O Flamengo se juntou, nesta terça, a um grupo indesejado: os brasileiros que não passaram para final do Mundial de Clubes. No atual formato disputado, Internacional, Atlético e Palmeiras também ficaram na semifinal. No Rubro-Negro, para além da frustração da derrota, é possível apontar alguns pontos que influenciaram a surpresa no Marrocos.
A principal mexida na equipe campeã da Copa do Brasil e da Libertadores no ano passado foi o comando técnico da equipe. Saiu Dorival, que ajustou o time ao longo de 2022 e entrou Vítor Pereira, português de bom trabalho no Corinthians no mesmo ano. VP tinha dois principais desafios logo no início da caminhada: a Supercopa do Brasil e o Mundial de Clubes. Falhou em ambos.
O português sabia que teria pouco tempo de trabalho até os jogos. Apresentado no dia 3 de janeiro e com o elenco tendo se reapresentando no dia 26 de dezembro, faltou tempo para que a metodologia e as novas ideias se integrassem ao grupo. O pouco tempo de preparação para os jogadores também cobrou seu preço com o desempenho físico (aquém do esperado) da equipe nos jogos.
Vitor Pereira não conseguiu aproveitar nada do bom trabalho que Dorival realizou na temporada passada. Mexendo principalmente no posicionamento dos jogadores em campo, VP não conseguiu extrair o melhor do seu elenco e apresentou dificuldades – principalmente defensivas.
Fora essa confusão de ideias na beira do campo, tem o fato do Flamengo ter perdido um dos melhores jogadores do meio-campo e não ter tido uma recomposição. A venda de João Gomes para o Wolverhampton atrapalhou e muito o sistema defensivo do clube – era o principal jogador para dar dinâmica no setor, fazendo pressão, roubando bolas e iniciando jogadas.
Gerson, única contratação da atual temporada, não tem o mesmo perfil e, claramente desconfortável com seu posicionamento no esquema de Vitor Pereira, não atuou bem desde que chegou – a expulsão no Mundial é um sintoma do mau início até aqui.
Além da alteração no meio-campo, a diretoria apostou numa solução caseira para a lateral direita. Após a saída de Rodinei, Varela (Supercopa) e Matheuzinho (Mundial) foram testados – sem sucesso. Ambos deixaram o setor frágil defensivamente e foram explorados pelos adversários. A derrota, nas duas partidas, passou também pelo setor.
Decisões de arbitragem de lado, o Flamengo foi inoperante diante do Al Hilal na maior parte do tempo. Sem conseguir conectar jogadores e setores, o clube foi encaixotado pelo bom e experiente time saudita que comandou as ações.
Para complicar ainda mais a situação, Gerson foi expulso no final do primeiro tempo e o Rubro-Negro foi para o intervalo em desvantagem numérica e também no placar (2 a 1).
Aí, pesou a mão do técnico português. A troca por Arrascaeta pode ter se justificado por motivos físicos – o uruguaio se recupera de uma pubalgia – só que a entrada de Pulgar não fez sentido em campo. O chileno entrou nervoso, tomou cartão logo no início da partida e comprometeu seu jogo físico.
Sem conseguir o controle da bola, o Flamengo foi um completo deserto de ideias e viu o adversário crescer no jogo. A zaga não conseguia parar Marega e Vietto e o próprio Pulgar não achou Cuellar em campo – dono da partida no setor.
E não parou por aí. Com a obrigação de buscar a vitória, Vitor Pereira acabou por ceifar qualquer vestígio técnico do meio campo rubro-negro sacando Éverton Ribeiro e mandando a campo Cebolinha.
Apostando em Gabi e Pulgar para ganhar no meio após bolas longas para Pedro disputar, o Flamengo não só não criou, como viu a situação piorar. Nem mesmo o gol de Pedro no abafa dos acréscimos foi capaz de apagar a “tragédia” que foi a atuação flamenguista em Tânger.
O clube carioca tem exatas duas semanas até a próxima decisão. No dia 21, começa a disputa da Recopa Sul-Americana contra o Indepediente del Valle, fora de casa. Até lá, dois jogos pelo Carioca mais a disputa de terceiro lugar no Mundial. Vítor Pereira terá seu trabalho avaliado de forma precoce, tanto pela falha em conseguir resultados quanto pela pobreza do que sua equipe demonstra em campo.
Por enquanto não se fala em troca de técnico ou algo na linha, mas o assunto é discutido por torcedores. A depender dos próximos dias, o português pode nem estar no banco de reservas na estreia do Brasileirão – o que seria um atestado de incompetência também da própria diretoria do clube.
O Flamengo tem um dos elencos mais caros do Brasil e precisa apresentar mais. Caberá ao técnico português mostrar a sua capacidade para mudar um contexto difícil no qual se colocou. As decisões do técnico e diretoria serão alvos de um escrutínio ainda maior após o vexame no Marrocos.
Fonte: Ogol
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