Depois de cinco longas horas de depoimento nos EUA, o CEO do TikTok, Shou Zi Chew, passou a ser visto na China como um “herói solitário lutando uma difícil batalha contra a paranoia anti-chinesa estadunidense”.

Nesta sexta-feira (24), internautas chineses, comentaristas e pessoas de alto escalão se “reuniram” em torno de Chew, que, até então, era pouco conhecido do público chinês.

A mídia estatal chinesa descreveu a audiência com uma “farsa” e um “constrangimento” para os Estados Unidos. Já o ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, comparou o processo a uma “supressão irracional” do TikTok.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, disse, nesta sexta-feira (24), que a China “não pediu e não pedirá a empresas ou pessoas para coletarem ou proverem informações de dados e inteligência localizados em outros países para o governo chinês, de modo que viole as leis locais”.

O governo dos EUA não divulgou, até o momento, nenhuma evidência de que o TikTok é uma ameaça à segurança nacional deles, mas vem repetidamente fazendo presunções de culpa e suprimindo sem razão as companhias envolvidas”, continuou Mao.

A dona do TikTok, a ByteDance, se irritou com a possibilidade de qualquer possível venda de sua empresa.

Já em Washington, altos funcionários da administração duvidam que eles tenham autoridade legal para banir o TikTok sem o Congresso, segundo um desses funcionários em conversa com o The Washington Post.

No microblog chinês Weibo, Chew atraiu simpatia dos usuários, que o chamaram de “herói solitário” e um “cavalheiro corajoso”, saudando o que eles viram como sua graciosidade sob pressão. Muitos também o saudaram por sua boa aparência e ficaram com pena de sua má sorte. Já outros usuários ridicularizaram os legisladores estadunidenses e polarizaram as políticas ambientais dos EUA.

“A audiência do TikTok mostra que as duas partes podem encontrar um denominador comum – enquanto eles tiverem o CEO de uma plataforma de rede social para servir como saco de pancadas”, escreveu um usuário no Weibo.

“Pobre Shou Zi Chew. Ele é uma ovelha entre lobos. Qualquer desculpa vai servir um tirano”, escreveu Fan Yongpeng, vice-diretor do Instituto da China na Universidade Fudan.

Usuários chineses deploraram os questionamentos agressivos dos legisladores estadunidenses a Chew, dizendo que eles o interromperam várias vezes e tentaram pegá-lo em armadilhas verbais.

Um editorial do periódico estatal chinês Global Times disse que a audiência fez os Estados Unidos parecer um “valentão” para o mundo. Ele criticou o que chamou de “perseguição política” ao TikTok e que os EUA tentaram “forçar o TikTok a jurar fidelidade aos Estados Unidos”.

O influencer e ex-editor do Global Times, Hu Xijin, escreveu que um banimento do TikTok nos EUA poderia causar danos à reputação estadunidense, semelhante a “detonar uma bomba nuclear na Times Square”.

Apesar de tudo, os sensores chineses tentaram conter as críticas online. Várias hashtags sobre a audiência do TikTok foram aparentemente removidas. Apesar da acalorada discussão online, nenhuma hashtag relacionada ao TikTok esteve entre os 50 assuntos mais falados no Weibo. Além disso, um usuário da rede social chinesa reclamou que os vídeos que postou sobre Chew foram deletados pela plataforma.

Enquanto aumentam as preocupações com o futuro do TikTok nos Estados Unidos, algumas empresas chinesas de comércio eletrônico que planejavam fazer negócios no mercado estadunidense via TikTok estão repensando isso. Segundo o canal de mídia de tecnologia chinês Huxiu, várias disseram que estão voltando seu foco para o Sudeste Asiático.

Alguns observadores chineses temeram que o escrutínio ao TikTok prenunciasse o que outras empresas chinesas que operam no Ocidente podem enfrentar em breve.

Entre os dez aplicativos mais baixados na App Store nos Estados Unidos, quatro – incluindo o TikTok – são de origem chinesa. Esses apps incluem o mercado on-line Temu, de propriedade da holding PDD, com sede na China; a gigante da moda rápida Shein; e o editor de vídeo CapCut, também de propriedade da ByteDance.

Um relatório do Fudan Development Institute, que analisou as postagens do Twitter dos legisladores dos EUA, concluiu que muitos estavam “usando o TikTok como ferramenta” para alertar o público americano sobre a ameaça de interferência estrangeira, bem como “criar sensação de crise”.

O relatório concluiu também que, se a tendência atual continuar, todas as partes da sociedade americana correrão o risco de serem vítimas da sinofobia.

“A competição EUA-China só vai piorar”, alega o relatório. “Para as empresas chinesas que vão para o exterior, as dificuldades encontradas pelo TikTok podem ser apenas o começo.”

Com informações de The Washington Post

Imagem destacada: Reprodução/The Washington Post