O crânio de uma mulher do povo lombardo que data do início da Idade Média, encontrado na Itália, chamou a atenção de pesquisadores. Tudo por conta de uma incisão na forma de cruz que indica que ela passou por duas cirurgias de craniotomia e na segunda delas provavelmente ela não sobreviveu.

A marca da primeira craniotomia é uma grande incisão de cruz no topo da cabeça da mulher, o que indica que boa parte do seu couro cabeludo foi puxado para trás a fim de permitir a cirurgia, a outra é uma raspagem realizada na testa.

Supomos que este indivíduo morreu de patologias que podem estar relacionadas com a sua condição, mas não temos certeza sobre o motivo.

Ileana Micarelli, autor do  estudo, em resposta a à LiveScience 

A primeira das cirurgias provavelmente aconteceu no máximo três meses antes da morte da mulher devido a cicatrização incompleta de um osso oval no topo do crânio, na incisão de cruz. 

No entanto, o vestígio da segunda cirurgia mostra uma raspagem que não atravessa o crânio todo e não existe processo de cicatrização O que indica que provavelmente ela morreu antes da cirurgia finalizar.

Na segunda imagem do crânio da mulher lombarda é possível ver uma incisão em forma de cruz, parcialmente cicatrizada. Na primeira é possível ver uma raspagem do osso da testa. Ambas podem indicar uma craniotomia. (Credito: Micarelli et al., International Journal of Osteoarchaeology 2023)

As causas do que levou a mulher lombarda a passar por essas duas cirurgias dolorosas ainda são desconhecidas, mas os cientistas têm sugestões. Dois abscessos encontrados na mandíbula superior do crânio podem ter espalhado uma infecção para o cérebro.

O povo lombardo e a descoberta do crânio

O crânio da mulher foi encontrado em um cemitério no Castel Trosino, durante escavações do século 19. Outras centenas de restos mortais foram encontrados no local, mas apenas 19 crânios sobreviveram.

O Castel Trosino foi uma fortaleza dos povos lombardos que invadiram e se estabeleceram na Itália por volta do séculos 6 e 8, após a queda do império romano. A recente pesquisa realizada no crânio aponta que provavelmente, se tratava de uma mulher rica. No entanto, a falta do restante do corpo dela não permite que uma análise mais completa seja realizada.

Mas a análise também não mostra razões para que a mulher tenha se submetido aos procedimentos voluntariamente, já que elas provavelmente foram extremamente dolorosas.

Cirurgia antiga

Registros de craniotomia já foram encontrados em todos os continentes e trata-se uma prática antiga e conhecida, podendo ter acontecido pela primeira vez a milhares de anos atrás. A trepanação geralmente era usada para aliviar um trauma no crânio, mas  possivelmente também possuía uma tradição ritualística em alguns locais.

Apesar disso, arqueólogos não envolvidos na pesquisa não acreditam que o crânio da mulher lombarda realmente passou por duas trepanações, mas sim tentativas de raspar o osso infectado.

Eu [nunca] vi uma trepanação como esta, se é que é realmente uma trepanação. Este é um caso complexo com vários cenários possíveis para explicar a reação óssea.

Kent Johnson, bioarqueólogo.