Temos um novo cometa no céu. Descoberto no início do ano de forma indepentende pelos programas Tsuchinshan e ATLAS, o cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) por enquanto está distante e apresenta um brilho bem fraco, mas os astrônomos acreditam que ele deve estar visível a olho nu nos últimos meses de 2024 e talvez, ser o mais brilhante desde 2007, quando o Cometa McNaught (foto de capa) deu um verdadeiro espetáculo no céu.
A descoberta
Na noite de 22 de fevereiro de 2023, durante uma sessão de busca utilizando um dos telescópios do ATLAS na África do Sul, foi detectado um tênue objeto a 1,09 bilhões de km de distância, na direção da Constelação do Serpentário. Após os cálculos orbitais, percebeu-se que este era o mesmo objeto registrado no Observatório de Zijinshan, na China, no início de janeiro, mas como não houve nenhuma observação de rastreamento, ele foi removido da lista de objetos a confirmar e considerado perdido.
Como as duas observações foram realizadas de forma independente, os dois programas de busca foram considerados co-descobridores do Cometa pelo Minor Planet Center (organização americana que centraliza os dados de asteroides e cometas descobertos no Sistema Solar), que deu a ele o nome de C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS).
Depois disso, o cometa ainda foi encontrado em imagens do Zwicky Transient Facility (ZTF) feitas no Observatório Palomar em 22 de dezembro de 2022. Com base nos dados captados pelo ZTF, foi possível determinar sua órbita com mais precisão e confirmar sua natureza cometária, já que as imagens mostraram o objeto com uma coma bastante densa e uma pequena e estreita cauda com um comprimento de apenas 10 segundos de arco.
Órbita
Com base nos dados observacionais de um total de 74 dias, a órbita do Cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS) foi calculada como sendo uma órbita hiperbólica e retrógrada, com inclinação de 139° em relação ao Plano da Eclíptica e com seu periélio (máxima aproximação do Sol) previsto para ocorrer em 27 de setembro de 2024, quando passará a cerca de 58,5 milhões de quilômetros do Sol.
A órbita retrógrada significa que o cometa se aproxima na direção contrária à direção em que os planetas orbitam o Sol. Já o termo hiperbólico, indica que a órbita deste cometa não descreve uma elipse e sim, uma hipérbole. Cometas com órbita hiperbólica normalmente têm origem na nuvem de Oort e fazem uma passagem única pelo Sistema Solar Interior, sendo lançados para o espaço interplanetário após essa passagem.
Em 12 de outubro de 2024, o Cometa Tsuchinshan-ATLAS deve fazer sua maior aproximação da Terra, a cerca de 70,8 milhões de quilômetros do nosso planeta. Neste
dia, ele será visível no início da noite, em meio à luminosidade do crepúsculo. Mas se as previsões mais otimistas se confirmarem, poderemos ver ele a olho nu e dando um verdadeiro espetáculo no céu.
Espetáculo no céu? Será?
Por enquanto ainda são previsões baseadas em modelos matemáticos. Essas previsões podem falhar e o cometa pode surpreender aqueles que já começam a planejar a sua observação para o ano que vem. Mas o que se espera dele?
De acordo com o site astro.vanbuitenen.nl, que monitora os principais cometas em atividade, os cálculos iniciais baseados na circular do MPC que oficializou o cometa, seu brilho poderia atingir magnitude 1.7 no dia da máxima aproximação. Isso já seria um brilho similar a algumas das estrelas mais brilhantes do céu, mas os cálculos atualizados com observações mais recentes mostram que esse brilho pode atingir a magnitude 0.7.
A escala de magnitude estelar é invertida e não linear, ou seja, quanto maior a magnitude, maior o brilho. E a uma magnitude a menos, equivale a um brilho cerca de 2,5 vezes maior. Ou seja, pelos cálculos atualizados, o brilho do cometa deve ser 2 vezes e meia maior que a expectativa inicial, que já era boa. Mas melhora.
Durante a sua máxima aproximação com a Terra, dependendo da quantidade de gás e poeira que este cometa lançar no espaço, poderá ocorrer um fenômeno óptico conhecido como “espalhamento frontal”, que é uma magnificação do brilho pela refração da luz solar nas partículas de poeira do cometa quando ele está entre a Terra e o Sol. E se isso ocorrer, o brilho do C/2023 A3, pode ser incrementado em até 4 magnitudes, o que, na prática, pode fazer com que ele brilhe até 40 vezes mais intensamente.
Se as previsões mais otimistas se confirmarem, o Cometa Tsuchinshan-ATLAS pode brilhar mais intensamente que o Cometa Lovejoy (que em 2011 atingiu magnitude -3,3) e ser o cometa mais brilhante dos últimos 15 anos. Nesse caso, não seria apenas um cometa visível a olho nu, mas sim um verdadeiro espetáculo celeste, daqueles que não vemos há muito tempo.
Nem tudo são flores…
Muitas coisas podem acontecer nos próximos 18 meses que podem afetar a observação do Cometa C/2023 A3 (Tsunchinshan-ATLAS) em sua maior aproximação com a Terra. Apesar de haverem muitos astrônomos que tentam prever o comportamento desses astros, cometas são imprevisíveis e podem, em certos casos, decepcionar a quem espera um espetáculo celeste.
Baixa atividade cometária: um dos fatores que contribuem para isso, é que esta será, provavelmente, a primeira e a última vez que este cometa visita o interior do Sistema Solar. Nessas condições, geralmente eles são mais compactos e podem não ter uma atividade tão intensa quando se aproximam do Sol. Se isso acontecer com o Tsunchinshan-ATLAS, seu brilho pode ser bem mais fraco e, mesmo que seja visível a olho nu, não seria tão espetacular como gostaríamos.
Muito gelo e pouca poeira: o gelo de água e os gases congelados no interior do cometa é que proporcionam o show quando eles vaporizam na aproximação com o Sol. Mas o brilho de um cometa depende muito mais da quantidade de poeira que ele ejeta junto com esses gases. Assim, se o C/2023 A3 tiver uma quantidade pequena de poeira, ele pode não ser tão brilhante quanto o previsto, mas se tiver um núcleo bastante empoeirado, pode brilhar ainda mais do que o esperado.
Desintegração: não conhecemos a composição nem a estrutura do núcleo deste cometa. E a pior situação que se possa imaginar é que ele seja frágil, e não suporte a pressão do gelo sublimando em seu interior. Dessa forma, ele pode se fragmentar durante sua aproximação com o Sol e, caso isso ocorra, é possível que ele se desintegre antes de sua aproximação com a Terra.
Um ano e meio de expectativas
Por enquanto, o Cometa C/2023 A3 (Tsunchinshan-ATLAS) está distante, com um brilho tão fraco que só é acessível aos grandes telescópios. Mas à medida em que ele for se aproximando do Sol e do nosso planeta, seu brilho vai aumentando e a nossa expectativa também. Até outubro de 2024, serão 18 meses de expectativas para todos aqueles apaixonados pela astronomia e que desejam contemplar um espetáculo como esse.
Conforme novas observações forem adicionadas às bases de dados, será possível comparar, ao longo do tempo, se elas estão de acordo com as previsões e ter uma ideia se este cometa pretende seguir as previsões ou nos surpreender, negativa ou positivamente. É claro que todos esperam que as previsões mais otimistas sejam confirmadas, e até mesmo superadas, para que o Cometa Tsunchinshan-ATLAS possa nos proporcionar um dos mais belos fenômenos astronômicos que pode ser visto a olho nu.
Fonte: Olhar Digital
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