Nos últimos dois meses, os Estados Unidos sinalizaram a múltiplos integrantes do governo Lula o interesse em promover investimentos na cadeia de semicondutores no Brasil. Assim, o governo americano busca se aproximar dos vizinhos americanos, enquanto provoca a China na chamada “guerra dos chips”.
Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, a secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, levantou o assunto durante a visita do presidente brasileiro à Casa Branca. Ali, ela mencionou oportunidades de investimento em várias etapas da cadeia de semicondutores que surgirão com a chamada Lei dos Chips.
Esta lei é um pacote de US$ 52 bilhões que foi aprovado pelo Congresso norte-americano com o objetivo de estimular a indústria, ao mesmo tempo em que se reduz a dependência de países asiáticos e se busca a manutenção do país à frente do rival na guerra tecnológica.
Além deste pacote bilionário, os Estados Unidos impuseram uma série de restrições à exportação de chips, tecnologia e equipamentos para a China. O objetivo desta medida é atrasar o desenvolvimento do rival.
Além do contato com Lula na Casa Branca, a secretária Raimondo fez um telefonema ao vice-presidente Geraldo Alckmin em 15 de fevereiro, onde voltou a falar em investimentos na cadeia de semicondutores no Brasil. Nesta quarta-feira, 8 de março, a Representante do Comércio dos EUA, Katherine Tai, virá ao Brasil acompanhada de uma delegação de empresários que desejam investir no país, o que inclui a área de semicondutores.
Caso um investimento dos EUA na cadeia de semicondutores no Brasil aconteça, ele viria com diversas restrições a exportações ou negócios com a China. A Lei dos Chips americana impõe que empresas que receberem fundos americanos sejam impedidas de participar de qualquer negócio que envolva fabricação ou aumento de capacidade de produção de certos semicondutores na China em um prazo de 10 anos, com exceção de negócios pré-existentes, que não poderão ser ampliados.
Outra condicionante diz respeito a uma diretriz a que o governo Biden recorre. Trata-se da regra do produto estrangeiro direto, que proíbe indústrias que usem software, tecnologia ou maquinário americano, em qualquer lugar do mundo, de exportar determinados chips e componentes para a China sem a autorização dos Estados Unidos.
O país quer transferir a produção de semicondutores de países asiáticos, mais distantes geograficamente e potencialmente vulneráveis a pressões da China, para países ocidentais e mais próximos de seu território, o chamado nearshoring, como México, Brasil e Costa Rica.
Brasil e semicondutores
No momento, o Brasil conta com 11 grandes empresas na cadeia de produção de semicondutores. No entanto, a capacidade é apenas para a finalização dos componentes, tão atuando no frontend, etapa em que o componente é fabricado, tecnologia restrita a poucos países.
Segundo avaliação do Ministério do Desenvolvimento, com um investimento grande neste mercado, assim como transferência de tecnologia, as plantas já existentes no país poderiam passar a atuar também no frontend de semicondutores menos avançados, começando a fabricar no médio prazo, algo entre 10 e 15 anos, chips de 14 nanômetros que consigam abastecer a indústria automobilística doméstica.
O Brasil não tem condições de ser um player mundial, mas ele pode ocupar elos da cadeia mundial de suprimentos com parcerias.
Uallace Moreira, secretário de Desenvolvimento Industrial do MDIC (via Folha)
O que são semicondutores?
Semicondutores são processadores minúsculos no centro da tecnologia de objetos como celulares, carros autônomos, computação avançada, drones e até equipamentos militares. Estes chips estão no centro do conflito tecnológico entre Estados Unidos e China.
A pandemia da Covid-19 causou uma escassez global de semicondutores, o que agora faz com que diversos países busquem investir para reduzir a dependência de importações destas peças, passando a encontrar fornecedores mais próximos geograficamente.
Fonte: Olhar Digital
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