Ex-ministro classificou a minuta como ‘muito ruim, com erros de português’ e disse que a ‘ignorou completamente’
O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres, negou ter escrito a minuta apreendida em sua casa e também disse que não conversou sobre o documento com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A afirmação foi feita durante depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 2, que durou cerca de dez horas. Torres está preso preventivamente desde 14 de janeiro por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) na investigação sobre a postura de autoridades públicas nos atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes. No depoimento, o ex-ministro comentou que “não tem ideia” de quem elaborou a minuta que dizia para Bolsonaro intervir no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e alterar o resultado das eleições. Ele acredita ter recebido o documento em seu gabinete no Ministério da Justiça. De acordo com ele, levava os materiais de trabalho para casa, devido a alta demanda do trabalho, e que a cópia “já era para ter sido descartada”. Anderson Torres classificou a minuta como “tecnicamente muito ruim, com erros de português” e disse que a “ignorou completamente”.
Ainda durante o depoimento, Torres disse que soube através dos veículos de imprensa que outras pessoas tinham documentos semelhantes. Além disso, o ex-ministro disse que ignorou o conteúdo da minuta por considerar o conteúdo “descartável” e “sem viabilidade jurídica”. Torres também falou sobre a reação de Bolsonaro após a derrota nas urnas, dizendo que o então presidente teria ficado “decepcionado” com os resultados. O ex-secretário também disse que, durante a campanha era difícil encontrar Bolsonaro em Brasília e que, durante suas conversas com o presidente, questões envolvendo “alternância de poder” não foram discutidas. Entretanto, ele cita uma entrevista do então mandatário dizendo que aceitaria o resultado das urnas caso fosse derrotado.
Ao falar sobre os atos de 8 de janeiro, Torres disse ter recebido informações sobre a possibilidade de manifestações na sexta-feira, 6, dois dias antes da invasão. Entretanto, segundo ele, nada indicava a ocorrência de ações radicais. O ex-ministro disse ainda ter elaborado um protocolo de ações para evitar incidentes grave, que não foi cumprido, afirmando que, caso o planejado tivesse sido executado, os “fatos jamais teriam acontecido”. Sobre a sua viagem, Torres afirmou que se as informações indicassem a probabilidade de atos extremistas, não teria viajado para fora do Brasil. O ex-ministro também comentou a reunião entre o senador Marcos do Val, o deputado Daniel Silveira e o presidente Bolsonaro, dizendo que não tinha conhecimento do fato e que não participou de nenhum encontro.
Nesta quinta-feira, o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, também prestou depoimento à PF sobre o caso. Segundo o mandatário da sigla, nunca houve uma tratativa sobre inviabilizar a posse do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que a expressão utilizada foi uma “metáfora”. O líder partidário também afirmou que Torres não participava de reuniões políticas e que não conhecia ninguém do comando da Polícia Militar do Distrito Federal. Na oitiva, Costa Neto também ressaltou que não tem envolvimento com o atual governo federal e que, durante a gestão Bolsonaro, tinha relação apenas com o chefe do Executivo, sem qualquer ligação com o ex-ministro Torres e com as Forças Armadas.
Fonte: Jovem Pan News
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