Descoberto em 2004 e apontado como uma das rochas espaciais mais perigosas que poderiam impactar a Terra, o asteroide 99942 Apophis não vai colidir com o planeta por pelo menos 100 anos, conforme revelado pela NASA e noticiado pelo Olhar Digital.
No entanto, viajando a quase 27 mil km por hora (quase o dobro da velocidade de um míssil balístico hipersônico), ele chegará a uma distância de apenas 32 mil km – mais perto do que muitos satélites geoestacionários que orbitam o globo. Isso está previsto para acontecer em abril de 2029, segundo a NASA – curiosamente, em uma sexta-feira 13.
A gigantesca rocha espacial tem cerca de 340 metros de diâmetro médio (450 metros de comprimento) e massa aproximada de 41 milhões de toneladas.
Com energia equivalente a 60 mil bombas de Hiroshima, se atingisse a Terra, o asteroide Apophis poderia devastar milhares de quilômetros quadrados e causar milhões de mortes. Não é difícil entender por que ele recebeu o nome do deus egípcio do caos e da destruição.
Susto em 2004
No mesmo ano em que foi descoberto, o asteroide fez sua primeira passagem próxima da Terra – uma oportunidade para ser estudado de forma mais aprofundada pela comunidade científica (que estava em polvorosa).
“Naquela época, à medida que novas observações eram adicionadas aos cálculos, a possibilidade de um impacto em 2029 aumentava. As chances chegaram aos 2,7%, o que causou certa apreensão em todo o planeta”, relata Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital.
Segundo Zurita, felizmente, com o refinamento dos cálculos orbitais ainda em 2004, concluiu-se que não há chances de impacto em 2029. “Entretanto, será uma aproximação de arrepiar. Ele vai passar tão perto que poderá ser visto a olho nu de alguns locais do planeta, incluindo parte do Brasil”.
Apophis fora da lista de risco de colisão
Graças a observações posteriores, foi possível descartar o risco de um impacto em 2029 bem como em 2036. Uma pequena chance de impacto em 2068 ainda permanecia até 2021, quando uma nova passagem próxima permitiu uma reavaliação, que desconsiderou a possibilidade dessa colisão.
“Um impacto de 2068 não está mais no reino da possibilidade, e nossos cálculos não mostram nenhum risco de impacto por pelo menos os próximos 100 anos”, disse Davide Farnocchia, do Centro de Estudos de Objetos da Terra Próxima (CNEOS), que é gerido pelo Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA.
Segundo ele, a incerteza na órbita do Apophis caiu de centenas para apenas alguns quilômetros quando projetada para 2029. “Este conhecimento muito aprimorado de sua posição em 2029 fornece mais certeza de seu movimento futuro, então agora podemos remover Apophis da lista de risco”.
Farnocchia estava se referindo à Tabela de Risco de Impacto da Sentinela, mantida pelo CNEOS para controlar os poucos asteroides cujas órbitas os levam tão perto da Terra que um impacto não poderia ser descartado.
Asteroide pode ter partículas arrancadas pela gravidade
Um estudo recente da Universidade Carlos III de Madrid (UC3M) em parceria com a Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho Paulista (UNESP) analisou as características físicas do asteroide Apophis.
Na pesquisa, publicada no periódico científico Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, foram analisados os possíveis efeitos da aproximação, como influências na sua trajetória e no seu ângulo de inclinação, entre outros.
“A colisão não é a única possibilidade em eventos de aproximação como esse”, disse o pesquisador do Departamento de Bioengenharia e Engenharia Aeroespacial da UC3M, Gabriel Borderes-Motta, à agência de notícias da instituição. “A interação gravitacional entre um planeta e um corpo como o Apophis pode alterar a forma do corpo, quebrar o corpo em pedaços, desintegrar possíveis pedras soltas na superfície do asteroide, ou até mesmo remover outros corpos que orbitam o asteroide (como rochas, satélites, ou anéis)”.
Os cientistas fizeram um conjunto de simulações numéricas para tentar prever como as partículas que orbitam o asteroide reagirão a diferentes situações e como essas possibilidades podem influenciar o comportamento do objeto.
“Como ele vai passar bem próximo da Terra, esse corpo vai sofrer efeitos da gravidade do nosso planeta, que é muito grande em relação a ele. Por isso, a gente fez estudos sobre, por exemplo, a sua superfície e sua órbita, se materiais poderão ser arrancados pela Terra. E o nosso estudo mostra que, sim, isso é possível”, afirmou ao site G1 Othon Winter, coautor do estudo, astrônomo e professor da UNESP de Guaratinguetá.
Segundo Winter, os cientistas ainda não sabem qual a densidade desse objeto – um dos assuntos explorados pela pesquisa.
Isso é importante porque quando um asteroide é menos denso, sua gravidade é mais fraca, tornando-se mais fácil que partículas sejam arrancadas de sua superfície. Quando a sua densidade é maior, no entanto, acontece o inverso: ele consegue reter mais partículas.
A partir dessas simulações, os pesquisadores concluíram que o ângulo de inclinação do asteroide foi maior em baixas densidades do que em altas densidades. Também descobriram que quanto menor a densidade de partículas e maior a pressão de radiação solar, menos partículas permaneceram intactas.
“A pressão de radiação é um fenômeno que pode remover partículas pequenas com mais facilidade. Partículas muito pequenas são removidas, mas partículas grandes sobrevivem”, explica Winter.
Isso significa que, em uma hipótese em que Apophis tenha baixa densidade, aproximadamente 90% das rochas soltas seriam arrancadas de sua superfície durante a aproximação com a Terra. Os resultados do estudo mostraram ainda que a aproximação do asteroide pode afetar levemente as marés do planeta e causar alguns deslizamentos de terra na superfície da rocha.
Sobre os possíveis efeitos do desprendimento desses materiais, Winter explica que estudos iniciais indicam que essas partículas não vão atingir diretamente o nosso planeta.
“Apesar desse asteroide passar bem próximo da Terra, ele passa numa velocidade altíssima. Então as partículas que forem arrancadas de sua gravidade, vão continuar seguindo seu caminho. Seriam como sua cauda”, disse o astrônomo.
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Fonte: Olhar Digital
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