Terça-feira, Novembro 26, 2024
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Rússia e Xi Jinping representam ameaça para a segurança e economia global em 2023

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Guerra com Ucrânia e concentração de poder do presidente da China são apontados por consultoria como principais riscos à comunidade internacional; para especialistas, união dos dois líderes provoca racha no mundo

A Rússia e o presidente da China, Xi Jinping, representam os maiores riscos para o mundo em 2023, segundo o relatório feito pela Eurásia Group, empresa que pesquisa risco político e anualmente reúne os problemas mais prováveis que o planeta pode enfrentar. Segundo eles, os recentes acontecimentos na guerra na Ucrânia, que completa um ano no próximo mês, e os reveses sofridos pelas tropas de Vladimir Putin se encaminham para ter como resultado uma Rússia humilhada e, uma vez que isso acontecer, ela “deixará de ser um jogador global para se tornar o Estado desonesto mais perigoso do mundo, representando uma séria ameaça à segurança da Europa, dos Estados Unidos e além”. Por outro lado, a centralização do poder em Xi Jinping, que é apontado como o líder mais poderoso na China desde Mao Tsé-Tung, principalmente após vencer as eleições de outubro, que lhe concederam um histórico terceiro mandato, deve originar grandes erros que vão provocar volatilidade política e elevada incerteza no país, além de reverberar no mundo. “Esse é um desafio global enorme e subestimado, dada a realidade sem precedentes de uma ditadura capitalista de Estado tendo um papel tão desproporcional na economia global”, pontua o relatório. 

Sendo assim, como esses riscos vão ser sentidos no mundo? Bernardo Wahl, professor de Segurança Internacional da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), explica que uma Rússia humilhada e agindo desonestamente pode gerar “uma crise geopolítica da mais alta ordem. Uma ameaça à segurança global, sistemas políticos ocidentais, ciberespaço, civis ucranianos e insegurança alimentar”. Vale lembrar que Rússia e Ucrânia, conhecidas como “celeiro da Europa”, são dois dos maiores produtores de trigo e milho no mundo, representando, respectivamente, 29% e 19% das exportações globais. Desde setembro, as tropas de Vladimir Putin têm sofrido reveses na guerra, recentemente, em um único ataque do Exército ucraniano, os russos perderam 89 soldados. O resultado do atentado repercutiu negativamente dentro do país. Contudo, Putin tem pouco a perder com uma nova escalada contra o Ocidente e a Ucrânia, até porque a Rússia está quase completamente isolada das democracias industriais avançadas — econômica, diplomática, cultural e tecnologicamente.

Diante da dificuldade para vencer o conflito com a Ucrânia tomando iniciativas, além do fato de estar recebendo sistemas militares mais avançados, como o sistema de mísseis Patriot, para defesa aérea, Wahl afirma, apontando o relatório da Eurásia, que a Rússia deve começar uma “guerra assimétrica com o Ocidente, buscando infligir danos e enfraquecer a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) ao invés de empregar uma agressão aberta que depende de um poder militar e econômico que a Rússia não tem mais”. Apesar da possibilidade existente da Rússia perder a guerra e se tornar o Estado desonesto mais perigoso do mundo, o professor da FESPSP alerta que “se a Rússia perder a guerra para Ucrânia, ela ficará abalada e vai precisar de tempo para se reconstruir. Porém, essa derrota pode ser boa para quem apoia a Ucrânia. No longo prazo, porém, o problema pode voltar a aparecer”.

guerra ucrânia

Apesar de não declarar publicamente o apoio à Rússia na guerra, a China é aliada de Putin, além de ser a segunda maior economia do mundo, com chances reais de se tornar a primeira, como aponta o cientista político e pesquisador da USP Pedro Costa. O especialista lembra que em 4 de fevereiro de 2022, na abertura da Olimpíada de Inverno, realizada em Pequim, Putin e Xi Jinping assinaram uma parceria, classificada como ‘sem limites’. Após 20 dias, o presidente russo deu início à invasão à Ucrânia. “Além deles serem a maior ameça ao Ocidente, eles se uniram, o que provoca uma rachadura do mundo. De um lado, temos os EUA, G7 e parceiro da Otan, e do outro China, Rússia e aliados da Eurásia”. Costa acrescenta que essa aliança ameaça a ordem ocidental porque “se a China cresce, é um problema, porque ela está roubando emprego, tirando emprego dos EUA, G7 e aliados ocidentais. Se ela cresce pouco, é um problema, porque ela está diminuindo o comércio internacional”, explica Costa. Ele acrescenta que o país é uma ameaça para o Ocidente e agora que se juntaram à Rússia, que é uma antiga rival ocidental e a segunda maior força militar, se tornaram um risco, principalmente em um momento em que os EUA, aliados do G7 e Otan, “estão passando por um momento de crise de liderança e hegemonia global”, conforme aponta o cientista político.

O atual cenário faz com que algumas pessoas digam que “as relações internacionais voltaram para uma época de competição de grandes potências. E é um pouco isso que estamos vendo, tanto que o relatório aponta Rússia e China como os principais riscos de 2023”, diz Wahl, alertando que, por mais que a Eurásia Group seja uma empresa conceituada e considerada a maior do mundo em análise de risco politico, é preciso considerar que seus relatórios têm um certo viés “americanocêntrico”, ou seja, têm mais impacto na Europa e Estados Unidos, mas não surte tanto efeito no Brasil, principalmente com o novo governo, em que Luís Inácio Lula da Silva (PT) “deve seguir a política dos seus outros dois mandatos, de buscar o multilateralismo e se relacionar com vários países”, acrescenta Wahl. Costa concorda, acrescentando ser necessário se perguntar para quem essas duas potências são um risco. “A China é uma ameça ao Brasil ou uma ameaça aos interesses da hegemonia norte-americana?” Além da Rússia e Xi Jinping, o relatório também lista outros tópicos. Ao todo, são dez pontos que exigem atenção:

Os especialistas reforçam a preocupação com a crise energética e ainda apontam a inflação como outro tema que gera alerta e deve afetar o mundo todo. “A Guerra na Ucrânia não tem previsão de fim e estrangula a questão energética, e quando se cria esse estrangulamento, temos um problema na inflação que vai repercutir globalmente”, explica Pedro Costa. “Essa questão energética, associada ao fator climático, gera inflação, pois aumenta o preço da energia”. Wahl acrescenta que uma inflação alta aumenta as taxas de juros e prejudica os países emergentes, como o Brasil. Costa chama atenção para outro ponto, a pandemia de Covid-19 que ainda não acabou, principalmente agora, com a explosão de casos na China. “Não se sabe como os chineses vão lidar com essa situação. E a maneira como a China lida com a pandemia afeta a economia global”. Desde que acabou com a política de ‘covid zero’, que estava em vigor no país há três anos, o número de casos de coronavírus explodiu no país e gerou uma preocupação mundial para o possível desenvolvimento de novas cepas. Como forma de prevenção, alguns países começaram a exigir exame de Covid-19 negativo para os turistas chineses que quiserem entrar no país. Por outro lado, a China acabou com as obrigatoriedades para prevenção e vai reabrir sua fronteira com Hong Kong no domingo, 8.

Fonte: Jovem Pan News

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