O terremoto que afetou Turquia (sobretudo) e Síria vem comovendo o mundo todo, com inúmeros voluntários ajudando nas buscas e salvamentos. Furkan Kiliç e Eser Özvataf são dois desses voluntários.
Kiliç é engenheiro fundador e Özvataf é o CTO da Datapad, startup de software. Ambos são membros bem-conhecidos do ramo de tecnologia turca – Özvataf era diretor de engenharia da Getir, a primeira decacórnio (startup que vale mais de US$ 10 bilhões) da Turquia.
Juntos, eles alcançam quase três décadas de experiência na indústria. Eles começaram mobilizando colegas no Twitter e, em questão de horas, criaram o movimento “Projeto Ajuda Terremoto” (em tradução literal de “Earthquake Help Project”), tecnologia de bootstrapping para ajudar ONGs e equipes de resgate no terreno devastado pelo incidente geológico.
No fim da manhã de segunda-feira (6), eles criaram um canal no Discord para organizar fluxos de trabalho; na terça-feira (7), eles tinham 15 mil desenvolvedores, designers, gerentes de projeto e outros ao redor do mundo para construir aplicações, incluindo aquelas que estão ajudando a localizar pessoas em perigo e distribuir ajuda onde se faz necessário.
“Há muitas pessoas esperando ajuda” diz Kiliç. “É difícil para qualquer um balancear suas vidas e seus trabalhos diários e seus trabalhos cotidianos agora, enquanto todo mundo tenta ajudar o máximo possível.”
Ferramentas tecnológicas
Uma das primeiras ferramentas do Earthquake Help Project é um app que vasculha as redes sociais para encontrar pedidos de ajuda e, então, geolocalizá-los mostrando-os em um mapa de calor. Então, os responsáveis pelo resgate podem ver onde esses pedidos estão concentrados.
A equipe também desenvolveu portais e aplicações que agrupam ofertas de assistência, coletam informações para pessoas afetadas com o incidente sobre o que fazer e quem contatar, além de permitir pessoas reportar se estão a salvo ou se precisam de ajuda.
Todos os projetos são open source e os desenvolvedores estão precisando inovar para fazer suas ferramentas o mais leve possível, já que as conexões de internet foram interrompidas nas áreas afetadas. “Estamos usando HTML puro em alguns de nossos projetos para acelerar o tempo de carregamento das páginas” afirma Kiliç.
Nesta quarta-feira (8), o Twitter, um dos principais canais para distribuição de trabalho e informação de fontes da organização, teve seu acesso restrito em diversas regiões da Turquia. O governo local já havia bloqueado a rede social durante crises políticas.
Kiliç, contudo, indica ter sofrido com o problema por apenas 30 minutos, tempo no qual ele seguiu usando o Discord. Ele fala que usarão uma VPN para seguir com suas atividades se houver mais bloqueios de redes sociais. “Nossas atividades não serão paralisadas se o Twitter estiver restrito. Mas talvez não estaremos em condições de alcançar os usuários que não usam VPN, pois as pessoas veem esses projetos usando mídias sociais.”
Novos projetos estão sendo desenvolvidos o tempo todo, enquanto mais e mais voluntários aderem à causa com novas ideias e tarefas abertas. Mas não é possível direcionar cada voluntário a um projeto determinado. “Muitas pessoas se candidataram de uma só vez para ajudarem, e nós temos muitos e diferentes estilos de trabalho. Tem sido desafiador em certos momentos para organizar cada pessoa com uma função”, explica Kiliç.
Por enquanto, o foco do grupo está na Turquia, mas eles estão analisando como se conectarem às ONGs sírias e também estão buscando voluntários que possam ajudar a localizar seus projetos em árabe.
As candidaturas passam de 100 mil até o momento, e o feedback tem sido encorajador. “Recebemos mensagens contando que as pessoas que se encontram em perigo são salvas por conta desses aplicativos”, conta Kiliç. “Este é o real impacto que esperávamos ter.”
Open source como arma ante desastres naturais
A tecnologia open source, ou código aberto, em português, vem sendo usada como resposta a tragédias naturais nas últimas duas décadas. Voluntários de TI do Sri Lanka usaram um software open source para coordenar esforços de ajuda após o terremoto no Oceano Índico e o tsunami.
Em 2010, internautas voluntários usaram um software de mapeamento de multidões para escrever necessidades em tempo real em mapas públicos durante o terremoto no Haiti, usando, parcialmente, tecnologia desenvolvida no Quênia para mapear incidentes de violência no pós-eleição em 2007.
Ferramentas similares foram usadas nos EUA em resposta ao furacão Sandy, em 2012. Em 2015, mais de três mil internautas virtuais também usaram software open source para criar mapas das áreas afetadas após um forte terremoto no Nepal. A Cruz Vermelha Americana e o governo nepalense usou a informação de forma extensiva para realizar operações de resgate.
“Vimos, com o passar dos anos, a disposição dos profissionais de tecnologia para ajudar quando uma crise acontece”, comenta Amanda Levinson, cofundadora da NeedsList, companha de software de resposta a crises. Contudo, ela complementa que a necessidade é motivada pela ausência da inovação do sistema humanitário.
“Os setores tradicionais de socorro e desastres humanitários estão envelhecendo, isolados, e não podem acompanhar o ritmo das crises”, pontua. “Precisamos de novas soluções.”
Com informações de Wired
Imagem destacada: Move2Turkey
Fonte: Olhar Digital
Comentários