A Itália e a Sicília estão separadas por uma faixa de água com um pouco mais de 3 quilômetros conhecida como Estreito de Messina, e o transporte de pessoas, veículos e outros produtos até hoje é feito pelo mar, através de balsas. Agora uma ponte deve ser feita para ligar os dois lugares e terá o maior vão suspenso já construído.

A ideia de construir algo que ligasse a Sicília ao continente não é uma ideia nova e remonta desde o ano de 250 a.C. De acordo com o historiador grego Estrabão, quando os romanos venceram uma batalha em Palermo eles precisavam transportar 100 elefantes capturados  para Roma e usaram barris vazios e pranchas de madeira para construir o trajeto sobre o mar. 

Os animais chegaram no destino, mas a história não registra se foi pela ponte, isso por causa dos fortes ventos e correntes existentes no estreito. Mas agora, mais de dois milênios depois, o governo italiano pode finalmente assinar a construção dessa ligação.

Orçamento e questões políticas

As primeiras ideias de reviver o projeto de algo que ligasse os dois lados do estreito começou em 1866 um pouco depois da unificação da Itália, em 1861. A ideia inicial era construir um túnel subterrâneo, mas era muito caro, foi aí que o sistema de balsas foi implementado, em 1896.

A intenção de construir uma ponte veio em 1950 e até um concurso para decidir o projeto foi feito, mas nenhum dos aprovados passou da fase conceitual. Na década de 90 a obra finalmente parecia sair do papel, mas até 2008 as trocas de liderança do país entre a direita, que apoia a construção, e a esquerda, que é contra, fizeram com que a obra não fosse alavancada. 

Em 2008 o projeto mais uma vez foi retirado da gaveta e iria custar cerca de 8,5 bilhões de euros, mas uma crise que assolava a zona do euro, fez com ele fosse cancelado em 2013.

De acordo com Nicola Chielotti, professora de diplomacia e governança internacional na Universidade de Loughborough, em Londres, em resposta à Wired, todas essas idas e vindas tem o motivo. “Eles gastam dinheiro constantemente e mesmo que nunca se concretize, há alguns grupos de interesse que ficam felizes em captar esse dinheiro.” 

Agora o projeto mais uma vez foi retirado da gaveta, e o vice-primeiro ministro da Itália que encabeça a ideia, Matteo Salvini, está dizendo que dessa vez a construção da ponte não vai ser parada.

Projeto da ponte

A ponte que vai ser construída é a mesma do último projeto cancelado, podendo contar com algumas atualizações quanto a materiais e tecnologias. Uma ponte pênsil, sustentada por cabos, assim como a Golden Gates, de vão único com 3300 metros de extensão, que será o maior já construído. Até 2022 o posto era da Ponte Akashi-Kaikyo, no Japão, com 1991 metros, quando foi inaugurada a Çanakkale, na Turquia, com 2023 metros.

O ministro da Infraestrutura, Matteo Salvini, ao lado de um modelo da ponte suspensa planejada sobre o Estreito...
Ministro da Infraestrutura e Vice-primeiro Ministro da Itália, Matteo Salvin, explicando sobre o projeto da construção da ponte que vai ligar os dois lados do Estreito de Messina no programa de televisão “Cinque minuti” da RAI TV (Credito: RAVAGLI/FUTURE PUBLISHING)

A ponte do Estreito de Messina, também será a mais alta do mundo com 380 metros de altura.

Inicialmente, a ponte seria construída com três vãos, com dois pilares construídos sobre o mar, mas devido às fortes correntes do estreito, isso poderia apresentar um risco à navegação.

O vão único tem a vantagem de os pilares serem construídos em terra. O único problema pode ser o comprimento, que com mais de 3 quilômetros é certamente uma novidade. O principal problema é o vento, mas o projeto do túnel de vento foi aperfeiçoado e tenho certeza de que ele pode ser construído com segurança e sucesso.

Giuseppe Muscolino, professor de engenharia da Universidade de Messina, que fez parte de um comitê científico governamental sobre a ponte desde 2012

A construção que vai ligar a Sicília à Itália levará em torno de 6 a 10 anos, segundo Muscolino, mas alguns engenheiros estimam que ela possa ser construída em ainda menos tempo, e tem previsão para ser iniciada no verão de 2024.

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