O espiral de decepções não tem fim para a torcida do Santa Cruz. Uma derrota para o infame Íbis, a primeira em quase seis décadas, já seria o suficiente para mais uma noite difícil. Porém, o Santinha parece insistir em ressignificar a expressão “fundo do poço”. A primeira vez que chegou lá foi em 2009, na Série D, e parecia que não poderia ser pior, mas pode. O resultado no Campeonato Pernambucano deixa o Santa Cruz na iminência de não disputar uma divisão do futebol nacional pela primeira vez na história.
A derrota para o Íbis, por 3 a 1 na terça-feira, impossibilita que o Santa Cruz ultrapasse o Petrolina na classificação do estadual. Hoje 5º colocado, o clube já não depende mais de si no Pernambucano para classificar para a Série D de 2024.
Ainda há esperança para o Santa Cruz não ficar sem divisão nacional em 2024. Na verdade, o pensar tão à frente parece já pressupor um fracasso em uma competição que sequer se iniciou: a própria Série D deste ano.
O cenário mais simples para o Santinha ter divisão no ano que vem é fazer o que a torcida mais espera, ou seja, expurgar pela quarta vez a Série D. Caso o clube consiga o acesso para a Série C, alcançando as semifinais da 4ª divisão, todo esse vexame do primeiro trimestre sequer terá alguma importância.
Ainda sobre a Série C deste ano, caso o Santa Cruz não consiga resolver seu próprio problema, pode contar com uma ajuda caseira. O Retrô, que garantiu vaga para a Série D de 2024 por ser o 2º melhor colocado da primeira fase do Pernambucano, pode não precisar desta vaga se conseguir o acesso para a 3ª divisão. Neste cenário, o Santa Cruz herdaria a vaga que o rival “roubou” neste primeiro momento.
Por fim, outra possibilidade de contar com terceiros é que exista alguma desistência desses clubes que conquistaram a vaga para a Série D (Retrô e Petrolina). O fato não é incomum, dado as questões financeiras e logística, o que leva muitas vezes, em diferentes estados, que clubes mais tradicionais acabem por abocanhar a vaga após a desistência de outros.
Presente no cenário de divisões nacionais desde 1971, o Santa Cruz construiu ao longo dos anos uma marca tradicional, que aos poucos foi se esvaziando. A nível histórico, é possível dividir em três grandes ciclos as passagens da Cobra Coral pelas divisões do futebol brasileiro.
Entre 1971 e 1981, o Santa Cruz disputou as 11 primeiras edições do Campeonato Brasileiro. Dentro desse período, inclusive, conseguiu sua melhor classificação, quando chegou à semifinal em 1975. Nesse primeiro intervalo, o Santa Cruz foi o clube do estado de Pernambuco mais presente na elite nacional.
A primeira vez que o Santinha disputou uma divisão inferior foi em 1982, e aí pode-se considerar um marco do período “entre divisões”, ou numa gangorra entre Série A e B – ainda que no passado não existissem esses nomes. Entre 1982 e 2006 passaram-se 23 edições de brasileiros, e o clube ficou menos da metade delas na elite, nove anos, sendo o maior período entre 1989 e 1992. O ano de 2006 é o marco temporal para o fim deste período porque foi quando aconteceu a primeira grande queda do time.
O Santa Cruz passou três anos na Série D, parecia não conseguir se levantar, mas o fez. Em 2012 voltou para a Série C, em 2014 chegou na B e, por mais improvável que fosse, voltou à elite em 2016. Aquele respiro de sucesso não durou muito, e tudo desmoronou novamente, com seguidos rebaixamentos e a chegada à Série D de 2022. Agora, em 2023, a Cobra Coral até parece ter outros caminhos além do acesso para a Série C. Porém, há hábitos que é melhor não se acostumar. É melhor não acreditar que exista, de fato, um fundo do poço.
Fonte: Ogol
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