Resident Evil 4, o original de 2005, foi o responsável por dar novos rumos para a franquia e transformar a jogabilidade dos games. Sua câmera over the shoulder (por cima do ombro) foi implantada em diversos jogos posteriores, influenciando diretamente jogos de ação e terror, como Dead Space, e inúmeros outros games de ação e aventura.
Resident Evil 4 (2023) conta com tudo de mais elogiado no original, e, sem nenhum exagero, consegue melhorar em todos os aspectos. O ritmo é ainda mais divertido. Os personagens e cenários importantes estão todos lá. Com um tom mais sombrio e sem deixar de admitir seu tom de galhofa, a Capcom adiciona muito mais conteúdo do que remove — algo que os fãs gostariam de ter visto nos remakes anteriores da franquia.
Principais pontos:
Personagens e atuações
Para quem não conhece, a história dos jogos é sobre o agente do governo Leon S. Kennedy, seis anos após os eventos de Resident Evil 2, indo resgatar Ashley Graham, a filha do presidente dos Estados Unidos. Ela foi levada à força para um vilarejo isolado de El Pueblo, na Europa. Logo de cara, Leon percebe que há algo de errado com a população local. Mais tarde, descobre que estão todos infectados pelo parasita Las Plagas, controlada pela seita religiosa de Los Illuminados.
Há poucas mudanças na narrativa e as mudanças pontuais são muito bem-vindas, pois ampliam o conhecimento sobre os personagens do jogo. É o caso de Luís Serra, personagem que no original tinha uma história muito limitada.
Para falar de história precisamos ressaltar as atuações primorosas dos atores — tanto de rosto como de corpo —, em especial dos protagonistas Ashley e Leon, mas também dos vilões Krauser e Ramon Salazar. A dublagem de Resident Evil 4 Remake é um trabalho de primeira mão. A versão em português soa natural e condiz com o que vemos na tela.
Mesmo com a excelente atuação, é na tentativa de dar mais personalidade aos personagens que o jogo falha. Leon é um personagem descontraído, verdade. Em diversas falas do original ele faz algumas piadas e dão o tom galhofeiro do jogo. Mas nesse remake, essa descontração não combina com os momentos de perigo e tensão impostos pela narrativa.
Em momentos em que eu estava num combate tenso sendo perseguido por inimigos, Leon soltava uma fala engraçadinha. Em uma das situações, o personagem estava com pouca vida e o protagonista soltou um “próximo”, como quem estivesse chamando mais inimigos. Não parece ideal.
Ashley é uma personagem que no original apenas gritava “Leon” a cada vez que era capturada. No remake, ela continua muito dependente do agente, mas em alguns momentos pontuais é mais proativa e toma ações que colaboram com Leon. Ainda assim, não espere que ela pegue uma arma e ajude no combate.
Cenários muito maiores, mais exploração e menos linearidade
Há momentos que são muito menos lineares. Apesar de saber exatamente o que fazer, há muitas possibilidades de exploração. Sempre dá vontade de andar um pouco mais pelos cenários procurando por bilhetes, encontrar mais detalhes sobre aqueles lugares e achar novos tesouros.
Alguns cenários fazem o jogador chegar ao mesmo destino do original por caminhos diferentes. Essas soluções são interessantes — afinal, muita coisa não vale ser aproveitada de um jogo de 18 anos atrás.
Durante a parte do castelo, em combate com um dos chefes, o cenário mais amplo torna o combate muito mais interessante do que simplesmente mirar em pontos fracos e desviar de ataques com quick time events.
Gráficos
Quem jogou Resident Evil Village sabe que a ambientação tem muita influência do RE4 original. Agora, com o remake, a sensação que fica é que há muita coisa de Village na vila europeia de El Pueblo. É muito provável que o jogo que dá sequência à história de Ethan Winters tenha sido desenvolvido já pensando nesse remake.
Não é tão assustador como alguns momentos de Village, mas o tom mais sombrio do remake, comparado ao original, torna tudo mais tenso. Às vezes, até surpreende o jogador com alguns sustos.
O trabalho da RE Engine nos cenários é surpreendente. Jogando no PC, a renderização dos cenários e personagens é muito boa. Dessa vez, temos a percepção que o tempo está passando e quando retornamos para alguns cenários dá para notar algumas mudanças.
A única exceção no trabalho gráfico que deixa a desejar é a água. A chuva não é nada natural, fica com uma aparência estranha ao cair em momentos escuros. Durante a batalha com o Del Lago, o reflexo e o movimento da água não são tão naturais quanto em outros momentos que o jogador interage com a água. São detalhes que não chegam a incomodar, mas soam destoantes em relação à qualidade geral dos gráficos do jogo.
Jogue de headset ou fone de ouvido!
O áudio 3D contribui nos combates e deixam muitas das cenas mais tensas. Mesmo cercado de inimigos, é possível saber em qual direção eles estão vindo. A trilha sonora também se destaca ao dar um ritmo eletrizante em boa parte dos combates.
Jogabilidade
A jogabilidade é muito mais dinâmica. Leon é um personagem mais ágil em relação aos protagonistas dos remakes do 2 e 3. A mudança de poder mirar enquanto anda implica numa inteligência maior dos inimigos. Nas primeiras horas de jogo, precisei de muita cautela para mirar e escolher em qual inimigo atingir primeiro.
O recurso de parry — rebater o ataque do inimigo com a faca — é um adicional capaz de evitar muitas mortes, mas não torna o jogo mais fácil. Afinal, a durabilidade das facas faz necessário saber quando usar e intercalar com as armas de fogo.
Outra novidade é a possibilidade de combate no modo stealth (furtivo), que em algumas situações permite eliminar um inimigo por vez sem acionar todos para cima de Leon. A inteligência artificial dos inimigos funciona bem quando o jogador opta por jogar dessa forma.
É uma boa reimaginação?
Como mencionado anteriormente, o jogo expande alguns conhecimentos que temos de personagens e aumenta os cenários, apresentando a possibilidade de explorar novas áreas. Mas, também, descarta alguns momentos do jogo original, e sinceramente… não fez falta. Não é igual ao Resident Evil 3 (2020), que tira partes essenciais do jogo.
Também falta a campanha Separate Ways (campanha sob a perspectiva de Ada Wong) no jogo base. No entanto, de acordo com rumores recentes, ela deve ser lançada posteriormente como uma DLC.
Com tantas adições de conteúdo, novas áreas para explorar, expansão de conhecimentos sobre personagens e um ritmo empolgante e tenso durante boa parte da jogatina, Resident Evil 4 (2023) faz tudo na medida certa ao adaptar de forma excepcional um jogo que mudou a indústria de videogames.
Resident Evil 4 (2023) assume o posto de Resident Evil 2 (2019) como o novo padrão de qualidade em remakes no geral. O game aumenta a expectativa para os próximos jogos da franquia. Espero ansiosamente por um remake de Code: Veronica, mas também aceito um de Resident Evil 5.
Fonte: Olhar Digital
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