No início desta semana, quatro gigantes do meio automotivo suspenderam a produção no Brasil em algumas instalações por conta da desaceleração do mercado. Com a demanda apontando para baixo, o posicionamento das montadoras é que não faz sentido continuar repondo estoque nos pátios.

Relembre o caso

Venda de carros
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Com queda na procura e carros “sobrando”, havia esperança de um eventual reajuste nos preços, como dita a famosa lei da oferta e da demanda. No entanto, não é dessa vez que isso acontecerá e um dos culpados é a pandemia.

O consenso é que as montadoras não vão abdicar das margens por conta dos últimos anos difíceis. O economista do FGV IBRE, André Braz, falou mais sobre o tema aqui no Olhar Digital e como a indústria automotiva chegou ao seu momento atual. 

Tudo começou com a pandemia, aponta o especialista.

Os preços subiram nos últimos anos em função de gargalos na estrutura produtiva. A partir da Covid, não chegava a indústria nacional componentes necessários para montar os carros. Então, começou a ter falta de veículo no mercado e o preço disparou (…) Os custos de produção, metais de modo geral, resinas plásticas, tudo que você imagina que faz parte de um automóvel, também subiu de preço na pandemia. Isso ajudou os carros a ficar muito mais caros de 2020 para cá

Para piorar a situação, 2022 praticamente começou com a guerra na Ucrânia, que trouxe novos desafios nos preços de materiais essenciais para a indústria automotiva. Outro vilão foi a aceleração da inflação no país, que fez a taxas de juros subir.

Hoje, nós temos uma taxa de juros de 13,75%. Isso faz com que os juros de financiamento automotivo também fiquem mais caros e que as famílias adiem esse consumo

Um dos efeitos colaterais do juro alto, é justamente a queda nas vendas, apontou Braz.

Se as vendas vão desacelerando, a indústria também paralisa para não ficar com pátios lotados de veículos. É uma forma de também regular preços. Se não oferta muitos carros, ela (a indústria) retarda a queda de preços

André Braz, economista do FGV IBRE

Como contexto, dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) mostram que 2023 começou lento e com baixa de 34% nos emplacamentos de automóveis frente a dezembro de 2022. Em fevereiro houve nova queda de 9% em relação a janeiro. 

No fim, essa combinação de fatores — juro alto, falta de peças e demanda reprimida, sem contar com o financiamento mais caro — acabou levando a paralisação das empresas.

Agora vamos à pergunta que não que calar: existe espaço para os carros baixarem de preço no Brasil?  Depende, apesar da queda de preço de insumos e derivados do petróleo, os gargalos continuam afetando as montadoras no Brasil. “A indústria continua reclamando da falta de microchips depois de quase três anos do início da pandemia”, conclui Braz.

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