Em novembro de 2021, a NASA lançou ao espaço a missão DART (sigla em inglês para Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo), para colidir com um sistema binário de rochas espaciais a fim de testar um novo método de defesa planetária.

Após uma viagem de mais de dez meses, em 26 de setembro do ano passado, a espaçonave alcançou com maestria o objetivo de se chocar contra Dimorphos, a “lua” do asteroide Didymos, e desviar sua rota. 

O impacto foi registrado por diversos equipamentos (no espaço e em solo), além da própria sonda. Agora, cientistas do ESO (sigla em inglês para Observatório Europeu do Sul), uma organização intergovernamental de pesquisa em astronomia composta e financiada por dezesseis países, divulgaram os primeiros resultados dos registros que seus telescópios fizeram da colisão.

No vídeo acima, é possível ver a evolução da nuvem de detritos formada depois do choque, no período de um mês. “A animação baseia-se em uma série de imagens obtidas com o MUSE, no Very Large Telescope (VLT) do ESO”, diz o comunicado emitido pela organização, referindo-se ao instrumento Explorador Espectroscópico Multiunidades, presente no maior telescópio da associação, localizado no Chile.

Segundo o comunicado, a primeira imagem foi registrada exatamente no dia do evento, pouco antes do impacto, e a última foto foi tirada quase um mês depois, em 25 de outubro. 

Missão de proteção planetária contra impacto de asteroides

Embora nem Dimorphos (de 163 metros de largura) nem seu companheiro maior (medindo 780 metros), Didymos, estivessem em rota de colisão com a Terra, o procedimento foi um teste de defesa planetária de um método que poderá, eventualmente, nos proteger do ataque de outro asteroide que possa oferecer algum risco em potencial. 

Como a DART era um “cubo” com cerca de 1,3 metros de largura, pesando apenas 550 kg, para o asteroide a colisão foi mais equivalente a um “peteleco” do que a um chute do famoso ex-jogador de futebol Roberto Carlos. Ainda assim, o simples “empurrão” já foi suficiente para influenciar sua trajetória.

Uma semana depois da bem-sucedida ação, identificou-se que Dimorphos soltou nuvem de poeiras e partículas. Telescópios em solo detectaram que os detritos expelidos pelo objeto após a colisão criaram uma espécie de cauda, “transformando” a rocha espacial em um cometa.

Com o impacto, a sonda da NASA espalhou cerca de mil toneladas de detritos da rocha no espaço. Segundo a agência, o material ejetado é apenas uma pequena fração da massa de Dimorphos, estimada em cinco milhões de toneladas.

A força transferida para Dimorphos foi 3,6 vezes acima do que seria se a sonda tivesse sido absorvida pelo asteroide, sem ejeção de material. “Se você explodir o material um pouco fora do alvo, haverá força de recuo”, explicou Andy Cheng, cientista da missão e do Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins (JHU-APL). “O resultado dessa força de recuo é que você coloca mais impulso no alvo e acaba com deflexão maior”.

Asteroide desviado será investigado pelo menor radar já lançado ao espaço

Dentro de dois a quatro anos, a missão Hera, da Agência Espacial Europeia (ESA), vai conduzir pesquisas detalhadas in loco em Dimorphos e Didymos, com foco especial na cratera deixada pela colisão da missão DART e uma medição precisa da massa do asteroide atingido.

Na ocasião, uma pequena caixa de 10 cm entrará para a história como o menor instrumento de radar a ser pilotado no espaço – e o primeiro do tipo a sondar o interior de um asteroide. 

Instrumento JuRa, da missão HERA, projetada pela Agência Espacial Europeia (ESA) para examinar as consequências da deflexão do asteroide Dimorphos pela missão DART, da NASA. Imagem: Equipe JuRA / UGA

Este instrumento de radar, conectado a um quarteto de antenas de 1,5 m de comprimento, fará parte do CubeSat Juventas, que será lançado para Dimorphos a bordo da espaçonave Hera.

Segundo comunicado da ESA, os dados da missão Hera ajudarão a compreender o experimento de deflexão DART, para que a técnica possa ser repetida se um dia for realmente necessário.