Foram três décadas agridoce de serviço – marcadas, de um lado, por conquistas, e, do outro, tragédias. Então, em 2011, a Nasa (agência espacial dos EUA) aposentou o programa de ônibus espaciais.

A aposentadoria compulsória veio, também, por conta das mudanças econômicas, políticas e sociais pelas quais os EUA – e o mundo – passaram na transição do século 20 para 21.

Nas linhas a seguir, o Olhar Digital traz o contexto no qual o programa da Nasa surgiu, como foi sua trajetória e quais são as perspectivas para o futuro da exploração espacial.

Guerra Fria, corrida espacial

Astronauta ao lado de bandeira dos Estados Unidos na Lua
A bandeira dos EUA cravada na superfície da Lua também cravou a liderança do país na corrida espacial contra a Rússia (Imagem: Governo dos EUA)

No auge da Guerra Fria (1958-1976), EUA e URSS (União Soviética) fizeram da Lua uma espécie de linha de chegada para sua corrida maluca. Assim, os países usaram essa corrida espacial como pretexto para exibicionismos das suas respectivas agências espaciais.

Era julho de 1969 e o mundo segurou a respiração, enquanto um ofegante Neil Armstrong, astronauta estadunidense a bordo da Apollo 11, dava seu primeiro passo na Lua. Ao cravarem a bandeira dos EUA na superfície lunar, Armstrong e seu companheiro Edwin “Buzz” Aldrin também cravaram a liderança do país na disputa contra Rússia.

Sete anos depois, a Guerra Fria acabou, levando consigo a corrida espacial. Mas os esforços voltados à exploração espacial continuaram. Eis que, em abril de 1981, a Nasa lança seu programa de ônibus espaciais para substituir Apollo.

30 anos de ônibus espaciais

Lançamento de ônibus espacial
Ao todo, Nasa lançou 135 missões, distribuídas entre cinco ônibus espaciais (Imagem: Nasa)

Até o projeto Apollo, mandar astronautas ao espaço custava um foguete. Já o programa de ônibus espaciais trouxe uma ideia revolucionária para a época: naves (chamadas de “shuttles”, palavra inglesa para “transportes”) reutilizáveis. Com isso, a Nasa visava baratear as viagens para a órbita-e-além, sem perder a segurança.

O Columbia inaugurou a fila de ônibus espaciais a serem lançados pelo país nas três décadas seguintes. Com dois astronautas a bordo, a nave disparou da Terra em 12 de abril de 1981. Ao todo, a Nasa realizou 135 missões no programa, envolvendo cinco ônibus espaciais, 16 países e 385 pessoas.

Após 30 anos de missões, o placar das naves ficou assim:

Já para fechar a fila de lançamentos, a Nasa escolheu a Atlantis. Em 2011, quatro astronautas embarcaram no ônibus espacial rumo à EEI (Estação Espacial Internacional), onde passariam 12 dias numa missão.

Balanço do programa

Explosão do ônibus espacial Challenger logo após seu lançamento
A explosão do ônibus espacial Challenger, logo após seu lançamento, maculou o programa da Nasa (Imagem: Nasa)

Por um lado, o programa estadunidense revolucionou áreas da ciência e tecnologia, como telecomunicações, previsão do tempo e medicina. Uma das missões mais importantes rolou em abril de 1990, quando o Telescópio Espacial Hubble chegou à órbita da Terra carregado num ônibus espacial.

Por outro, a Nasa amargou tragédias no programa. A primeira ocorreu com a Challenger, que explodiu 73 segundos após decolar, em 1986. Toda tripulação, com sete integrantes, morreu no acidente. Entre eles, estava Christa McAuliffe, professora e primeira civil a integrar uma missão espacial.

Quase duas décadas depois, ocorreu o segundo acidente. Desta vez, envolveu a Columbia, primeira do programa a entrar em órbita. Foi uma conquista, mas a nave se desintegrou ao reentrar na atmosfera da Terra. Neste acidente, também morreu a tripulação inteira, com sete integrantes.

Por isso, críticos ao programa acusam falha no seu objetivo principal, que era tornar voos espaciais economicamente viáveis e seguros. Afinal, custou US$ 196 bilhões (R$ 980 bilhões) – quase US$ 1,5 bilhão (R$ 7,5 bilhões) por missão – e a vida de 14 tripulantes. Seu cancelamento veio por conta desse balanço agridoce.

E agora?

Lançamento da cápsula Crew Dragon, da SpaceX
A SpaceX inaugurou uma era na exploração espacial: a de lançamentos realizados por empresas privadas (Imagem: Daniel Oberhaus/Wikimedia Commons)

Depois de aposentar os ônibus espaciais, a Nasa pedia carona à Roscosmos (agencia espacial russa) para mandar astronautas ao espaço. Mas isso não saía de graça, claro.

Cada assento na cápsula Soyuz custava a bagatela de US$ 80 milhões (R$ 400 milhões). E a agência dos EUA sempre mandava dois astronautas por vez. Ou seja, essa brincadeira debitava, pelo menos, US$ 160 milhões (R$ 500 milhões) dos cofres públicos.

Enquanto pagava pelas caronas, a Nasa incentivava, por meio do Commercial Crew Program (Programa de Tripulação Comercial, em tradução livre), empresas estadunidenses a desenvolverem maneiras baratas de levar seus astronautas à EEI. Demorou, mas deu resultado.

No começo de 2020, após uma corrida maluca entre Boeing e SpaceX, a empresa de Elon Musk emplacou o primeiro voo espacial tripulado realizado por uma empresa privada. A missão Demo-2 levou uma dupla de astronautas, a bordo da cápsula Crew Dragon, até a EEI. Meses depois, os trouxe de volta – sem tragédias desta vez. Enquanto isso, ônibus espaciais descansam em museus.

Fonte: UOL Educação

Imagem de destaque: Arquivo Nacional dos EUA

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