“De certa forma o favoritismo é um pouco nosso”. A frase foi André, do Fluminense, e logo ganhou destaque nas redes sociais pela franqueza. Do outro lado estará o arquirrival Flamengo, atual campeão da Libertadores e com um elenco milionário, repleto de estrelas. Mesmo assim poucos são capazes de questionar a lógica do volante tricolor para o Fla-Flu.
Reconhecer o próprio favoritismo costuma ser prato-cheio para preleções emotivas. André correu o risco na coletiva pré-jogo, mas sua fala previa problemas ainda maiores para o Tricolor, pela necessidade de reação do Rubro-Negro em um jogo em que, inicialmente, pouco valor tem para o restante do Carioca.
Mas será o Flu realmente favorito no clássico? Vamos aos argumentos.
Como um time que terminou o ano campeão da Libertadores e da Copa do Brasil chega em março em crise profunda? O roteiro improvável exige muitos erros e decepções em sequência, mas essa é a realidade atual na Gávea.
A história começa ainda em 2022 quando a diretoria do Flamengo decide tomar uma decisão ousada. Dorival Júnior, técnico campeão dos dois títulos, foi dispensado para a chegada de Vítor Pereira, ex-Corinthians. O clube via a necessidade de mudança de rumo, mesmo ciente de que o novo treinador teria pouco tempo para preparar o Rubro-Negro para disputar três títulos. Acabou por perder a Supercopa, o Mundial de Clubes e a Recopa Sul-Americana.
Para piorar, a derrota para o Vasco da Gama no último fim de semana elevou a pressão no Flamengo. Enquanto isso, o Flu goleava o Bangu e preparava a festa para o retorno do ídolo Marcelo.
De 2019 para cá, o Flamengo tem sido a grande potência do futebol brasileiro e sul-americano, ao lado do Palmeiras. Não há rivais além do Alviverde que não entre em campo como “azarão” contra o time rubro-negro… Com exceção do Fluminense.
Mesmo sem viver momento de opulência como o arquirrival carioca, o Fluminense tem sido uma verdadeira pedra no sapato do Flamengo ao longo desse período. Nos últimos 11 Fla-Flus, o Tricolor levou a melhor em sete, com dois empates e apenas duas vitórias do Fla.
Vale aqui uma ressalva: todos os jogos foram apertados, apesar da vantagem do Fluminense. Apenas três deles tiveram dois gols de vantagem – um 2 a 0 e um 3 a 1 a favor do Flu e um 3 a 1 a favor do Fla.
Fernando Diniz muitas vezes é criticado pela falta de consistência defensiva de suas equipes. Não tem sido exatamente um problema no seu retorno ao Fluminense. Muito pelo contrário: o time é a melhor defesa entre os clubes da Série A em 2023.
Ao todo, o Fluminense disputou 10 jogos na temporada. Todos pelo Campeonato Carioca. Embora tenha poupado titulares em algumas pelejas e tenha demorado a embalar no estadual, o Tricolor sofreu apenas três gols até o momento. O último gol sofrido já tem mais de um mês, na derrota por 1 a 0 para o Volta Redonda, sensação do torneio.
A comparação pode render alguma polêmica. Historicamente, Vítor Pereira tem um currículo mais recheado de conquistas que Fernando Diniz, que ainda carrega a fama de “azarado” pela falta de títulos na elite. Mas o momento de ambos é distinto, e o histórico recente nos clássicos também.
Mesmo em situação de “desvantagem”, Fernando Diniz tem retrospecto positivo contra o Flamengo – 5 vitórias, 3 empates e 4 derrotas. Nos últimos seis confrontos, venceu quatro, no comando de Fluminense e São Paulo.
Do outro lado, Vítor Pereira tem sofrido em clássicos desde que chegou ao Brasil. Pelo Corinthians, venceu apenas dois, ambas contra o Santos, com três empates e seis derrotas no retrospecto contra os grandes paulistas. No Fla, VP venceu o Botafogo e perdeu para o Vasco.
Diniz parece ter encontrado o seu time ideal para o Fluminense (ao menos enquanto espera por Marcelo), e vai ter todos à disposição. Na realidade, Manoel é o único titular a desfalcar a equipe, e o substituto, David Braz, tem sido um dos destaques em 2023. Como ainda não tem a classificação matematicamente garantida, o técnico vai com força máxima sem questionamentos. A equipe deve jogar com: Fábio; Samuel Xavier, Nino, David Braz e Alexsander; André, Martinelli, Ganso e Arias; Keno e Cano.
No caso de Vítor Pereira as escolhas são mais difíceis. O Flamengo já está nas semifinais do Carioca e poderia usar a partida para poupar atletas. Mas a pressão torna a decisão mais complexa, e perder mais um clássico e mais um título, mesmo que simbólico como a Taça Guanabara, certamente vai intensificar ainda mais o clima de crise. Pedro, por exemplo, foi relacionado, mas ainda em recuperação de lesão, e pode ter de entrar em campo por conta da rivalidade.
O Fla ainda conta com desfalques como Bruno Henrique (fora por longa temporada), David Luiz, Pulgar, Filipe Luís e Thiago Maia. O time que deve ir a campo é: Santos; Fabrício Bruno, Rodrigo Caio e Pablo; Matheuzinho, Vidal, Gerson, Everton Ribeiro, Arrascaeta e Ayrton Lucas; Gabigol.
Os argumentos podem indicar um Fluminense favorito, como disse André. Mas o Flamengo tem sofrido nos clássicos justamente em seu melhor período desde a Era Zico, quando teve de conviver com o favoritismo do seu lado. O futebol nem sempre respeita a lógica, e como já diz a máxima “Clássico é clássico e vice-versa”.
Fonte: Ogol
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