um hospital pode notar o aumento de casos de uma determinada doença em uma cidade. Então, os profissionais levantam os prontuários e, por meio da ciência de dados, conseguem localizar onde o surto começou e qual é o perfil das pessoas afetadas, viabilizando uma solução mais rápida e eficaz. Para a concretização do Open Health, as barreiras geográficas devem ser levantadas. Portanto, a comunicação entre os sistemas, ou seja, a interoperabilidade, precisa ser viabilizada.
A boa notícia é que as healthtechs têm se tornado grandes aliadas para criar soluções relacionadas ao Open Health. Segundo o Distrito Healthtech Report 2022, o Brasil tem hoje 1.023 startups voltadas para a saúde, das quais 28,44% são focadas em gestão e PEP e 12,46% em acesso à saúde. O relatório destaca o sistema aberto de saúde como uma tendência a curto prazo para o segmento, pois as healthtechs foram um dos pilares para a implementação do Open Health em outros países. Essas start-ups tiveram o papel de apoiar e oferecer ferramentas para a administração pública desenvolver programas e políticas nesse sentido.
Hoje, alguns países como Estados Unidos, Espanha e México já adotam modelos que seguem essas premissas. No entanto, no Brasil, as normas ainda estão em desenvolvimento. Além da falta de uma regulamentação, o Open Health enfrenta alguns desafios para que seja implementado com sucesso. Entre eles, e um dos principais, é a falta de interoperabilidade, ou seja, não há um padrão de coleta, registro e acesso aos dados fornecidos pelos pacientes. Portanto, será necessário definir protocolos únicos para as redes pública e privada, além de promover o treinamento de todos os profissionais.
Também há a expectativa que o Open Health aumente a competitividade na saúde suplementar. As operadoras, mediante as regulamentações necessárias, poderão oferecer serviços personalizados de acordo com as necessidades de cada paciente, já que terão acesso às informações médicas dos clientes. Para isso, será preciso que os integrantes do setor invistam em capacitação e integração para que as diversas áreas saibam como lidar com o grande volume de dados que estarão à disposição.
Pacientes, SUS e rede privada devem se beneficiar do Open Health caso ele seja implementado nos mesmos moldes de outros países e, claro, com as devidas adaptações à realidade brasileira. A expectativa é que o sistema aberto de saúde acelere o desenvolvimento de tecnologias para explorar toda a capacidade e as possibilidades do mercado, entre empresas consolidadas e start-ups, reduzindo custos e aumentando a eficiência.
Valter Lima é CEO da CTC
Fonte: Olhar Digital
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