Desde que o ChatGPT foi lançado, a Inteligência Artificial generativa, aquela que é capaz de criar vários tipos de conteúdo, despontou como uma inovação em diversos âmbitos. Agora, a IA pode ler na voz de uma pessoa que já faleceu.
Foi o que aconteceu com Edward Herrmann, um ator que narrou dezenas de audiolivros e morreu há 10 anos. Isso não impediu que ele voltasse a dar voz a livros recentes.
Entenda o caso
O trabalho mais recente de Herrmann como narrador foi gerado pela DeepZen Ltd., uma startup de IA. Com a permissão da família, a empresa teve acesso a gravações anteriores do ator e, a partir dos arquivos, conseguiu replicar a voz para que ele lesse novos audiolivros, com diferentes sons e entonações, como se fosse o próprio Herrmann.
O filho de Edward Herrmann, Rory Herrmann, disse que ficou impressionado ao ouvir a voz do pai novamente.
Sentimos que era uma maneira incrível de continuar seu legado. É um momento ‘uau’.
Rory Herrmann
Mercado de narração por IA
IA: prós e contras
Charles Watkinson, diretor da University of Michigan Press, disse que a editora produziu cerca de 100 audiolivros na plataforma de narração automática do Google e que a nova tecnologia foi o que tornou isso possível. Antes, os custos de um estúdio, narradores humanos e uma equipe de suporte impossibilitavam a produção.
A escritora Simi Linton também aderiu a uma voz sintética para narrar seu livro de memórias My Body Politic, sobre sua vida como uma mulher deficiente. Ela diz não gostar de “Mary”, a voz artificial escolhida pela University of Michigan Press, mas que concordou com o uso de IA para tornar o livro mais acessível.
A razão pela qual concordei em fazer essa criação sintética foi aumentar a acessibilidade do meu livro para leitores cegos e pessoas com outras deficiências.
Simi Linton
Do outro lado, apesar dos benefícios e da democratização do processo de produção de um audiolivro, a narração via IA geradora pode, futuramente, diminuir a necessidade de vozes humanas e atrapalhar o trabalho de narradores profissionais.
IA vai extinguir narradores?
Segundo o CEO e cofundador da DeepZen, Taylan Kamis, a empresa contratou mais de 30 atores profissionais para ajudar o mecanismo de IA a capturar os níveis de emoção humana. Ou seja, os narradores ainda são necessários.
Melissa Papel, uma atriz francesa, foi uma delas. Ela diz ter gravado conteúdo para a DeepZen lendo livros no idioma em diferentes entonações. E foi isso que ajudou a empresa a ter uma ferramenta automatizada que pudesse imitá-la. Papel, porém, acredita que esse processo é inicial e pode se extinguir posteriormente, quando as IAs já estiverem configuradas.
Jeffrey Bennett, conselheiro geral da Screen Actors Guild-American Federation of Television and Radio Artists, um sindicato nacional que representa artistas, inclusive narradores profissionais, disse que a IA pode atrapalhar a indústria artística e de narração de audiolivros. Ele está trabalhando para proteger os direitos de voz e imagem dos profissionais.
Já a Audible, empresa de audiolivros, está avaliando a abordagem.
A narração profissional sempre foi e continuará sendo essencial para a experiência de audição Audible, mas vemos um futuro em que performances humanas e conteúdo gerado por conversão de texto em fala podem coexistir.
Porta-voz da Audible
As inovações da IA generativa vêm em meio a uma carta aberta pedindo por uma pausa nas pesquisas, para que o risco seja avaliado, e por demissões de equipes de éticas.
Com informações de The Wall Street Journal
Imagem: Shutterstock
Fonte: Olhar Digital
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