Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão desenvolvendo um projeto que usa Inteligência Artificial (IA) e o Twitter para tentar prever depressão e ansiedade. Através de modelos de predição, os cientistas querem, no futuro, conseguir antecipar os transtornos antes do diagnóstico.

Etapas da pesquisa

Inicialmente, fizemos uma coleta nas timelines em um trabalho artesanal, analisando textos de cerca de 19 mil usuários do Twitter, o que corresponde quase à população de uma pequena cidade. E depois usamos dois conjuntos — uma parte de usuários realmente diagnosticados com transtornos mentais e outra aleatória, que serviu de controle. Queríamos diferenciar pessoas com depressão e a população em geral.

Ivandre Paraboni, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH-USP) e autor do artigo

IA para prever depressão

Pesquisas já mostraram que transtornos mentais muitas vezes refletem na linguagem dos indivíduos. A maioria dos estudos envolvendo o Processamento de Linguagem Natural (NPL, na sigla em inglês), porém, ficou restrita à língua inglesa e nem sempre reflete o perfil brasileiro.

Para realizar a pesquisa, os cientistas da USP submeteram os textos coletados a um procedimento de pré-processamento e limpeza de dados, que removeu hashtags, hiperlinks, emojis e caracteres fora do padrão, mas manteve a escrita original.

Depois, o grupo usou métodos de aprendizado profundo (deep learning), que criou quatro classificadores de palavras. Os modelos são baseados no algoritmo BERT e aprendem o contexto e significado das palavras a partir do monitoramento de dados sequenciais, como os componentes de uma sentença.

Foram analisados 200 tweets de cada usuário, escolhidos aleatoriamente e mantidos em anonimato. O método do BERT se saiu significativamente melhor que o mecanismo usado como segunda opção, a LogReg.

Os indicativos de depressão que aparecem no consultório não são necessariamente os mesmos que estão na rede social. Por exemplo: percebemos, de maneira bem forte, o uso na rede de pronomes na primeira pessoa, como “eu” e “mim”, o que na psicologia é um indicativo clássico de depressão. Mas também constatamos uma incidência alta entre os usuários depressivos da utilização do símbolo de coraçãozinho, o emoji da afetividade, que talvez ainda não esteja caracterizado na psicologia.

Ivandre Paraboni

Próximos trabalhos dos cientistas

Agora, os pesquisadores trabalham para refinar a técnica computacional e aprimorar ainda mais os modelos. No futuro, eles esperam ter uma ferramenta que possa ser aplicada na prática. Entre as funcionalidades, a pesquisa pode, por exemplo, auxiliar em uma eventual triagem de pessoas com indicativos de transtornos mentais ou prestar ajuda a pais e familiares dos indivíduos.

Mais informações

Com informações de Agência FAPESP e Language Resources and Evaluation

Imagem: geralt (Pixabay)