Ele já foi considerado um iceberg cósmico, uma bola de poeira e um “primo” de Plutão. Mas, sem dúvida, a explicação mais instigante é que se trata de uma nave alienígena com a missão de monitorar a Terra. Um estudo publicado nesta quarta-feira (22) na revista Nature, no entanto, contesta essa hipótese e pode ter desvendado o mistério em torno do excêntrico corpo interestelar conhecido como ‘Oumuamua.
De acordo com a nova abordagem, os movimentos bizarros do objeto não têm relação alguma com tecnologias que possam ter sido desenvolvidas por seres extraterrestres inteligentes.
Esse estranho visitante interestelar foi descoberto em 2017, sendo o primeiro objeto já detectado em nosso sistema solar que se originou fora dele. Desde então, tem levantado diversas suspeitas entre os estudiosos, tornando-se um mistério científico principalmente devido à oscilação da velocidade com que viajou para longe da força gravitacional do Sol.
Tal comportamento é comum de se perceber em cometas, quando o gelo dentro deles começa a ser aquecido conforme se aproximam da nossa estrela, mas ‘Oumuamua não é um cometa.
O objeto em forma de charuto, que tem 400 metros de comprimento e cerca de 40 metros de largura, chegou a ser pensado como tal, mas como não formou cauda nem emitiu uma nuvem de poeira e gás quando se aproximou do Sol, essa possibilidade foi desconsiderada.
Por que não um simples asteroide?
Os cientistas nunca cogitaram que o ‘Oumuamua pode ser apenas um asteroide “diferentão”? Ele até poderia ter passado como um asteroide, já que essas rochas espaciais se movem sozinhas sob a influência da gravidade. Mas, as mudanças incompreensíveis na velocidade que os pesquisadores observaram quando ele estava próximo do Sol descartaram essa hipótese.
Para os autores do artigo recém-divulgado, a explicação está nas moléculas de hidrogênio presas dentro do gelo abaixo da superfície do objeto que podem ter sido liberadas à medida que o Sol o aquecia, influenciando na velocidade de seu o voo através do astro.
Nesse cenário, ‘Oumuamua nasceu em algum sistema planetário distante como um objeto comum, semelhante a um cometa. Em algum momento, centenas de milhões de anos atrás, ele se libertou de seu sistema doméstico e começou uma longa jornada pelo espaço interestelar, onde os raios cósmicos atingiram a água presa em seu corpo e liberaram átomos de hidrogênio, que se recombinaram como moléculas de hidrogênio.
Essas moléculas de hidrogênio permaneceram presas dentro de bolsões no gelo presentes em ‘Oumuamua. Nas temperaturas muito frias do espaço interestelar, esse gelo tem uma estrutura desorganizada e vitrificada.
‘Oumuamua é impulsionado conforme libera hidrogênio
À medida que o objeto viajava através do calor relativo do nosso sistema solar, seu gelo começou a desenvolver uma estrutura um pouco mais organizada, como se estivesse se preparando para cristalizar, assemelhando-se ao gelo da Terra.
Nesse processo, o hidrogênio escapava em quantidades grandes o suficiente para impulsionar o objeto ligeiramente contra a gravidade do Sol.
“Acho que essa explicação faz muito sentido”, disse Marco Micheli, astrônomo do Centro de Coordenação de Objetos Próximos da Terra da Agência Espacial Europeia, na Itália, em declaração ao site Live Science. “É provavelmente o modelo mais consistente até agora que explica completamente o que observamos em ‘Oumuamua sem a necessidade de qualquer explicação exótica”.
Micheli não esteve envolvido no novo estudo, mas escreveu um editorial sobre o trabalho para a Nature.
Segundo os autores do artigo, o efeito hidrogênio provavelmente acontece em cometas normais que se originam no Sistema Solar, mas provavelmente não afeta a velocidade ou a trajetória dos objetos, a menos que eles sejam muito pequenos – como ‘Oumuamua.
“Se pudermos encontrar cometas menores da nuvem de Oort – na borda do Sistema Solar – à medida que eles estão chegando, podemos potencialmente testar se vemos a desgaseificação do hidrogênio”, disse a principal autora do novo estudo, Jennifer Bergner, química da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos EUA.
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Fonte: Olhar Digital
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