Um recente estudo liderado por pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) mostrou que a covid-19 pode ser muito mais resistente e abrangente do que se imaginava. Após autópsias de pacientes que faleceram em decorrência do vírus, os cientistas descobriram que o microrganismo afeta não apenas o pulmão, mas diversos outros órgãos, além de permanecer no sistema celular humano por meses — mesmo após o óbito.
“Nossos dados indicam que, em alguns pacientes, o SARS-CoV-2 pode causar infecção sistêmica e persistir no corpo por meses… [e] embora a maior carga esteja nos tecidos respiratórios, o vírus pode se disseminar por todo o corpo”, disse a equipe.
De acordo com o artigo, publicado na Nature, a covid-19 pode afetar pulmões, coração, baço, rins, fígado, cólon, tórax, músculos, nervos, trato reprodutivo, olhos e cérebro. Em uma autópsia específica, os pesquisadores também constataram que indícios do vírus permaneciam no cérebro de um paciente falecido 230 dias após o início dos sintomas.
Embora a desconfiança sobre o potencial da doença em afetar várias partes do corpo não seja novidade, até com sinais preliminares, o atual estudo trouxe detalhes e evidências que replicam e confirmam análises anteriores; os cientistas acreditam que essa seja a pesquisa mais ampla sobre a persistência celular do SARS-CoV-2 no corpo humano.
O vírus e outros órgãos
O estudo envolveu 44 autópsias, realizadas em abril de 2020 a março de 2021, nas quais os pesquisadores detectaram e quantificaram o nível de RNA mensageiro do SARS-CoV-2 em 85 locais e fluidos. Em indivíduos mais velhos e não vacinados que morreram de Covid-19, os sinais de replicação de SARS-CoV-2 chegaram a um total de 79 locais e fluidos corporais.
Foi possível verificar também que, após uma melhora no quadro de covid, os pulmões eram os que estavam menos infectados quando comparado aos outros órgãos afetados — ele também é o órgão que mais mostrou lesões e inflamação no decorrer da doença. Por outro lado, embora os outros órgãos sejam pouco menos atingidos, eles não mostraram tanta melhora após o ápice da infecção.
Para os pesquisadores há uma explicação simples e bem possível para isso: o sistema imunológico humano talvez não seja tão bom em atingir esses outros locais em comparação com os pulmões. Por ora, é válido pontuar também que nenhuma consequência da covid nos outros órgãos foi equiparada a causado nos pulmões — a pesquisa também não detalhou que tipo de sequela a replicação do vírus pode trazer às outras regiões do corpo (embora estudos sobre cérebro e covid já estejam em desenvolvimento).
A questão para a equipe agora é: como o vírus consegue se replicar para todos os órgãos? O que permanece um mistério. O grupo acredita que ele esteja viajando de uma forma ainda não detectada pela ciência — e não através do plasma sanguíneo (parte líquida do sangue que tem a função de transportar proteínas, sais minerais, dióxido de carbono e outras substâncias pelo corpo), que seria facilmente verificável.
Um outro estudo apontou que, na viagem até o cérebro, nanotubos formados no nariz seriam o segredo. Entenda mais aqui!
Descobrir como essa viagem ocorre, segundo os cientistas, explicará, por exemplo, pacientes que sofrem com a covid longa — quando os sintomas persistem mesmo após o fim da infecção.
“Esperamos replicar os dados sobre persistência viral e estudar a relação com a Covid longa”, sinalizou Stephen Hewitt, um dos autores.
Com os resultados também foi possível confirmar o potencial do Paxlovid, novo antiviral da Pfizer para tratamento de covid leve a moderada em pessoas com risco de desenvolver a forma grave da doença. Segundo o estudo, o medicamento ajuda o sistema imunológico a eliminar justamente células virais de tecidos, órgãos e fluidos mais difíceis de alcançar.
Com informações do Science Alert
Fonte: Olhar Digital
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