Gigantes da tecnologia estão divulgando novas ferramentas de inteligência artificial que, segundo elas, revolucionarão o trabalho, o aprendizado e a criatividade. Elas também têm outra coisa em mente: rejuvenescer as vendas em seus negócios de computação em nuvem.

As três maiores empresas de nuvem – Amazon, Microsoft e Google – colocaram o potencial da nova IA generativa no centro de seus discursos de vendas para tentar capitalizar a explosão de interesse em aplicativos como o ChatGPT.

O presidente-executivo da Microsoft, Satya Nadella, fez apresentações em reuniões de vendas na sede da empresa em Redmond, Washington, e no escritório de Nova York, sobre como as empresas podem aumentar a eficiência usando IA por meio do Azure, segundos fontes ouvidas pelo The Wall Street Journal.

O Google disse neste mês que venderia acesso a um de seus maiores programas de IA, o Pathways Language Model, para desenvolvedores de software que usam os serviços em nuvem da empresa. Seus clientes poderão usá-lo para criar coisas como chatbots personalizados ou ferramentas para resumir páginas da web.

Tanto a Microsoft quanto o Google também disseram que estão injetando a tecnologia de chatbot em seus programas de software de produtividade de escritório, como o Microsoft Word e o Google Docs.

O impulso da IA generativa acontece no momento em que as empresas estão lidando com desaceleração acentuada nos negócios de computação em nuvem – e, para a Amazon e a Microsoft, os centros de lucro.

Os analistas esperam que o crescimento da receita combinada da nuvem para as três grandes empresas suba 18% este ano. Isso é quase metade do crescimento que tiveram no ano passado.

A Amazon Web Services, o maior provedor de nuvem, registrou crescimento de vendas de 20% no último trimestre, o menor já registrado. A Amazon disse no início deste mês que demitiria nove mil funcionários em toda a empresa e destacou sua divisão de computação em nuvem como alvo dos cortes.

A Microsoft, que ocupa o segundo lugar atrás da AWS, tem alertado os investidores de que seus negócios em nuvem estão desacelerando. Nadella citou os clientes que limitam seus gastos com computação em nuvem para economizar dinheiro.

Os provedores de nuvem estão combinando promoções de serviços gratuitos com argumentos agressivos das equipes de vendas para atingir clientes atuais e potenciais que estão começando a usar IA generativa.

Enquanto as empresas de tecnologia há muito centram seus discursos nas últimas tendências em tecnologia, há otimismo de que a IA generativa pode inaugurar era de crescimento da nuvem.

O Google disse que sua oferta de software de IA – anteriormente disponível apenas internamente – estará inicialmente disponível para clientes selecionados por meio de sua nuvem e outros podem entrar em lista de espera.

“A IA será uma grande oportunidade de mercado”, disse Thomas Kurian, CEO da Google Cloud Platform. “Estamos nos estágios iniciais disso.” Judson Althoff, diretor comercial da Microsoft, disse que vê a IA como um acelerador para os clientes migrarem mais de seus sistemas para a nuvem. “Você está vendo uma tonelada de energia da força de vendas da Microsoft porque esse salto na IA generativa é real”, disse Althoff.

A KPMG vem reduzindo o crescimento de seus gastos com computação em nuvem nos últimos trimestres. Mas quando começou a trabalhar com o programa Azure OpenAI da Microsoft, que permite que as empresas incorporem a tecnologia OpenAI em seus próprios produtos, percebeu que aumentaria seus gastos com serviços de IA, disse Brad Brown, diretor de inovação da empresa de contabilidade.

“A IA é o vento favorável tão necessário que muitas empresas de nuvem esperavam. Isso vai impulsionar o consumo”, disse.

As startups de IA menores são potencialmente grandes novos clientes para provedores de nuvem porque precisam de abundância de poder de computação para desenvolver e executar seus aplicativos.

Cerca de 10% a 20% da receita gerada por aplicativos de IA generativa vai para empresas de nuvem, principalmente para os três maiores provedores, de acordo com estimativas da empresa de capital de risco Andreessen Horowitz.

Os provedores estão tentando atrair startups, dando-lhes amostra inicial gratuita de seus serviços. O Google mais que dobrou a quantidade de créditos gratuitos que concede a novos clientes de startups de IA, cobrindo agora até US$ 250mil em gastos no primeiro ano.

A Amazon planeja oferecer a algumas startups de IA até US$ 300 mil em recursos de computação gratuitos para se inscreverem em sua nuvem como parte de novo programa para startups de IA generativa.

Alguns gigantes da nuvem – como a Microsoft com a OpenAI – estão investindo em startups de IA para construir sua infraestrutura de computação de IA e se apresentar aos clientes como empresas que priorizam a IA.

A Anthropic, rival da OpenAI que também lançou novo modelo de IA no início deste mês, recebeu investimento de mais de US$ 300 milhões do Google este ano e concordou em tornar a unidade de nuvem da empresa sua provedora de infraestrutura preferida. A empresa de pesquisa também assinou acordo plurianual para gastar cerca de US$ 900 milhões em serviços de nuvem do Google.

A Amazon fornece acesso a modelos de IA criados por startups como a Stability AI, mas não chegou a fazer investimentos semelhantes. A empresa enfatizou aos clientes que oferece gama de opções em modelos de IA, disse Swami Sivasubramanian, vice-presidente da AWS. “A IA generativa não existe sem a nuvem”, disse ele.

Algumas empresas são céticas em relação ao campo. Em vez de depender exclusivamente de fornecedores externos, a startup de IA General Intelligent começou a comprar seus próprios chips gráficos para alimentar suas pesquisas. A empresa também desenvolveu uma ferramenta interna que pode distribuir trabalho para o serviço de nuvem mais barato a qualquer momento, disse Josh Albrecht, seu diretor de tecnologia.

“Existem todos os tipos de alternativas que não precisam ir com uma grande nuvem”, disse ele.

Ainda assim, os primeiros sinais indicam que o boom da IA está ajudando o negócio da nuvem. A Oracle, a quarta maior provedora de nuvem dos EUA, disse que um influxo de interesse de clientes que usam mais ferramentas de IA contribuiu para forte desempenho no último trimestre.

“Na verdade, há mais demanda por processamento de IA do que capacidade disponível”, disse o presidente da Oracle, Larry Ellison, durante uma teleconferência neste mês. “Estamos expandindo o mais rápido possível.”

Com informações de The Wall Street Journal

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