Um estudo publicado nesta quinta-feira (5) no Cambridge Archaeology Journal investigou pinturas rupestres europeias feitas por seres humanos há cerca de 20 mil anos e levantou a hipótese de que as linhas e pontos que compõem um símbolo em forma de Y podem ser a primeira forma de escrita conhecida na história da humanidade, representando o comportamento das presas.
A equipe de estudiosos sugeriu na pesquisa que esses pontos e linhas aparentemente abstratos, quando posicionados perto de imagens de animais, na verdade, representam um sofisticado sistema de escrita que explica como esses humanos viam as estações de acasalamento e nascimento de importantes espécies. Apesar da conclusão desse estudo, nem todos os pesquisadores da área estão convencidos dessa interpretação.
A paleoantropóloga Mélanie Chang, da Universidade Estadual de Portland, dos EUA, que não esteve envolvida no estudo, declarou à Live Science, que concorda com a avaliação dos pesquisadores de que “as pessoas do Paleolítico Superior tinham a capacidade cognitiva de escrever e manter registros de tempo”. Porém, ela destacou em seu parecer que as “hipóteses dos pesquisadores não são bem apoiadas por seus resultados, e também não abordam interpretações alternativas das marcas que analisaram”.
O primeiro autor do estudo, Bennett Bacon, um pesquisador independente e conservador de móveis com sede em Londres, disse que conhecer as dinâmicas dos grupos de animais era muito importante para desenhar o comportamento daqueles que viviam no Paleolítico Superior, afinal, esses bichos exerciam diversas funções para os seres humanos.
Os vários significados que uma letra pode ter
Curiosamente, o número total de marcas (pontos ou linhas) encontradas em sequência nas cavernas não ultrapassava 13, o que pode indicar que a inscrição tenha relação com os 13 meses lunares em cada ano. A análise estatística dos pesquisadores de mais de 800 sequências de marcas associadas a animais apoia sua ideia – eles encontraram fortes correlações entre o número de marcas e os meses lunares em que o animal específico é conhecido por acasalar.
Para os pesquisadores, o sinal em forma de Y se refere a um evento particular no ciclo de vida de um animal. Análises estatísticas apoiam essa conclusão de que a colocação do sinal em forma de Y em uma série de marcas sinaliza a estação de nascimento de uma espécie animal.
Proto-escrita
A equipe argumentou que “a capacidade de atribuir sinais abstratos a fenômenos no mundo, para registrar eventos passados e prever eventos futuros, foi uma profunda conquista intelectual”. Em busca de encaixar esse sistema de escrita, Bacon e seus colegas disseram que se tratam de uma “proto-escrita”, “um intermediário entre a notação e uma escrita completa”.
Há quem defenda que qualquer hipótese levantada sobre o significado dos símbolos precisa ser devidamente investigada, caso contrário, viram apenas suposições. Além disso, tudo precisa estar bem embasado, pois há processos lógicos seguidos por determinados pesquisadores que não são óbvios ou intuitivos para outros. Chang acredita que o sinal de Y pode representar características anatômicas dos animais e não necessariamente um período. São muitas as especulações e expectativas a respeito desse tema.
Em resumo, Bacon e seus colegas escreveram que “propuseram a existência de um sistema notacional associado a um sujeito animal inequívoco relacionado a eventos biologicamente significativos” e que isso lhes permite “pela primeira vez, entender um sistema notacional paleolítico em sua totalidade”.
Bacon revelou que pretende expandir o trabalho. “Estamos analisando outros sinais”, disse ele. “Em vez de procurar o significado dos signos individuais, o que estamos procurando são as bases linguísticas e cognitivas que sustentam o sistema de ‘escrita’.” Ainda há muito o que conhecer sobre esse sistema e muitos significados para buscar.
Mensagem escrita mais antiga já encontrada
No fim do ano passado, o Olhar Digitalpublicou uma matéria sobre a mensagem considerada mais antiga já encontrada. Ela foi grafada em um tipo de pente de marfim com um alfabeto que, posteriormente, evoluiria para o que conhecemos hoje. O instrumento de dentes finos estava há vários anos em Tel Lachish, uma antiga cidade cananeia que ficava a cerca de 40 quilômetros a sudoeste de Jerusalém, mas só pouco tempo atrás é que os cientistas notaram a existência de 17 letras minúsculas formando a frase “ytš ḥṭ ḏ lqml ś(r w]zqt”, que se traduz aproximadamente em: “Que esta presa arranque os piolhos do cabelo e da barba” – por mais estranho que pareça!
Fonte: Olhar Digital
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