Sexta-feira, Novembro 22, 2024
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No acolhimento e na luta, Suzi e Carlos são pessoas trans que fazem a diferença em MS

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Suzi Pereira, 48 anos, é uma mulher trans que resolveu oferecer aos outros aquilo que ela não encontrou: acolhimento. Carlos Eduardo, de 31 anos, é o cara que abraçou a causa pet ao lado de protetores de animais trazendo a pauta para dentro do Governo de Mato Grosso do Sul.

É a narrativa deles que ilustra este 31 de março, o Dia Internacional da Visibilidade Trans, data que marca a luta do movimento de travestis e pessoas trans.

Mato Grosso do Sul é referência em políticas públicas para a população LGBTQIA+ e, antes mesmo de existir a Subsecretaria, o Governo do Estado já havia criado o Centro Estadual de Cidadania LGBT+ para atender à comunidade, coletar dados, além de emitir a carteirinha com nome social.

O atual coordenador do Centro, Jonatan Araújo, explica que a função hoje é mais ampla e inclui mobilizar secretarias e órgãos do Poder Público, além de fazer a orientação para retificação de nome ou gênero, e coletar denúncias.

“Nas datas comemorativas, trabalhamos promovendo questões afirmativas. Não é à toa que estamos em segundo lugar nas pesquisas de Estado que mais têm políticas públicas, e o Centro tem um papel relevante nas proposições e intervenções técnicas”, ressalta Jonatan.

Para o subsecretário de Políticas Públicas LGBT+, Vagner Campos, o dia como o da Visibilidade Trans é o reconhecimento de lutas históricas. “Para a população LGBTQIA+ é muito importante ser visível, porque quando se torna visível, as pessoas olham e isso se torna visível também para o Poder Público, que passa a enxergar uma população que demanda direitos”, frisa Vagner.

Suzi Pereira

Foi em Aquidauana, a 141 quilômetros da Capital, que Suzi Pereira arregaçou as mangas para limpar e fazer da casa da avó já falecida, no Bairro Serraria, uma morada que acolhesse a todos.

Mulher trans, nascida no município, a vendedora de pastel abriu na cara e na coragem uma casa de acolhimento para a comunidade LGBTQIA+, depois de anos vivendo sob a discriminação.

“Criei uma ONG para atender pessoas iguais a mim, que sou uma mulher trans, para levar o acolhimento que eu não tive. Eu procuro dar às pessoas aquilo que não me deram, que foi amor, carinho. A dificuldade faz a gente sofrer junto com as pessoas”, diz.

Às vésperas do Dia da Visibilidade Trans, a voz de Suzi era só felicidade por ter recebido ações sociais e de saúde com atendimento médico e do Cras (Centro de Referência em Assistência Social) do município de Aquidauana.

Por telefone, Suzi descreve uma casa simples, mas que já foi teto para mais de 30 pessoas ao longo de quase dois anos de funcionamento.

“Chama Igualdade para Todos. Era uma casa abandonada da minha avó. Achei um amigo que me ajudou com a maior dificuldade que é fazer a documentação. Ela está precária, mas funcionando e hoje as pessoas veem com outros olhos. Tudo limpinho, bem organizado”, enfatiza.

Para Suzi, o dia de visibilidade é como celebrar mais um aniversário. “Pra gente é uma vitória, chegar aonde a gente chegou. É um dia a ser comemorado diante de tanto sofrimento e preconceito que ainda existe. Hoje eu sinto orgulho de ser uma mulher trans que está mudando a vida de muitas pessoas”.

Carlos Eduardo

Na defesa dos amigos de quatro patas, Carlos Eduardo Leite Rodrigues, de 31 anos, é hoje o único homem trans a ocupar uma assessoria especial dentro do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, e a de Defesa e Proteção da Vida Animal.

Nascido em Campo Grande, Carlos foi criado no interior do Estado de São Paulo e sempre foi uma criança apaixonada pelos animais. “Não podia ver um bicho na rua que já queria levar pra casa. Eu pegava e minha mãe doava. Eu chorava, e lá íamos buscar de volta”, conta.

Inconscientemente, Carlos Eduardo estava semeando o que viria a florescer no futuro, a luta pela causa animal. Na juventude, ele resolveu se mudar para Goiás, onde encontrou mais que um emprego: uma paixão, a de trabalhar com banho e tosa de pets.

Carlos durante evento da causa animal, em Campo Grande

Anos depois, ao retornar para Campo Grande, Carlos não só se especializou como passou a ministrar cursos de banho e tosa e a empreender na área. Foi este caminho que o levou até o trabalho das protetoras independentes.

De perto, Carlos viu que muitas delas repartem a própria comida com os animais, na falta de ração, e assim criou projetos e feiras de ação até chegar o convite para trabalhar na Assessoria Especial de Defesa e Proteção da Vida Animal, ligada à Setescc (Secretaria de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania).

“O nosso lugar como pessoas trans é onde quisermos estar. Nós precisamos entender que nosso lugar é em todos os lugares. Estar aqui é mostrar que não podemos desistir, não. Eu sei na pele o quanto é difícil e que não podemos esquecer que somos capazes de tudo”, resume Carlos.

Paulinha Maciulevicius, Comunicação Setescc
Fotos: Arquivo Pessoal

 

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