“O Brasileiro é apaixonado por carro”, essa frase já foi muito usada em comerciais de automóveis, peças automotivas e uma série de outros produtos e serviços ligados a esse mercado. Porém, além de um clichê da publicidade, o Brasil figura entre os dez maiores mercados automotivos do mundo, mesmo com os carros por aqui custando muito mais caro do que em outros países, como Estados Unidos e China.

De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em 2021, foram vendidos 1,97 milhão de automóveis e veículos comerciais leves no Brasil. O número é cerca de 20 vezes menor do que o número de carros vendidos na China, que é a líder do ranking com 21,46 milhões, e em torno de 15 vezes menos do que os 15 milhões dos Estados Unidos.

Além do cenário político e econômico instável, que desestimula a aquisição de bens duráveis, os altos preços também são um forte impeditivo para a compra de carros. Até mesmo os semi-novos e usados, que eram opções mais realistas para quem queria comprar um veículo, estão cada vez mais caros, fazendo com que o Brasileiro opte por deixar a garagem vazia ou adie a ideia de trocar de carro.

Impostos são só a ponta do iceberg

Mas afinal, por que os carros são tão caros no Brasil? Não existe uma resposta simples para essa pergunta, já que são várias razões. O senso comum diz que a razão é única e exclusivamente a alta carga tributária. Esse entendimento não está incorreto, já que muitos impostos incidem sobre os veículos, mas está longe de ser o único motivo para a carestia dos automóveis por aqui.

Renault Kwid 2023
(Taxação pode ser a principal, mas não é a única razão dos carros serem caros por aqui. Imagem: Renault/Divulgação)

Sobre um carro nacional, incidem basicamente o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). Além disso, ainda é necessário pagar anualmente o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e licenciamento.

Parte desses tributos, inclusive, incidem de uma maneira que os economistas chamam de cascata, ou seja, são cobrados em todas as fases da cadeia de produção e distribuição dos veículos. Isso significa que um mesmo imposto pode ser cobrado em duas ou mais etapas, desde a confecção das autopeças, montagem do veículo, transporte e na venda no varejo, na concessionária.

Crise elevou o “Custo Brasil”

Testagem Covid-19
(Covid-19 contribuiu para desaquecer um mercado que já estava em queda no Brasil. Imagem: Noiel/Shutterstock)

Outro fator que deixa os carros mais caros no Brasil é o fato de o país ter dimensões continentais e uma malha de transporte majoritariamente feita por rodovias. Este modal de transporte encarece bastante o translado dos veículos desde as fábricas até as concessionárias. Todos esses fatores formam o chamado “custo Brasil”, que é colocado como a principal razão dos altos valores dos veículos por aqui.

Mas o custo Brasil não é a única razão que faz os carros serem tão caros por aqui. Desde 2015, a venda de automóveis tem caído ano após ano, com alguns poucos períodos de altas sensíveis no número de veículos emplacados. Essas sucessivas quedas se dão pela crise econômica que o país vive desde então, cenário que foi agravado com a pandemia da Covid-19, principalmente entre 2020 e 2021.

A cultura do carro caro

VW Polo Track 2023
(O brasileiro não assume, mas, no fundo, até gosta de pagar mais caro em seus carros. Imagem: Volkswagen/Divulgação)

Porém, além dos aspectos econômicos, algumas questões culturais também contribuem para o alto valor dos automóveis nacionais e importados. Desde sempre, carros são sinônimos de status, e isso não é uma exclusividade brasileira, muito pelo contrário. No entanto, montadoras internacionais encontraram terreno fértil para engordar suas margens de lucro, mesmo que nenhuma delas admita isso.

Tomando como exemplo a Volkswagen, o hatch Polo, que ficou mais barato no Brasil após a “aposentadoria” do Gol, tem preço de partida de cerca de R$ 83 mil. Enquanto isso, na Europa, o mesmo veículo custa em torno de 16 mil euros (cerca de R$ 89,5 mil, na conversão direta), mas em uma versão bem mais completa, que, por aqui, passa dos R$ 100 mil.

Além dos impostos e do custo Brasil, existe uma tradição do brasileiro de pagar caro nos carros, as montadoras dão os preços, e os consumidores pagam, até reclamam, mas pagam. No México, por exemplo, que também é um país de grandes dimensões territoriais, população bastante empobrecida e constantes crises econômicas, o custo de produção chega a ser 44% menor, enquanto o de venda, 33%.

Imagem de capa: Avigator Fortuner/Shutterstock

Fontes: Auto Esporte, Quatro Rodas e Notícias Automotivas

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