Na manhã desta quinta-feira (23), o lutador de jiu-jitsu Antônio “Cara de Sapato”, ex-participante do BBB 23, revelou nos stories do Instagram que ganhou um presente muito especial de um grupo de fãs: uma estrela.

No vídeo, ele mostra o certificado que recebeu atestando a “propriedade” da estrela, que foi batizada de DocShoe. Esse nome representa seu “ship” com Amanda Meirelles, participante que ainda segue no jogo e foi sua principal aliada enquanto ele esteve confinado na casa mais vigiada do Brasil: Doc, de médica (profissão de Amanda), e Shoe, de sapato, em inglês.

Certificado recebido pelo lutador de jiu-jitsu Antônio Cara de Sapato, ex-participante do BBB 23, concedendo a uma estrela do céu o nome de DocShoe, seu “ship” com a médica Amanda Meirelles, que segue na competição. Créditos: Reprodução Instagram e TV Globo

“Bom dia, pessoal. Estou aqui recebendo vários presentes, muito carinho de todo mundo, mas tem uma coisa em especial, que eu estou impressionado, que eu nem sabia que existia essa possibilidade”, inicia o lutador. “Simplesmente, compraram uma estrela no céu, com as coordenadas e tudo, e batizaram de DocShoe. Cara, eu nem sabia que podia. Vocês são demais”.

Como disse o ex-BBB, ele nem sabia que isso era possível. E, realmente… não é. 

Como comprar uma estrela?

Não é a primeira vez que esse assunto vem à tona em um reality show. Em 2021, a modelo Dayane Mello, que participava do programa A Fazenda, na Record TV, também contou que havia ganhado uma estrela de fãs. Isso logo gerou uma série de discussões – e, claro, memes – nas redes sociais na época.

A primeira coisa a se pensar nessa discussão é: para “comprar” uma estrela, alguém precisaria “vendê-la”, e, para isso, esse alguém deveria ser “dono” dela. O problema com isso é que, no espaço, ninguém é dono de nada. Assim, se você não é proprietário do item, você não tem como vendê-lo.

O que muitas empresas fazem é emitir uma espécie de “certificado de nomeação”, por meio do qual uma estrela recebe o seu nome (ou qualquer outro que você desejar), por um determinado preço, que geralmente varia de US$ 60 (pouco mais de R$316, na cotação atual) a US$ 300 (R$1581,00).

Essa média de preço relativamente baixa (em se tratando, pense bem, de uma estrela!) atrai um bom número de pessoas – especialmente em datas como o Dia dos Namorados ou Dia das Mães, por exemplo.

Mas qual a validade disso? Bem, nenhuma.

Órgão nomeia estrelas, mas não as vende

Pois é, em termos práticos, o “nome de uma estrela”, no sentido de “título de referência” ou “identidade”, não pode ser vendido por ninguém, porque ninguém é “dono” dela. 

Então, diferentemente do que foi relatado pela ex-peoa, não é uma questão de “buscar a NASA e pagar”. Na verdade, nem mesmo a NASA oferece esse tipo de serviço, considerando que a agência é um órgão federal ligado ao governo dos EUA, e não a “dona do espaço”.

Batizar uma estrela é uma ação que concerne a uma única entidade: a União Internacional Astronômica (IAU, na sigla em inglês). Baseada em Paris, na França, ela é responsável por aprovar e catalogar nomenclaturas não só de estrelas, como da maioria dos corpos celestes: cometas, asteroides, galáxias, nebulosas etc.

Há um processo específico para isso: as estrelas mais brilhantes recebem o nome da constelação à qual elas pertencem, acompanhadas de uma letra do alfabeto grego para determinar seu grau de importância. Por exemplo: Alpha Centauri e Beta Centauri são, respectivamente, a primeira e segunda estrelas mais brilhantes da constelação de Centauro, nossa vizinha mais próxima. 

Isso vai percorrendo em escala até a última letra do alfabeto grego. A partir daí, a IAU simplesmente enumera as estrelas menos brilhantes com combinações de letras e números.

Então, é golpe?

De onde vem, então, esse “comércio de estrelas”? As fontes divergem em vários aspectos, mas todas parecem apontar para o chamado “Diretório Nacional de Estrelas”, uma entidade comercial especializada em fazer esse tipo de “produto”. Praticamente todas as empresas que oferecem esse tipo de comércio registram os pacotes vendidos com ele – incluindo algumas no Brasil.

No entanto, o diretório não é um corpo astronômico reconhecido e não tem qualquer autoridade para fazer o que faz. Inclusive, uma busca rápida no Google mostra que o Departamento de Assuntos de Consumo de Nova York emitiu diversas multas à entidade por esse motivo.

O serviço deles é, basicamente, identificar uma estrela de baixa relevância nos estudos espaciais (ou seja, menos famosa), marcá-la como “não nomeada” (apesar de ela ser, sim) e dizer ao comprador: “Essa é sua estrela”. 

A partir daí, o interessado paga uma taxa e recebe um “certificado” com as coordenadas da “sua” estrela no céu.

Não existe qualquer validade – científica, de propriedade ou nenhuma outra – nesse documento. Não à toa, há casos e casos de pessoas que levaram o diretório à justiça quando descobriram que as “suas” estrelas já haviam sido nomeadas antes pela IAU. Aliás, diga-se de passagem, se houvesse a remota possibilidade de se nomear uma estrela como sua, isso certamente custaria bem mais do que R$ 300.

O diretório se defende alegando nunca ter prometido que as estrelas pertencem, de fato, aos compradores, e que mesmo nunca assegurou qualquer autoridade no assunto. Mas ele coleciona algumas derrotas na justiça, sob a acusação de “má fé”.

Então, não. Nem Dayane Mello, em 2021, nem Cara de Sapato, em 2023, “ganharam” estrelas de seus fãs. Mas, valem o carinho e a intenção do ato.

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