Mude a Cidade
Ouça ao vivo
Mude a Cidade
Ouça ao vivo
Republicano cresceu nas pesquisas eleitorais para as eleições de 2024 após as acusações de suborno e ultrapassou seu principal adversário; especialistas afirmam que ele vai usar o processo para reforçar sua narrativa de que é um lutador contra o sistema
O indiciamento do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump dominou o noticiário mundial nesta semana. O ocorrido, algo inédito na história do país – ele foi o primeiro mandatário a virar réu -, chamou a atenção para o rumo que o processo levaria e o quanto poderia impactar na política norte-americana e nas eleições de 2024, à qual o republicano já lançou sua candidatura para concorrer ao segundo mandato. A questão é que, mesmo se for condenado, ele ainda poder ser eleito e assumir o cargo, porque a lei dos Estados Unidos permite. A Constituição só não autoriza servir como funcionário público se tiver participado de uma “insurreição” ou de uma “rebelião” contra o país, o que não se encaixa no caso deste julgamento, porque diz respeito a casos de suborno para encobrir crimes de campanha, diferente das investigações a respeito da invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Em dezembro de 2022, um comitê da Câmara dos Estados Unidos recomendou aos promotores federais que acusem Donald Trump de obstrução de um processo no Congresso e insurreição por seu papel no ataque. O ineditismo do fato ainda vai render muitas nuances. A próxima audiência está prevista para 4 de dezembro, mas uma coisa é certa: o processo de Trump o fortaleceu para as eleições de 2024, porque além de crescer nas pesquisas e passar o seu principal adversário, Ron DeSantis, governador da Flórida, ele voltou para onde mais gosta de estar, no centro das atenções.
“Trump tem crescido e sua base ficado mais ativa. Tivemos um período em que ele esteve ausente, e, de repente, nessa semana tudo o que se fala é Donald Trump. Isso, de uma forma ou de outra, vai fazer com que seu eleitorado se junte de novo”, explica Guilherme Thudium, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor político. Já Kai Enno Lehmann, professor associado do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que o republicano tem uma base muito leal e uma característica crucial: a consistência de suas mensagens. “Desde que entrou na política, ele defende que é um lutador contra o sistema que é contra ele e pessoas comuns dos EUA. Essa mensagem soa muito forte no país. Trump vai instrumentalizar essas acusações para reforçar essa mensagem”. Após o julgamento da terça-feira, 4, o republicano voltou para Flórida e fez um discurso para os apoiadores, onde criticou o atual presidente Joe Biden e sua família, culpou o FBI e redes sociais como Twitter e Facebook por sua derrota nas eleições presidenciais de 2020 e alegou ser vítima de uma campanha de “investigações falsas”. “Eu nunca pensei que nada como isso fosse acontecer nos Estados Unidos. O único crime que cometi foi defender a nossa nação daqueles que tentam destruí-la”, declarou.
Apesar de ter ganhado força, Michelle Meneses, advogada e cientista política, ressalta um ponto crucial: a situação do ex-presidente dos EUA no Partido Republicano. “Com sua narrativa de vítima do sistema, falando para sua plateia de apoiadores extremistas, Trump sai fortalecido. Porém, para a política americana, principalmente para o Partido Republicado, ele se encontra em uma situação complicada e, certamente, chegará fragilizado para disputar as prévias do partido para a eleição presidencial de 2024”. Ela ressalta que apesar dos números atuais serem favoráveis para o ex-mandatário, “ainda é muito cedo para uma avaliação se Trump será ou não candidato à presidência, porque ele deverá enfrentar outros processos judiciais, o que tende a desgastar bastante sua imagem perante a opinião pública e o próprio partido”. Leonardo Paz, analista de Inteligência Qualitativa do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), enfatiza o pensamento da advogada dizendo que Trump está utilizando esse processo para se vitimizar e mostrar que é uma perseguição política e que os democratas estão usando o Judiciário. “A campanha que ele está fazendo de vitimização está dando certo, porque ele conseguiu um acréscimo de popularidade, a grande questão é quanto tempo isso vai durar”.
O analista também fala sobre como ficariam os processos caso o republicano fosse eleito. “Os federais temos estimativas de que vão ser suspensos ou extintos, porque o procurador é federal e a probabilidade deles processarem um presidente em exercício é baixa”, porém, ele também fala que no caso estadual é diferente, porque eles têm menos estímulos para abandonar o processo. “O que acontece é que nos EUA a Constituição é simples e não prevê muitas coisas. Nela, diz que você pode ser presidente mesmo estando preso” e que se ele for condenado antes dos resultados finais – algo que todos os especialistas acham difícil de acontecer – ele pode conduzir a campanha mesmo da cadeia. Porém, caso isso aconteça, o Congresso declara impeachment ou o ministério abre um processo para removê-lo do cargo, dizendo que eles está incapacitado de exercer o cargo”, explica o analista.
Vale lembrar que este julgamento pode não ser o único a envolver Donald Trump. Isso porque um promotor independente está investigando o possível papel do ex-mandatário na invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, assim como seu manuseio e custódia de documentos confidenciais após deixar a Casa Branca. No estado da Geórgia, ele está sob investigação por pressionar funcionários a anularem a vitória de Joe Biden em 2020 lá com um telefonema gravado em que pede ao secretário de Estado que “encontrasse” votos suficientes para reverter o resultado. Apesar de nenhum dos casos ter relação com o atual, os especialistas acreditam que este indiciamento dá força para os demais. “Pelo menos por enquanto vai dar um impulso para as outras investigações e fortalecê-las. Mas como isso vai desenrolar, vai depender muito do desfecho do processo de agora”, diz Kai Enno. “Muita gente fica receosa de processar um presidente. Esse processo abre a porteira e outros procuradores poderiam se sentir mais à vontade para realizar”, afirma Leonardo Paz.
Guilherme Thudium vai além e diz que o que está acontecendo com o republicano agora, apesar de ser inédito na história do país, não é surpreendente. O consultor político afirma que o caso é histórico e paradigmático e que esse tipo de coisa vai ser cada vez mais comum, porque temos meios de comunicação instantâneos e as pessoas estão sempre procurando algo para prejudicar um adversário e provar atitude incorreta de um líder. “Hoje, todos os líderes caminham na linha tênue do poder público e de qualquer incorreção, e Trump deu muitos motivos para ter essas acusações, construiu muitas inimizades”, diz Thudium. Michelle Meneses finaliza o pensamento dizendo que “ao longo dos quatro anos de seu mandato presidencial, Donald Trump insultou, ofendeu, atacou, manipulou e conspirou contra a democracia do seu próprio país. Ele é o maior exemplo de “Engenheiro do Caos” do século XXI”, finaliza.
Fonte: Jovem Pan News
Comentários