Quinta-feira, Novembro 14, 2024
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Sufocada pelas tintas e agruras do tempo, Casa do Artesão agora é prédio vivo que transpira cultura

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“Estou aqui há 100 anos servindo. Sou um ladrilho hidráulico, tenho muita resistência e força. Atrás de mim, tem a sabedoria de todos os mestres, todos os oleiros e pedreiros que me fizeram. Escute o que estamos falando, que você vai escutar toda a civilização e todos os artistas”.

O trecho é a narrativa do que o restaurador e conservador, Antônio Sarasá ouviu do piso. Responsável pelo projeto de restauro da Casa do Artesão, antes de qualquer um adentrar ao espaço, ele faz o convite: é preciso ouvir o que o prédio tem a dizer para entender sua história.

O piso centenário, o tijolo à vista, a fachada imponente da casa que já guardou tesouros. Da esquina da Avenida Afonso Pena com a Calógeras, a Casa do Artesão antes de ser templo das artes, foi sede da primeira agência do Banco do Brasil de Campo Grande, e viu a partir dali a cidade crescer.

Endereço de encontro para quem procura levar a história e a cultura de Mato Grosso do Sul para terras forasteiras através dos bugrinhos, as artes em osso, madeira, cerâmica kadiwéu, terena, e das mais diversas, hoje o que se vê da calçada é um prédio que transpira cultura.

“Ele estava sufocado por pinturas acrílicas, já tinha perdido as formas. Com vários problemas de estrutura, umidade nas paredes. Fomos removendo todas as pinturas, e usamos uma tinta mineral transpirante, que você pode ver que se mostra a cada momento de uma forma diferente. Ela mancha, sabe por que? Porque é que nem a nossa pele. A casa também está transpirando, quando chove o prédio ganha uma nuance, bate o sol e depois volta. São casas que se mostram vivas”, descreve o restaurador.

A arquitetura

Público na inauguração da Casa do Artesão

Construído entre 1928 e 1923, sob as ordens de Francisco Cetraro e Pasquele Cândida, com projeto do engenheiro Camilo Boni, o prédio só foi destinado ao artesanato em setembro de 1975.

Agora, no processo de prospecção, o imóvel se mostrou com a cor de terra que hoje estampam as paredes por dentro. As janelas foram decapadas, como quem num processo intervencionista consegue adiar a morte. “A arte tem essa condição, a de suspender a morte”, poetiza Sarasá.

No teto, o visitante olha para todo um trabalho de reidratação e reestruturação de madeiras entalhadas a mão, e o gradil que outrora ficou enferrujado hoje brilha graças à limpeza e estabilização.

A parede de tijolos à vista com cerâmica exalta os quatro elementos: água, ar, terra e fogo. “Além da alma do oleiro, do ceramista. Aqui nós mostramos a fisiologia do edifício, que como nosso corpo, não é oco”, compara Sarasá.

Entre poesia, arquitetura, restauro e conservação, a história não passa batido. E logo no centro da casa aparece o antigo cofre que outrora guardou o dinheiro de uma cidade.

Artesanato

No amplo salão da casa, mobiliários que prestigiam a venda de artesanato genuinamente sul-mato-grossense, estão onças e indígenas em cerâmica, capivaras e santas em madeira, colares, bolsas, camisetas, peças que trazem consigo toda trajetória terena e kadiwéu, oratórios, imãs, chaveiros. Por onde se olha, se encontra arte. Todas elas etiquetadas, com valor e o nome de quem criou.

Gerente de artesanato da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Katienka Klain relembra que a ideia do restauro deu os primeiros passos lá em 2007, seguida de inúmeras tentativas de captar recursos junto a editais. Até que em 2016, o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul anunciou que bancaria com recursos 100% próprios o sonho de cada um dos 4 mil artesãos registrados no Estado.

“Nossa grandiosidade é que o dinheiro foi investido nos artesãos e na cultura sul-mato-grossense”, agradece Katienka.

Em baixa temporada, a Casa do Artesão rende cerca de R$ 80 mil aos trabalhadores, já em épocas de férias, o valor chegar a R$ 300 mil. “Isso gera economia, geração de renda, tem artesão que só deixa peça aqui e consegue ficar em casa, só produzindo, porque a parte comercial está aqui”, explica Katienka.

Nas 2 mil peças que a Casa do Artesão expõem, têm por trás pelo menos 800 artesãos. “Que levam um pouquinho da nossa história de Mato Grosso do Sul e de Campo Grande para o mundo”, completa o diretor-presidente da Fundação de Cultura, Max Freitas.

Local está aberto ao público desde domingo

Investimento

Foram investidos R$ 2,5 milhões de reais no restauro e conservação da Casa do Artesão. Toda a verba vem do programa “Retomada MS”, do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul.

Titular da Setescc (Secretaria Estadual de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), Marcelo Miranda, pontua o quanto o atrativo turístico vai ao encontro da proposta do Governo Riedel.

“Trabalhando a transversalidade, que tanto o governador Eduardo Riedel nos cobra, aqui estamos unindo cultura e turismo para valorizar a arte de Mato Grosso do Sul. Para as pessoas que vem de fora, estamos colocando este local no roteiro turístico, mas é importante também dar visibilidade para que o povo do Estado tenha a Casa do Artesão como ponto de visitação”, ressalta Marcelo Miranda.

A Casa do Artesão funciona na Avenida Calógeras, 2050, esquina com a Avenida Afonso Pena. O horário de atendimento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h e aos sábados, das 8h às 16h.

Paula Maciulevicius, Comunicação Setescc
Foto de capa: Saul Schramm

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