Delegada titular da DAM analisa cenário de violência contra a mulher em Dourados; em 2022 foram mais de 1.500 denúncias 

A nova Delegada titular da DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Dourados, Ana Cláudia Pimental Malheiros Gomes, que assumiu a titularidade em junho do ano passado no lugar da Delegada Paula Ribeiro, foi entrevistada pelo Dourados Agora e falou sobre as ações e também os desafios que precisam ser vencidos para reverter o quadro de violência contra as mulheres. Em Dourados, os números são altos de mulheres que vivem em relacionamentos abusivos.

Ela ressaltou que para combater a violência em sua raiz é necessário um trabalho preventivo com atuação de todos os setores da sociedade, e não apenas da polícia. “Sabemos que os casos de violência doméstica contra a mulher infelizmente não se resolvem apenas na delegacia. É necessário todo um trabalho preventivo, que já vem sendo feito desde o advento da Lei Maria da Penha”, pontuou Ana Cláudia. 

Na entrevista, a Delegada Ana Cláudia falou ainda sobre os tipos de violência contra a mulher e as penas. Ela também orientou as vítimas a ficarem atentas aos sinais de um relacionamento abusivo e sobre como buscar ajuda. Confira os detalhes:

Dourados Agora- Em Dourados, a Polícia Civil, através da DAM, tem sido bastante eficiente nas investigações e elucidação dos crimes contra as mulheres, bem como na captura e prisão dos autores. Como estão os números da violência doméstica no município?

Ana Cláudia: No ano de 2022 foram registradas 1.535 (um mil, quinhentos e trinta e cinco) ocorrências de violência doméstica. Foram 3 casos de feminicídios, todos elucidados, ou seja, com identificação e prisão do autor. Foram realizadas também, desde de julho de 2022, quando assumi a titularidade da Delegacia da Mulher, 49 (quarenta e nove) prisões em flagrante de autores de violência doméstica. 

Dourados Agora- Quais os principais desafios que ainda precisam ser vencidos para reverter o quadro de violência contra a mulher? 

Ana Cláudia: Sabemos que os casos de violência doméstica contra a mulher infelizmente não se resolvem apenas na delegacia de polícia. É necessário todo um trabalho preventivo, que já vem sendo feito desde o advento da Lei Maria da Penha. Desde que iniciei meus trabalhos e tenho como prioridade dar andamento às ocorrências envolvendo violência doméstica contra a mulher, fazendo um atendimento imediato às vítimas que nos procuram, tomando todas as providências quanto às medidas protetivas ou outras que se fizerem necessárias para garantir a integridade da vítima. Além disso, uma vez instaurado o inquérito policial, há prioridade máxima na sua conclusão, para que o agressor seja denunciado e processado o mais rápido possível. Para que consigamos minimizá-la, ou mesmo erradicá-la, é necessário um trabalho conjunto com vários outros órgãos, como Ministério Público, Poder judiciário, além do trabalho que os governos fazem através de suas secretarias ou coordenadorias, bem como vários outros entes não-governamentais que possuem trabalho voltado ao combate e conscientização contra a violência doméstica, exercendo um trabalho preventivo de fundamental importância nessa luta. A campanha do agosto lilás é um exemplo claro disso. Somente unindo forças teremos resultados satisfatórios.

Dourados Agora- Quais são os tipos de violência contra a mulher e quais as penas?

Ana Cláudia: A violência doméstica e familiar contra a mulher é  qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial no âmbito da unidade doméstica; no âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto. A pena varia de acordo com o crime cometido. O crime lesão praticado praticada contra a mulher, por razões da condição do sexo feminino, por exemplo, tem pena de 01 a 04 anos. Já o crime de feminicídio a pena é de reclusão de 12 a 30 anos. 

Dourados Agora- A DAM realiza ações de prevenção aos crimes em Dourados? Quais são eles?

Ana Cláudia: Sim. No ano de 2022/2023 foram realizadas inúmeras palestras pela Delegacia da Mulher, em escolas, empresas, rádio, televisão, também foram realizados dois mutirões de atendimentos nas Aldeias Bororo e Jaguapiru  e ainda temos nossa página do instagram @damdourados_pcms, na qual informamos a população das atividades realizadas pela Delegacia da Mulher em Dourados e todos podem acompanhar. 
Dourados Agora- O agressor muitas vezes não demonstra ‘de cara’ quem são. Como ficar atenta aos sinais e evitar que o pior aconteça? 

Ana Cláudia: É importante identificar que a violência doméstica é cíclica, ou seja, a vítima, primeiramente há um momento de tensão. Fase caracterizada por agressões verbais, crise de ciúmes, destruição de objetos e ameaças. A mulher procura acalmar o agressor, evitando discussões, assim a mulher vai tornando-se mais submissa e amedrontada. Em diversos momentos a mulher sente culpa e se acha responsável pela situação de violência em que vive, quando não procura relacionar a atitude violenta do parceiro com o cansaço, uso de drogas e álcool. Na segunda fase há um momento de explosão. Essa fase é marcada por agressões verbais e físicas graves e constantes, provocando ansiedade e medo crescente. Essa etapa é mais aguda e costuma ser mais rápida que a primeira etapa e por fim há a fase de Lua de Mel. Depois da violência física, o agressor costuma se mostrar arrependido, sentindo culpa e remorso. O agressor jura nunca mais agir de forma violenta e se mostra muito apaixonado, fazendo a mulher acreditar que aquilo não vai mais acontecer.

Dourados Agora- Qual a orientação que você deixa para as mulheres que estão sofrendo algum tipo de violência, mas tem medo de denunciar? 

Ana Cláudia: Existe o canal de denúncia anônima que é o Disque 100/180. Ao realizar a comunicação pelo canal anônimo, nossa equipe de investigação irá apurar os fatos para as providências cabíveis. 

Fonte: Dourados Agora

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