O conceito central da DAO é brilhante e representa uma área onde as tendências tecnológicas, como inteligência artificial (IA), blockchain e a internet das coisas (IoT) estão se cruzando para criar novas possibilidades. Isso por enquanto. DAO significa Decentralized Autonomous Organization — ou Organização Autônoma Descentralizada, em português. Podemos dizer que as DAOs são comunidades como os grupos de Facebook, mas com uma conta bancária associada.
Hoje, já existem ou ainda existirão diversos tipos de DAOs, com objetivos, missões e visões diferentes. Um exemplo é a The DAO — uma das primeiras tentativas de construir uma rede financeira descentralizada (DeFi) para crowdfunding de capital de risco. Infelizmente, ela foi hackeada, resultando no roubo de US$ 60 milhões em tokens Ethereum. Isso gerou o fork na blockchain em duas cadeias separadas — Ethereum e Ethereum Classic.
Outros tipos de DAOs
Mas nem de longe essas ações chamaram mais a minha atenção do que esta que comento agora: um empresário ucraniano está tentando usar uma DAO para financiar o projeto de uma máquina do tempo de um professor tailandês. Seria um doutor Emmet Brown, do filme De Volta Para o Futuro?
Você já teve um desejo poderoso e tragicamente irrealizável de voltar ao tempo e mudar as coisas para melhor? Quem diz que não, mente.
Imagina poder voltar em pouco mais de uma década e comprar todo o fornecimento de Bitcoin? Você não o faria? Eu, certamente, sim. Ainda mais porque acredito na máxima que o investidor é o eterno arrependido.
Um dos filmes que mais marcou minha vida foi De Volta para o Futuro. Como Marty McFly conseguiu mudar a história da família dele e ainda se divertir — e quase deixar de existir no processo — é incrível. Sempre me interessei pelo tema “viagem no tempo”.
Então, você pode imaginar minha alegria quando li sobre um misterioso comunicado à imprensa enviado por um certo Alex Polischuk, um entusiasta de tecnologia baseado em Kyiv, anunciando algo que parecia muito com a solução para todos os males da humanidade:
Uma DAO recém-criada visa construir uma máquina do tempo (…) A equipe principal do DAO pretende arrecadar fundos para permitir que um professor tailandês realize sua invenção. (…) Muito recentemente, em 2022, uma equipe de cientistas do sudeste asiático inventou uma máquina do tempo, cujo trabalho é baseado em eletrodinâmica relativística e efeitos quânticos. A teoria por trás disso é descrita em alguns artigos publicados em periódicos revisados por pares (o que significa que foi aprovado por especialistas independentes).
Como um exemplo dessas análises de especialistas independentes, o texto estava vinculado a um artigo ligado à Chinese Optics Letters (COL), uma revista internacional focada na rápida disseminação das mais recentes descobertas e invenções em todos os ramos da ciência e tecnologia óptica.
O comunicado descreve ainda um roteiro completo para o projeto: a primeira etapa seria um protótipo “capaz de enviar para o futuro ou para o passado informações em vez de objetos materiais”, custando cerca de US$ 3 milhões. Em seguida, será construída uma “máquina do tempo completa capaz de transportar passageiros”.
Supostamente, o aparelho será construído na Tailândia, onde mora o professor de 64 anos, Preecha Yupapin. Se um número suficiente de entusiastas da máquina do tempo se envolverem, ela será uma co-propriedade, que é administrada por uma organização autônoma descentralizada, a DAO.
Há, é claro, uma criptomoeda. 20% do tesouro do DAO remuneraria a “equipe central”. Além disso, “qualquer pessoa em qualquer lugar pode contribuir e, assim, se tornar co-proprietário da primeira máquina do tempo da história da humanidade”.
Quanto o DAO pretende arrecadar?
Yupapin diz que “devido ao fato de que apenas o custo de construção da primeira máquina do tempo é conhecido, a meta de financiamento está configurada como ‘indefinida’.”
A máquina será baseada no chamado “conceito quântico do ciclo Rabi”. Traduzindo: “os níveis de energia são alterados do mais baixo para o mais alto e vice-versa”, até que ocorra o “colapso quântico” e uma “linha do tempo se abra para o futuro ou passado, dependendo da frequência.”
Ben Munster, um jornalista do site de Cripto Decrypt, foi atrás de Alex Polischuk, um empresário ucraniano que adora “observar o progresso tecnológico”. Questionado sobre as origens do projeto, ele disse que tudo começou em um grupo de viagem no tempo no Facebook, onde ele foi apresentado ao professor Yupapin, que já havia delineado os projetos de uma máquina baseada na teoria da relatividade de Einstein no Jornal de Tecnologia Industrial e Inovação.
Polischuk disse que tentou verificar a experiência do professor examinando vários artigos publicados. Ele garantiu que estava tudo certo e, então, concordou em apoiar financeiramente o cientista — o único pequeno problema era que ele não tinha dinheiro disponível. No entanto, o ucraniano teve um insight: lançar uma Time Machine DAO. A ideia foi fazer um crowdfunding. Os fundadores planejam lançar o DAO após uma blitz de marketing coordenada via Reddit, YouTube e Twitter.
Polischuk estima que a máquina do tempo levará apenas 11 meses para ser construída. Rápido, hein?
Agora, a questão crítica: de que tipo de viagem no tempo estamos falando aqui? Existem duas grandes escolas filosóficas da teoria da viagem no tempo, uma em que você não pode mudar o passado e outra em que você pode. No primeiro, o tempo é um ciclo fechado — futuro, passado e presente estão todos ligados, e voltar para “mudar” o passado é impossível; você só pode voltar e fazer o que sempre fez.
O artigo de Yupapin se concentra na segunda escola de pensamento: que mudar o passado bifurca a linha do tempo e produz um desdobramento paralelo com grandes diferenças.
Isso significa que a máquina do TimeMachineDAO permitirá, em teoria, que os usuários mudem o passado. Portanto, é um pouco alarmante que o uso da máquina também esteja nas mãos de um bando de degenerados incentivados por tokens, que, sem dúvida, aproveitarão a oportunidade para encher suas sacolas com BTC por volta de 2009 — exatamente como eu disse no início desse texto.
Dito isso, viagens no tempo de alto risco estão fora de questão, porque o professor Yupapin é uma “pessoa muito ética” e “não ficaria feliz”, diz o ucraniano.
O uso mais provável para a máquina será algo como “turismo de viagem no tempo” ou mesmo “imigração de viagem no tempo” — para, sei lá, hipsters que querem viver nos anos 60.
“Muitas pessoas gostariam de voltar ao passado”, refletiu Polischuk. “Alguns para uma excursão, enquanto outros querem ficar lá.”
Difícil discordar. E brincadeiras de comprar bitcoin em 2010 — ou não — à parte, duvido que exista alguém que não gostaria de voltar em uma data específica e fazer algumas coisas de forma diferente. Seria possível estudar mais, guardar mais dinheiro, valorizar mais as pessoas, etc.
E como já diria o próprio Dr. Emmet Brown, em 1985: “seu futuro ainda não está escrito, o de ninguém está. Seu futuro será o que você quiser, então faça dele algo bom”.
Seguimos atentos.
Fonte: Olhar Digital
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