Um artigo publicado este mês na revista científica Nature Microbiology descreve a descoberta de uma nova espécie de bactéria florescendo em plumas de fontes termais localizadas nos oceanos de toda a Terra. Como existem fontes termais semelhantes em outros mundos oceânicos, essa bactéria poderia ajudar os astrônomos na busca por vida alienígena.
Segundo o estudo, provavelmente também existem fontes do tipo nas luas Europa, de Júpiter, e Encélado, de Saturno. “Assim, essas observações aguçam nossa compreensão das formas que a vida alienígena pode assumir nessas luas”, dizem os autores.
A bactéria recém-descoberta, Sulfurimonas pluma, pertence a uma família de organismos que até hoje só eram conhecidos a partir de aberturas vulcânicas no fundo do mar, já que não são capazes de tolerar altos níveis de oxigênio em outras águas do planeta.
Assim, os cientistas ficaram surpresos ao encontrar um novo membro, menor do que seus parentes, florescendo em plumas de água ricas em oxigênio a centenas de metros de distância deles.
“Foi um crescente de excitação ver que esses microrganismos não eram apenas abundantes, mas também altamente ativos na pluma”, disse Massimiliano Molari, cientista do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha, na Alemanha, ao site Space.com.
Molari foi o principal autor do último estudo, que descobriu que o S. pluma passou por mudanças genéticas únicas que lhe permitem não apenas se adaptar, mas também prosperar em uma ampla gama de ambientes nos oceanos da Terra.
“Uma dessas mudanças genéticas tornou a bactéria capaz de obter energia de muitas fontes, e é por isso que é abundantemente vista perto de fontes ricas em hidrogênio no fundo do mar, bem como plumas ricas em oxigênio a milhares de quilômetros de distância”, diz o artigo.
Os pesquisadores descobriram que o organismo usa principalmente hidrogênio para se multiplicar e crescer de forma onipresente. “Isso nunca foi observado antes neste tipo de ambiente”, disse Molari.
Por que isso pode ser útil na busca por vida alienígena?
“A presença global desse organismo flexível nos oceanos da Terra remove uma barreira intelectual de nossa capacidade de conceber que algo comparável possa surgir em outras partes do Sistema Solar”, disse Chris German, cientista sênior do Instituto Oceanográfico Woods Hole, que não esteve envolvido no estudo alemão.
A missão Cassini, da NASA, que estudou Saturno e suas luas de 2004 a 2017, encontrou hidrogênio nos jatos em erupção do polo sul de Encélado, sugerindo uma ventilação hidrotermal ativa rica em hidrogênio no fundo do seu oceano – exatamente como as da Terra.
Fontes hidrotermais se formam quando a água do mar fria e rica em oxigênio se infiltra em rachaduras na crosta terrestre e sopra de volta assim que encontra o magma quente subjacente.
O calor desencadeia reações químicas que removem o oxigênio da água, por isso retorna ao oceano perdendo oxigênio, mas ganhando outros minerais necessários para que os micróbios se desenvolvam.
Os cientistas dividem o que acontece depois em dois estágios. Primeiro, a pluma quente resultante sobe centenas de metros para cima do fundo do mar até ficar sem vapor. Em seguida, se espalha horizontalmente por milhares de quilômetros, durante os quais se torna oxigenada, graças à mistura com a água do mar rica em oxigênio circundante.
Grande parte do crescimento microbiano acontece na segunda fase, na qual a equipe de estudo encontrou S. pluma em abundância em amostras de água coletadas dos oceanos Ártico e Antártico.
“Os resultados do último estudo mostram que esse micróbio pode sobreviver em todas as partes de uma pluma hidrotermal através dos oceanos da Terra”, disse Morgan Cable, pesquisador do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA, que não está envolvido com a pesquisa.
Com base nessas observações, os astrônomos esperam um processo semelhante de dois estágios a partir de plumas vulcânicas de águas profundas nos fundos marinhos de Europa e Encélado, embora as dimensões e escalas de tempo possam ser diferentes dependendo da atração gravitacional dos corpos e de como suas águas oceânicas circulam.
Assim, espera-se que possíveis microrganismos sejam detectados por futuras missões de procura por vida além da Terra, incluindo a Europa Clipper, que será lançada em 2024 para estudar a habitabilidade da lua Europa, e o Enceladus Orbilander, que caçará sinais de vida na superfície do sexto maior satélite natural de Saturno (ambas, missões da NASA).
“Qualquer vida nesses mundos provavelmente está escondida abaixo de suas superfícies geladas. Portanto, é importante considerar onde as evidências para ele podem acabar em uma condição que o deixaria reconhecível para a espaçonave encontrá-lo”, disse German.
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Fonte: Olhar Digital
Comentários