Após sucessivas quedas entre os anos de 2019 e 2021, a cobertura vacinal de crianças no Brasil apresentou uma leve recuperação em 2022, com alta na aplicação de todos os principais imunizantes. 

Ainda assim, as taxas continuam em níveis baixos, longe da meta e preocupantes, segundo especialistas consultados por Carlos Madeiro, colunista do portal UOL.

Cobertura vacinal em crianças apresentou leve alta em 2022 em relação a todos os imunizantes. Imagem: didesign021 – Shutterstock

Vacinação de crianças no Brasil

Ainda estamos longe do ideal de 95% de cobertura para a maioria das vacinas, mas temos uma tendência de recuperação. E isso é uma boa notícia.

Renato Kfouri, pediatra infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

Alguns municípios ainda devem mandar informações que serão inseridas no sistema do Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, motivo pelo qual os dados de 2022 não estão totalmente fechados.

Segundo Kfouri, 2020 e 2021 foram anos muito influenciados pela pandemia, e a alta observada em 2022 já era esperada em razão do “retorno à quase normalidade” e ao maior alerta de entidades e da imprensa quanto ao risco da volta de determinadas doenças, como poliomielite e sarampo

Vacinação contra tuberculose foi a que registrou maior alta

De acordo com os dados do PNI, a cobertura vacinal contra tuberculose foi a que apresentou alta mais significativa, saltando de 74,9% para 83,7%. De qualquer forma, ainda é cedo para comemorar: a taxa é bem menor do que os dados registrados até 2018, quando a imunização contra a doença ficava acima de 95%.

Madeiro destaca que um dos problemas persistentes nos últimos anos e que ainda pode ter consequências é que a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro ignorou as políticas de incentivo à vacinação. 

Não houve nesses últimos anos, por parte do governo, uma campanha de informação e estímulo à vacinação. Ao contrário, a vacinação contra Covid-19 foi desestimulada nas crianças. Houve uma difusão de conceitos equivocados, o que contaminou outras vacinas.

Renato Kfouri

Para Ricardo Gurgel, doutor em saúde da criança e do adolescente pela Universidade de São Paulo (USP), é preciso combater o “sentimento antivacina” na sociedade e a hesitação vacinal (quando os pais não levam os filhos ou atrasam doses). 

“Com a pandemia, esse número cresceu, porque sempre que o governo, em especial o presidente, falou de vacina, foi de forma pejorativa”, disse ele, que chegou a ser nomeado para chefiar o PNI na gestão Bolsonaro, mas não tomou posse.

A ampliação da cobertura vacinal pode esbarrar na falta de planejamento por parte do Ministério da Saúde da gestão anterior na aquisição de doses para este ano. Na previsão de compra feita pelo governo federal ao Instituto Butantan, maior produtor de imunizantes do Brasil, não houve aumento no pedido de aumento de produção. 

Ainda assim, Gurgel acredita que 2023 deve marcar um esforço pela retomada da vacinação e de campanhas informativas oficiais sobre o tema.

“Uma coisa que o governo deveria fazer é não desperdiçar oportunidade perdida, que é quando uma pessoa procura um serviço de saúde, mas não se confere a caderneta”, disse ele. “O certo é a pessoa chegar para fazer um curativo, e ser questionada se as vacinas estão em dia. Se não estiver, vacina na hora. Seria muito eficiente”, sugere.

O Ministério da Saúde afirmou que o aumento da cobertura vacinal é uma prioridade da nova gestão. “Com o fortalecimento do PNI, é possível estabelecer metas de vacinação em todas as faixas etárias, resgatando as altas coberturas vacinais no país”, disse o órgão, que postou no Twitter o cronograma do PNI 2023 no fim de janeiro, com foco na vacinação infantil e dos adolescentes nas escolas.

Segundo a pasta, a estratégia de imunização será elaborada em conjunto com o Ministério da Educação, estados e municípios. “É importante ressaltar que para todas as estratégias de vacinação propostas, as ações de comunicação e de comprometimento da sociedade serão essenciais para que as campanhas tenham efeito”.