O maior reality show do Brasil começa nesta segunda-feira (16) e com ele o interesse de milhões de pessoas em acompanhar a rotina de desconhecidos: chegou a hora do Big Brother Brasil (BBB). Entre fãs e críticos, simpatizando ou não com este formato de entretenimento, o fato é que acompanhar a vida alheia vai além de uma mera curiosidade e expõe aspectos humanos primários que superam as facilidades do mundo moderno.
A afirmação parte da neurocientista do SUPERA — Ginástica para o Cérebro, Livia Ciacci. Segundo ela, a fofoca e o interesse por informações dos outros são biológicos e, até certo ponto, automáticos, sendo essenciais para a dança social.
“Desde que em doses moderadas, ciúme, interesse pela vida alheia, inveja e satisfação com o azar do outro, não precisam ser vistos como problemas a serem reprimidos a todo custo, pois fazem parte de um grande quebra cabeça social que nos ajudou como espécie, e ainda ajuda em certo grau. Por exemplo, a inveja de uma conquista alheia pode servir de motivador para um esforço maior na minha vida”, explica a especialista.
O súbito interesse pela vida de alguém começa quando ainda somos bebês e todos nossos comportamentos são moldados desde a infância com base nos resultados que eles geram socialmente.
“O cérebro humano possui uma estrutura preparada para observar os outros e interagir com eles, seja para gerar alianças ou competir. No córtex pré-frontal ventromedial está uma parte da regulação dos comportamentos sociais e manutenção de vínculos. Já no córtex somatossensorial direito está a base de sentimentos sociais, como a empatia e a capacidade de prever sentimentos por trás de expressões faciais”, acrescenta.
Além disso, segundo Ciacci, também temos os neurônios espelho, que se ativam quando observamos uma ação de outra pessoa e criam uma atividade neural semelhante em nosso cérebro, como se estivéssemos efetuando aquela ação. “Por exemplo, quando alguém chora perto de nós, automaticamente nosso rosto muda de expressão, ou quando alguém sorri, nós sorrimos de volta.”
A formação de grupos semelhantes
A partir dos reconhecimentos que fazemos dos outros, nosso cérebro tende a agrupar com aqueles que pensam e reagem ao mundo de forma parecida com a nossa, pois a previsibilidade do outro gera interações mais agradáveis e formamos alianças e amizades.
“O problema começa no limite do nosso cérebro de formar grupos semelhantes. Não confiamos em todo mundo. Imagine nossos antepassados nas savanas, a cooperação era necessária para a sobrevivência, mas como saber, dentre todos os próximos, em quem confiar?”, disse.
O pesquisador Frank McAndrew publicou um texto na Scientific American Mind explicando que neste período da história humana só seria bem-sucedido quem soubesse o que estava acontecendo com os indivíduos ao redor, quem estava dormindo com quem, quem era mais forte, quem conseguia recursos e território, e a adaptação biológica para reforçar esse comportamento foi exatamente ele ser prazeroso.
Acompanhar a vida alheia faz mal?
Ciacci explica que a dinâmica social de hoje expõe publicamente, por redes sociais ou programas de TV, a vida de bilhões de pessoas, o que se torna um “parque de diversões” para nossos sistemas de reconhecimento emocional e julgamento social, trazendo à tona todos os instintos em diferentes intensidades. “Mesmo que essas pessoas expostas sejam famosas e estejam distantes, ter acesso a tantas informações íntimas sobre a vida delas engana o cérebro, que entende que elas são importantes e as julga como se estivessem próximas.”
O problema, segundo ela, como em quase tudo na vida, está nos excessos. “Mergulhar na vida alheia e deixar de ser responsável pela própria vida é um grande desperdício de tempo!”
Outro problema sério é não ter maturidade suficiente para controlar esses impulsos na vida profissional. “O ambiente de trabalho exige muito mais cuidado e atenção com as condutas, pois uma fofoca no momento errado pode prejudicar seriamente as pessoas envolvidas”, alertou.
Por que precisamos saber de tudo?
A teoria do Fear of missing out (FOMO) ou — em tradução livre, medo de perder algo, ajuda a entender essa necessidade de acompanhar ou saber de tudo que desenvolvemos com o avanço da tecnologia. FOMO é o estado mental onde o indivíduo fica ansioso e com medo de não conseguir acompanhar as atualizações, então ela se mantém conectada o tempo todo às redes sociais e a internet.
“Como as fofocas por si só atraem a atenção, o fato delas estarem compiladas em um aparelho que fica quase 24 horas na nossa mão é extremamente tentador”, afirma Ciacci, mencionando um estudo publicado em 2021 por Giulia Fioravanti e colaboradores na revista Computadores no Comportamento Humano que mostrou que o estado de ‘FOMO’ foi positivamente correlacionado com depressão, ansiedade e neuroticismo (níveis altos de sofrimento subjetivo) e negativamente correlacionado com os níveis de consciência.
“Ou seja, quanto mais consciência da própria vida, propósitos e autoconhecimento, menos ansiedade por ficar acompanhando notificações ou postagens.”
Viciado em BBB
Agora, caso você seja um viciado em BBB e queira, desta vez, se livrar um pouco da ansiedade por acompanhar o programa, a neurocientista deixou algumas dicas. Veja abaixo:
O Olhar Digital possui também um artigo que te ensina a bloquear notícias sobre o programa nas redes sociais. Por outro lado, para aqueles que querem ficar por dentro de tudo da famosa “casa mais vigiada do Brasil”, confira aqui os participantes da edição 2023.
Fonte: Olhar Digital
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